Parte 1: Quando você realmente precisa de um banco de dados geográficos?

Certamente um dos temas mais complicados na integração TI+GEO é o Banco de Dados Geográficos (BDG). Ao contrário do que muitos pensam, este assunto não é um desafio apenas para profissionais da área geo. Quem é da área de TI não tem em sua formação tradicional todos os conceitos e técnicas necessários para projetar e implementar um BDG. Sobre este cenário, serão explicados nesta e nas próximas colunas diversos pontos importantes sobre BDG. Porém, certamente, não será um guia definitivo. A leitura complementar, que infelizmente é escassa, é de forte recomendação para quem desejar se aprofundar no tema.

Primeiramente, quando precisamos de um BD? Existem algumas formas de responder a esta pergunta, então vamos à explicação baseada em funcionalidades. Quando entraram em operação os primeiros computadores eletrônicos, na metade do século passado, já se apresentava a necessidade de armazenar os resultados processados para uso e acesso posterior. Começou a se obter consideráveis volumes de dados para o padrão de hardware da época, nascendo então os primeiros estudos de como armazenar e recuperar de forma eficiente os dados contidos em uma base.

Também se deve considerar que muitos dados gerados possuem inter-relações, e mudar um dado pode ter efeito em outros. Não manter essas relações resulta em inconsistências. Para completar as funcionalidades que justificam o uso de um BD ou BDG, na atual Era da Conectividade, é necessário manter a segurança de acesso aos dados e gerenciar vários usuários acessando e editando simultaneamente um mesmo dado.

Necessitamos, então, de um sistema computacional especializado a fim de dar segurança ao acesso, manter os dados consistentes e garantir um bom desempenho, robustez, acesso e manipulação dos dados. Esse software se chama Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD). Quando esse sistema é capaz de armazenar e trabalhar com dados geográficos, colocamos um “-G” de geográfico no final, ficando SGBD-G. Entre as principais soluções de SGBD-G hoje no mercado, destacam-se o ArcSDE da empresa Esri, o Oracle Spatial da própria Oracle Corporation, e o PostGIS representando os softwares livres. Ressalta-se que é necessário um hardware que forneça recursos ao SGBD, como capacidade de processamento e armazenamento. Sendo assim, os computadores que possuem um SGBD costumam ser servidores especializados.

Ressalta-se que instalar e gerenciar um SGBD requer conhecimentos específicos, que são abordados hoje apenas na formação de TI. Entretanto, para se gerenciar um SGBD-G é necessário conhecimentos complementares, alguns mais alinhados com a formação do profissional de GEO.

Trazendo outra leitura sobre as justificativas no uso de um BDG, ele se faz necessário em organizações que precisem melhorar a gestão da geoinformação. Quando há demanda em centralização, compartilhamento e padronização de dados geográficos, o BGD é uma boa solução e talvez se possa dizer até uma imperativa solução. Como eu costumo brincar em sala de aula com os alunos, cai o império dos arquivos em disco, que são comumente no formato Esri Shapefile. Se sai do “bando de dados” para o banco de dados.

Ao longo da história da computação moderna foram propostos paradigmas de estruturação de BD, a citar os principais: rede, hierárquico, relacional e orientado a objeto. O paradigma que impera quase unânime na última década é o relacional, onde os dados são armazenados em tabelas e as relações representadas por igualdade de atributos entre elas. Hoje há debates sobre a aplicação do paradigma orientado a objetos, inclusive para BDG. Detalhes sobre os paradigmas serão expostos em um artigo posterior.

Quando se trata de BD, ainda mais BDG, se faz necessário uma boa documentação sobre a estrutura do mesmo. A base de dados pode ser diversificada, gerando várias tabelas e relações, que precisam ser documentadas para facilidade de manutenção e compartilhamento do banco. A modelagem de banco de dados geográficos será o assunto do próximo artigo. Até lá!

 

José Augusto Sapienza Ramos
Coordenador Acadêmico do Sistema Labgis. Professor do Departamento de Geologia Aplicada da Faculdade de Geologia da UERJ. Formação na área de Engenharia e Ciência da Computação, atua há mais de 12 anos na área de Geotecnologias com pesquisa, ensino e consultoria