Por Aline Porto da Silva, Prof. Dr. Jairo Roberto Jiménez-Rueda e Profa. Dra. Luziane Santos Ribeiro.

O município de Franca se localiza na província geomorfológica das Cuestas Basálticas do nordeste Paulista, ocupa uma área de 609 km², sendo 84 km² da área urbana (2002), fica a uma altitude média de 1.040 m (em planalto variando de 760 a 1.160 m) a região da serra de Franca se localiza na direção E-NE e a região central com direção SE-NWW, ficando no limite entre os municípios de Cristais Paulista, Batatais, Restinga, Patrocínio Paulista, Claraval, Ibiraci, Ribeirão Corrente e São José da Bela.

Essa região se mostra sensível ambientalmente, devido à facilidade de formação de voçorocas. Esta região se mostra propensa á geração deste tipo de erosão devido à junção do relevo, geologia, dinâmica hídrica e ocupação, acarretando assim perda de territórios úteis tanto para a agricultura quanto para o crescimento urbano. Assim foi proposto a analise ambienta de Franca-SP, com a finalidade de nortear ações de planejamento para o uso e ocupação do solo, visando sua preservação frente às adversidades ambientais.

Objetivo

Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi a caracterização do uso e ocupação dos solos na área rural, para tal se deve analisar o potencial de erodibilidade no município de Franca-SP tendo em vista o planejamento para orientação dos órgãos responsáveis na tomada de decisões quanto a medidas de controle e mitigação para os problemas ambientais, bem como a melhor forma de uso sustentável dos mesmos.

Metodologia

Os métodos utilizados para a execução do trabalho foram revisão bibliográfica, a organização e reinterpretação dos dados existentes (geológicos, pedológicos, geomorfológicos, morfoestruturais, de coberturas de alteração intempérica e socioeconômicos) e a geração e/ou reorganização de novos dados e propostas para a minimização dos impactos socioambientais (rede de drenagem, hipsométricos, morfométricos, tectônicos, geológicos, geomorfológicos, climáticos e bióticos) com a utilização de técnicas de geoprocessamento de diversos sensores remotos e de campo para um uso mais racional e se possível, uma reorganização física de seu ambiente.

Resultados

A primeira etapa de um trabalho ambiental é compreender levantamentos bibliocartográficos preliminares os quais se apresentam em diversas escalas caracterizando os aspectos físicos, econômicos, sociais e ambientais, com o objetivo de obter um melhor conhecimento destes parâmetros o que permitira tomar decisões referentes a priorizar a complementação e a elaboração de novos estudos a escalas mais adequadas da área de estudo, utilizando como contexto para análises em etapas futuras.

Localização da área de estudo

Franca Localiza-se no Nordeste do Estado de São Paulo a 20º32’19” de latitude sul e 47º24’03” de longitude oeste, distante 401 km do estado de São Paulo e a 676 km de Brasília. Da capital São Paulo até Franca, deve-se seguir pela Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) até o município de Campinas, para acessar a Rodovia Anhanguera (SP-330) e percorrê-la até Ribeirão Preto, por final seguir pela Rodovia Cândido Portinari (SP-334) dirigir em direção à Franca.

Figura 1.1: Mapa de Localização do Município de Franca. Elaborado por Ribeiro, L. S.

Atividades Agropecuárias
Segundo o CATI (2003), o município de Franca apresenta uma área cultivada de 32.194 ha (TABELA 1.1), sendo que os mais expressivos são a braquiária (19.916,50 ha), o café (4.424,90 ha), milho (2.639,10 ha), gramíneas (2.158,00 ha), soja (911,30 ha) e a cana-de-açúcar (848,60 ha).

TABELA 1.1: Culturas e área cultivada no município de Franca-SP (CATI, 2003).

Economia

O município de Franca é a maior cidade calçadista do país, possuindo mais de 700 indústrias de grande e médio porte. Com produção em grande escala voltada para exportação, a cidade leva seus produtos a várias partes do mundo, como EUA, Europa, Ásia e América Latina. O município possui ainda um dos maiores polos de lapidação de diamantes do mundo e o comércio também se destaca na cidade. Além da população local, grande parte dos moradores da região depende do comércio francano.

