Cientistas descobriram imagens de satélite da década de 60 que tinham sido esquecidas e armazenadas por quase 50 anos

Os geocientistas David Gallaher e Garrett Campbell liberaram os dados de um arquivo do Centro Nacional de Dados Climáticos na Carolina do Norte, armazenados em 25 caixas de fitas magnéticas e película fotográfica. As imagens foram obtidas por três satélites meteorológicos Nimbus, lançados entre 1960 e 1970.

As imagens de satélites contam com as primeiras observações aéreas do gelo da Antártida e um registro do mar de Aral, localizado na Ásia Central, antes de secar. Há também uma foto rara de uma forte tempestade que atingiu a América do Norte, o furacão Camille. Há também imagens que mostram as mudanças ocasionadas pelo desmatamento.

Satélite Nimbus capturou fotos do Furacão Camille em 1969 (esquerda e centro). Á direita, Furacão Gonzalo que varreu o Golfo do México em outubro de 2014

Imagens de 1964 da Antártida mostram uma maior extensão de gelo do mar já medida desde então. Ao contrário do gelo ártico que tem estado somente em declínio, a extensão de gelo da Antártida tem variado, atribuindo grande importância aos dados históricos para os cientistas que tentam entender o que impulsiona mudanças.

Gallaher e Campbell assumiram o meticuloso processo de digitalização de centenas de milhares de fotos e torná-los disponíveis ao público. As 1.964 imagens obtidas pelo satélite Nimbus da costa sul da Noruega e dos Pirineus podem ser as primeiras imagens da Europa tiradas do espaço.

Embora, nas imagens Nimbus haja presença de nuvens, Campbell insiste que essas imagens podem ser aplicadas de forma científica. “Pode-se olhar para a cobertura de neve na Noruega a partir das imagens e analisar o que mudou a partir dos anos 60”, diz ele, observando que os dados podem ser usados para medir a extensão da cobertura de gelo marinho no Ártico, e que as mesmas técnicas de análise podem, provavelmente, ser aplicadas para cobertura de neve.

Usando processamento moderno para unir as imagens Nimbus, os dois pesquisadores e suas equipes reconstruíram a área coberta por gelo marinho em 1964, 1966, e 1969. As imagens revelaram novos registros, tanto para o menor índice de gelo já registrado quanto do maior índice de gelo registrado. Os dois registros têm apenas dois anos de diferença, mas a diferença na extensão do gelo marinho foi mais de 1,5 milhões km², uma área que corresponde a duas vezes o tamanho do México.

Imagem obtida pelo satélite Nimbus, de 1960, que mostra áreas mais escuras do Artico (esquerda), o que pode ser buracos no gelo. Uma imagem da Terra obtida pir um satélite da NASA (direita) do Circulo Ártico em 2011 mostra uma placa sólida de gelo. (NSIDIC - esquerda e centro, NASA - direita)

Buracos no gelo do Ártico são um fenômeno comum hoje em dia, mas na década de 1960 o derretimento de um grande pedaço fino de gelo foi inesperado e o fenômeno só foi visto novamente no século 21. Segundo Campbell, poderia ser uma nova camada de gelo muito fina formada a partir da ruptura de gelo antigo.

Ao contrário de imagens modernas de satélite, as imagens Nimbus não são de alta definição ou em cores, o que significa que as sutis diferenças entre gelo novo, fino e gelo derretido nem sempre são aparentes.

Uma vez que o quarto maior lago do mundo, o Mar de Aral estava sob uma série de programas soviéticos de irrigação nas planícies da Ásia Central, nos anos seguintes, o lago encolheu para 10% do seu tamanho original, deixando barcos encalhados aparentemente no meio do deserto, levando a uma crise ecológica local.

Imagens de satélites capturadas entre 2000 e 2013, mostram o estágio final do Mar de Aral

Há também imagens que mostram a Floresta Amazônica antes de sofrer com intenso desmatamento, e as geleiras na Groenlândia que mudaram cerca de 70 km para o interior desde os anos 1960.

Fonte: National Geographic