Por Eduardo Freitas | Imagens: Ricardo Alves (Cobertura Fotográfica)
Zona Azul é o ganhador do Hackathon USP Cidades
A compra dos cartões de estacionamento na cidade de São Paulo parece ser um dos principais problemas dos motoristas, pois este foi o tema de dois entre os seis projetos desenvolvidos no 1º Hackathon USP Cidades: Desafios Urbanos em Firefox OS, que aconteceu nos dias 9 e 10 de novembro na capital paulista, uma parceria entre o USP Cidades e a Telefonica Vivo, com apoio da Oracle, Pepsico, secretarias e departamentos públicos do Governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo.
A Revista MundoGEO esteve presente no evento para conferir como os desenvolvedores usaram os dados fornecidos com o objetivo de desenvolver interfaces, mapas, animações, aplicativos para web ou celular, que pudessem contribuir para a gestão da cidade e a experiência urbana.
Maratona
Como não havia tempo a perder, a maratona de programação teve início no sábado ao meio-dia, com palestras da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), USP Cidades, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), SP Trans e Instituto Lemman, que abordaram as bases de dados disponibilizadas e os principais problemas enfrentados para a plena utilização das mesmas. Também foram detalhados quais seriam os critérios de avaliação e os prêmios, e logo após houve a criação dos grupos – que pela proposta do evento deveriam ser multidisciplinares – e o início do Hackathon.
Para Filipe de Figueiredo Oliveira, da Telefonica Vivo, o maior desafio para a organização de um Hackathon dessa natureza é disponibilizar os dados públicos para que os desenvolvedores possam trabalhar em suas aplicações. “O Hackathon USP Cidades cumpriu seus objetivos, tendo em vista as soluções criativas que surgiram entre os participantes, tanto para driblar as dificuldades de uso dos dados quanto para o desenvolvimento de aplicativos relevantes para as cidades”.
Segundo Adilson Piveta, da Emplasa, um dos desafios foi a definição de temas que representem anseios da sociedade e que possam proporcionar melhoria das condições de acesso a informação, facilitando seu dia-a-dia. “Em se tratando de questões urbanas, deve-se ter atenção especial aos dados disponibilizados aos partícipes desenvolvedores no que tange aos temas propostos e ao grau de desagregação dos mesmos. Deve-se garantir, mesmo que minimamente, grau de correlação entre os dados e os temas propostos, bem como observar o grau de detalhamento dos dados em face de escala de detalhamento que o ambiente urbano exige”. Para ele, no caso de dados públicos, tem-se como desafio a interlocução e articulação dos diversos órgãos envolvidos detentores dos dados, cada qual com sua política de cessão de dados, para que contribuam com o evento.
Dados: problema ou solução?
Um problema inicial encontrado pelos participantes foi o acesso aos dados, já que eram 200GB de informação que deveriam ser baixados para análise e definição da linha de trabalho a ser seguida. Para a participante Elaine Soares, a disponibilidade de Web Services (WS) que contemplassem a heterogeneidade dos diferentes bancos de dado, poderia ser uma solução. “Neste contexto, a implementação de aplicações que utilizam WS permite resolver os problemas de interoperabilidade, interligação com aplicações já existentes e, através da utilização dos recursos móveis, ter acesso às funções de controle necessárias a partir de qualquer local e a qualquer momento, bastando o usuário dispor de sistemas compatíveis”.
O perfil do público era muito heterogêneo, com estudantes e profissionais das áreas de Ciência da Computação, Design, Arquitetura e Urbanismo, entre outras. Tanto os participantes como os organizadores encontraram um problema que é recorrente em algumas instituições públicas: a falta de padronização dos dados, o que gerou muito trabalho manual para conversão em formato de banco de dados. Segundo André Leiradella, da Oracle, o objetivo inicial do Hackathon era deixar tudo organizado e disponibilizar um serviço Rest, porém devido à falta de padrão isto não foi possível.
Para o desenvolvedor Bruno Lemos, os dados eram em grande quantidade (dezenas de gigabytes) e não possuíam um padrão. “Alguns estavam até no formato PDF, ou seja, era necessário pegar dado por dado manualmente. Isto dificultou sua utilização e certamente é uma barreira para os desenvolvedores que pensam em criar algo utilizando estes dados do governo. Nossa proposta foi em relação a este problema e ficamos entre os vencedores da competição”.
De acordo com Ricardo da Silva Ogliari, Analista de Sistemas Mobile que participou do Hackathon, um dos principais problemas foi não haver um gerente de projeto como parte do time. “Demoramos para engrenar e focar na ideia principal a desenvolver”. Para a equipe de Ricardo, outro problema foi a dificuldade para encontrar os dados que necessitavam para o projeto que escolheram trabalhar. “Por exemplo, não tínhamos dados sobre alagamentos e roubo de carros por ruas ou por um raio de extensão pequena, passível de comparação com a posição geográfica do usuário”, conclui.
Projetos
Depois de 24 horas de desenvolvimento foi encerrado o Hackathon USP Cidades, com muita comemoração dos participantes, e os seis projetos desenvolvidos foram então apresentados nesta ordem:
• Cidade++ – Baseado no desafio de se estacionar o carro nas ruas da cidade, o app procura centralizar serviços, prevenir casualidades e beneficiar o histórico de informações da cidade, incluindo uma rede social para compartilhamento das informações, gamification com premiação e ranking de usuários;
• Posso Ir? – O app foi pensado para responder a pergunta: Posso ir? levando-se em conta questões de segurança em locais turísticos das cidades. Com isso, o grupo teve duas motivações: segurança e cultura, para mostrar a dificuldade de certas áreas bem equipadas para a atividade turística por conta da falta de segurança;
• SmartCity – O que é uma cidade inteligente? Este grupo procurou responder esta questão com um app que promovesse o desenvolvimento sustentável, ou seja, que utilizasse os recursos já existentes para contextualizar os dados e garantir uma interpretação qualitativa para os principais stakeholders da cidade;
• Smart Plan – Com o lema “Nunca mais se atrase”, o app sugere o horário inteligente pra se levar em conta antes de se deslocar para algum local, utilizando variáveis que podem ser previstas, baseadas em turismo, clima, trânsito, entre outros.