Urbanização

A urbanização, uma das formas mais drásticas de alterações ambientais, impõe estruturas pouco permeáveis, fazendo com que ocorra a diminuição da infiltração e o aumento da velocidade das águas superficiais.

Devido às ravinas serem erosões lineares de grande porte causadas exclusivamente pela concentração do escoamento superficial, não há contribuição dos fluxos das águas subsuperficiais ou subterrâneas.

Já as voçorocas também podem se desenvolver por influência dos escoamentos superficiais, mas nesses processos são fundamentais os mecanismos desencadeados pela ação dos fluxos de água subterrânea ou de recarga de aquíferos tanto superficiais como profundos.

O acelerado crescimento da cidade de Franca, ao longo dos últimos 25 anos, vinha resultando num processo de ocupação que, além de extensivo, era predatório. Os processos erosivos se ampliaram, tanto pela falta da canalização dos córregos e construção de avenidas às suas margens em obras inadequadas, sujeitas a contínuos desmoronamentos, quanto pela ausência de um controle efetivo sobre as obras de infraestrutura dos loteamentos para a população de baixa renda.

Em Franca a expansão urbana veio se dando através de loteamentos aprovados pela Prefeitura, servidos por redes de água, esgoto tratado e energia elétrica. Não há ocorrências de loteamentos clandestinos e a população da única favela que se constituiu na cidade foi transferida para unidades habitacionais. Por outro lado, verificava-se que as questões relacionadas à erodibilidade do solo não eram consideradas para aprovação dos loteamentos, o que colaborou para a proliferação de voçorocas e o consequente aumento no número de moradores em situações de risco.

Segundo o IPT em 1995 Franca foi considerado um dos municípios mais críticos em relação à ocorrência de processos erosivos oriundos da ocupação inadequada e representados por voçorocas de grande porte distribuídas por toda a área urbana e pela expansão de ravinas.

Entretanto a partir de 2005 uma operação contra voçoroca foi montada pela Prefeitura de Franca, após um estudo realizado pela secretaria de Serviços e Meio Ambiente de
Franca, a pedido do prefeito Sidnei Rocha, apontando 25 locais onde pode surgir o processo de voçorocamento. Dentre as medidas tomadas pode-se citar a terraplanagem das áreas e reparos e ampliação de galerias e a construção de terminais dissipadores (PREFEITURA DE FRANCA, 2006).

Potencial de Erodibilidade

Da perspectiva dessa análise a suscetibilidade a erosão de um terreno é proporcional à existência e freqüência de elementos tectônicos (traços de juntas e falhas) e também condicionada à configuração morfoestrutural da área (apresentando altos e baixos estruturais). A configuração morfoestrutural é determinada por descontinuidades estruturais (altos e baixos estruturais), que são deformações dúcteis dos maciços e surgem como feições anômalas dentro da tendência regional, cuja presença é detectada pela estrutura da rede de drenagem. São elementos de maior fragilidade e percolabilidade no sistema, o que as torna mais suscetíveis à erosão.

Nesse mesmo sentido, a análise morfotectônica identifica junta e falhas em alinhamentos de drenagem e relevo, sendo interpretadas como deformações rúpteis dos pacotes litológicos, evidenciando variados estados de estabilidade tectônica (Riverau, 1972, Mattos et al.,1982 e Soares et al., 1982 apud Pupim et al., 2007). Essa identificação e análise parte da premissa de que essas feições se refletem em superfície, sendo identificáveis em produtos de sensoriamento remoto pela análise dos padrões de drenagem e relevo (JIMÉNEZ-RUEDA et al., 1989a, 1993a), analisados por técnicas de fotointerpretação tratadas por Riverau (1972), Soares & Fiori (1976) e Veneziani & Anjos (1982). Deste modo, esses autores identificaram as formas texturais dos elementos de drenagem para cada feição morfoestrutural. A erodibilidade determinada pelas juntas e falhas é diretamente proporcional à frequência em que ocorrem, em uma ou mais direções, e é potencializada quando essas linhas de descontinuidade se cruzam, uma vez que a percolabilidade dessas estruturas é maior e fragiliza seu ambiente (Mapa de zonas de máximos). A determinação de zonas de erodibilidade, a ser feita neste trabalho, foi baseada em: (1) densidade de cruzamentos entre lineamentos estruturais; (2) densidade de lineamentos estruturais; e (3) ocorrências, frequências e distribuição de máximos 1 e 2 e seus cruzamentos/intercruzamentos.

6.1. Elaboração da Carta de Suscetibilidade Morfoestrutural à Erosão

Para a elaboração desse produto final foram cruzados os seguintes planos de informação, na ordem em que foram inseridos:
• Densidade de Cruzamentos de Lineamentos Estruturais: que define as classes de erosão entre Baixa (1) e Muito Alta (4) (conforme QUADRO 6.1);
• Densidade de Lineamentos Estruturais: como agravante da suscetibilidade a erosão (conforme QUADRO 6.2);
• Zonas de Ocorrência e Variação de Máximos 1 e 2: como agravantes da suscetibilidade a erosão;
• Densidade de traços de junta: como agravantes da suscetibilidade a erosão; e
• Percolabilidade: condicionam o grau de erodibilidade

Quadro 6.1: Relação entre a densidade de lineamentos estruturais e seus cruzamentos com o potencial de erodibilidade de uma região.

Juntamente com tais isovalores, são acrescidas informações obtidas através dos máximos 1 e 2 de tensão para a obtenção das classes de potencial de erosão, determinadas por Mattos et al. (2002) e Jiménez-Rueda et al. (2008):

Classe 1- Potencial de erodibilidade baixa: consideram-se os isovalores de cruzamento de lineamentos estruturais com intervalo de 0 a 2.
Classe 2 – Potencial de erodibilidade moderada: consideram-se isovalores de cruzamento de lineamentos estruturais com intervalo de 2 a 4, incluindo-se regiões de classe 1 com superposição de áreas com isovalores de densidade de lineamentos estruturais superior a 1,5 e/ou variação de máximos.

Classe 3 – Potencial de erodibilidade alto / Classe 4 – Potencial de erodibilidade muito alto: as duas classes ocorrem praticamente nas mesmas coberturas de alteração, mesmo substrato rochoso e mesmo relevo, diferenciando se no grau e intensidade de fraturamento (lineamentos estruturais e juntas). Assim, para a classe 3, foram incluídas as áreas da classe 2 com superposição de isovalores de densidade de lineamentos estruturais superior a 1,5 e/ou variação de máximo 2. Já para a classe 4, fora incluídas áreas da classe 3 com variação de máximo 1, máximo 2 e entre os máximos 1 e 2.

A partir da sobreposição foi gerado um Mapa do Potencial de Erodibilidade do território de Franca-SP.

Figura 4: Mapa de erodibilidade. Elaborado por Ribeiro, L. S.

Considerações Finais

A análise do mapa do Potencial de Erodibilidade indicam as regiões especificas, cujo cruzamento das informações da frequência de elementos tectônicos (traços de juntas, lineamentos e zonas de máximos) e configuração morfoestrutural da área (altos e baixos estruturais) indicam um alto potencial de instalação e ocorrência erosiva. A região noroeste, nordeste e sul foram classificados como classe 3,4 e 5 indicativos de potencial alto e muito alto de erodibilidade. Nessas áreas a ação antrópica deverá ser controlada, e a instalação de construções urbano-industriais e cultivos que necessitam de maquinários pesados deverão ser evitados. Considerando as áreas próximas a cidade de Franca, região noroeste, onde o processo de ocupação antrópica já foi instalado, é necessário um planejamento que vise evitar a ocupação das áreas de nascentes e drenagens. Essas áreas são mais susceptíveis à iniciação de processos erosivos, uma vez que sem a vegetação nativa, a junção do potencial de erosão alto e a precipitação elevada podem levar a formação de grandes voçorocas. A alternativa para áreas que já perderam sua vegetação natural é a plantação de vegetação de contenção (reflorestamento, bambus, ou gramíneas) ou canais de contenção. Na região centro-sul e extremo leste ocorre as classes 1 e 2 com potencial de erodibilidade baixos a moderado, áreas destinadas a expansão urbana/industrial e uso agrícola que necessite da utilização de maquinários de grande peso.

Referências Bibliográficas

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