• Zona Azul – Este app leva em consideração casos de perda do prazo, dificuldade de se encontrar o ponto de venda e falsificação de talões de Zona Azul. O protótipo possui uma interface ao usuário e outra para o fiscal, com a visualização dos veículos de uma localidade, mostrando quem está com o pagamento válido ou não.
• Brasil Transparente – O projeto foi além de propor apenas um aplicativo e incluiu um trabalho de modelo de formatação e padronização dos dados, facilitando o acesso a informações públicas para qualquer desenvolvedor.
Premiação
Após as apresentações de cinco minutos para cada projeto e as perguntas da plateia, um grupo de avaliadores formado por representantes da academia, empresas privadas, imprensa especializada e organizadores se reuniu para deliberar sobre quem deveriam ser os premiados, seguindo os quesitos interdisciplinaridade, originalidade e utilidade.
O júri era composto por pessoas de diferentes áreas de conhecimento e reuniu os jornalistas Gilberto Dimenstein, do Catraca Livre, e Marcelo Soares, do Folha Dados, além de especialistas em tecnologia, como Marco Righetti e Fernando Lemos, da Oracle, bem como David Ruiz e Filipe Figueiredo, ambos da Telefonica Vivo, especialistas em programação e hackathons, respectivamente. O grupo de avaliadores contou, ainda, com Rovena Negreiros, Diretora de Planejamento da Emplasa, representando a gestão pública, e o Professor José Alberto Quintanilha, da Poli USP.
O resultado foi o seguinte:
Além desta premiação, os outros grupos receberam brindes da NEC e, ainda, um estudante foi escolhido para uma oportunidade de estágio remunerado para trabalhar junto
com o time de desenvolvimento do Colab.re.
Para Thiago Christof, do Projeto Zona Azul, uma das dificuldades encontradas ainda durante o Hackathon foi georreferenciar de maneira precisa os pontos de venda de Zona Azul. “Não tínhamos esses dados georreferenciados, então foi necessário fazer a conversão antes de apresentar o propósito do aplicativo”. Porém, segundo ele, a maior dificuldade vem agora. “Para que a ideia tenha muita utilidade para toda a população, precisamos implementar o sistema de vendas de Zona Azul via smartphones e, para isso, precisamos da colaboração dos órgãos públicos. A boa notícia é que já estamos nos reunindo com estes órgãos”, comemora.
Para Áriston Cassimiro da Silva, da equipe Cidade++, uma solução interessante para resolver problemas urbanos é utilizar a colaboração dos usuários, possibilitando a publicação de informações. “Isso torna a aplicação sustentável e eficiente como coletora de dados. E, em paralelo, idealizamos panoramas de comparação entre as informações publicadas dos usuários, assim credibilizando os dados passados”.
Missão cumprida
Para Marcelo Gallacci, um dos avaliadores do Hackathon, o evento foi um sucesso. “Os organizadores e colaboradores do evento merecem reconhecimento especial não apenas pela ousadia do tema mas pela complexidade de se reunir um conjunto de dados rico o suficiente para promover a diversidade de soluções”. Para ele, o próprio assunto do evento foi desafiante. “A temática urbana fez deste evento uma espécie de Hackaton ‘radical’, ao exigir dos participantes bem mais do que criatividade e habilidade técnica. Como seria valioso o resultado de um ‘hackaton permanente’, com acesso a um maior conjunto de dados!”, sugere.
De acordo com Paula Vianna Souza, Assessora do USP Cidades, para a realização do Hackathon houve uma intensa busca por dados. “Acho que, se tratando da questão urbana, precisávamos da maior variedade de dados possível, até mesmo porque o nosso trabalho é multidisciplinar e defendemos que as soluções para a gestão de cidades devem ter uma abordagem igualmente multidisciplinar. Então, não faria sentido para nós focarmos em algo muito específico, como ‘somente dados de mobilidade’ por exemplo”. Assim, a organização se deparou com diversos níveis de qualidade da informação. “Com isso, nós aprendemos muito sobre como os diferentes departamentos públicos estão lidando com a questão da transparência e esperamos inspirá-los e orientá-los tecnicamente para contribuírem com este momento importante do país e das cidades, onde se discute muito o envolvimento da população nas tomadas de decisão através da transparência e acesso aos dados públicos”, comemora.
Com informações do USP Cidades
Geo Hackathon será realizado em São Paulo
O MundoGEO vai realizar uma maratona para desenvolvimento de soluções voltadas à sociedade utilizando dados geoespaciais, entre os dias 7 e 9 de maio, em paralelo ao MundoGEO#Connect LatinAmerica 2014, maior conferência e feira de geotecnologias da América Latina.
O GEO Hackathon terá desafios propostos pelo setor público e colocará à disposição das equipes dados, softwares, suporte e infraestrutura para o desenvolvimento das soluções no próprio local do evento. As equipes vencedoras serão premiadas e terão seus trabalhos amplamente divulgados.
Para mais informações acesse http://mundogeoxperience.com/2014/