Intergeo 2014 ditando as mudanças no mercado mundial

Com mais de 500 expositores de 30 países, a feira do Intergeo 2014 cobriu os principais campos de negócios das geotecnologias, com uma nítida predominância dos provedores de equipamentos. Apontar destaques levando em conta tal número de expositores é uma tarefa difícil, em face da dimensão e heterogeneidade de interesses. No entanto, dois campos apareciam em maior número e dominaram as rodas de conversa do evento.

O primeiro deles diz respeito aos VANTs, UAVs, Drones ou qualquer outro nome que se queira dar aos dispositivos de coleta de dados não tripulados. Para qualquer lado que se olhasse na feira e em todos os pavilhões, era possível ver pequenos e grandes birdies, mostrando suas capacidades. Foi possível notar tanto a evolução dessa tecnologia quanto a acessibilidade das mesmas. Segundo as conversas durante o evento, a maior parte desses dispositivos é montada com tecnologia open-source. Tanto em componentes eletrônicos como em softwares embarcados e de pós processamento dos dados, a ampla disponibilidade de informações abertas têm sido motor da popularização dessas engenhocas. Em particular, o software parece ter sido a razão da grande evolução, dado que o processamento automático das imagens permitiu que esses dispositivos passassem a coletar dados com precisão e fornecer dados às mais diversas aplicações, antes reservadas aos dispositivos convencionais: equipamentos topográficos e de aerolevantamento.

Vale apresentar a visão da engenheira cartógrafa Nina Machado Figueira, da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército (DSG), que encontra-se cursando doutorado na Europa e estava presente no Intergeo. Nina acredita que a próxima evolução iminente com relação aos VANTS virá do processamento dos dados durante o voo. Segundo ela, ao pousar, essas aeronaves trarão os dados corrigidos já prontos para o uso em diversas aplicações. Obviamente, isso trará uma alta produtividade, ampliando ainda mais a atração pelo uso desses equipamentos.

Outro destaque importante é o interesse pelos dados 3D. Pode-se prever que o futuro da geotecnologia será em 3D, com redução gradativa do uso dos dados em 2D e aumento exponencial de dados em três dimensões. Nesse sentido, o que se pôde ver foi a presença de uma grande variedade de ferramentas para aquisição de dados tridimensionais, desde novidades até os já conhecidos LiDAR e Radar. Aqui cabe um destaque importante da única presença brasileira na feira do Intergeo 2014, a empresa Bradar, expondo as novidades de sua tecnologia e destacando um novo radar mais compacto e de fácil operação. Segundo Luiz Henrique Godinho, diretor comercial da Bradar, essa novidade trará um impacto bastante grande nas soluções de radar, principalmente na utilização de grandes áreas que apresentam condições meteorológicas adversas.

Ainda abordando o levantamento de dados 3D, uma novidade importante é o uso de câmeras oblíquas para geração de modelos de superfícies, com aparência fotorrealística. Outra presença importante foram as ferramentas para processamento de dados 3D. Mais e mais soluções completas e fáceis de usar se destacam nessa área de processamento de dados.

Por fim, algumas poucas aplicações de uso de dados 3D demonstram os benefícios que poderão vir do emprego desses dados. Um belo exemplo são as aplicações de uso para alocação de painéis solares, fundamentais nas políticas europeias de suprimento energético. Outros exemplos vistos foram as aplicações de dados em urbanismo e turismo. A convergência entre o GIS e o CAD finalmente parecem estar convergindo em dados 3D.

Mercado de Aquisição

Uma visão interessante sobre o mercado de aquisição foi dada pelo Diretor da empresa Francesa ComputaMaps, Justin Hyland. Segundo o Diretor, a evolução ocorrida em três tecnologias – imagens de satélite de alta resolução, VANTs e GPS – tem colocado pressão nos mercados tradicionais de aerolevantamento e topografia convencional. A figura acima demonstra essa situação.

As imagens de satélite nos últimos anos têm apresentando significativa evolução em relação à resolução espacial. Chegando agora a 30 cm, novas gerações de sensores já estão prometendo a coleta de dados abaixo dos 20 cm. Assim, os dados orbitais tomam cada vez mais espaço dos levantamentos aerofotogramétricos convencionais, oferecendo maior agilidade na coleta das imagens e flexibilidade comercial. Por outro lado, a disseminação e popularização dos VANTs, como ferramenta de coleta de dados geoespaciais, pressionam simultaneamente o aerolevantamento em pequenas áreas, e a topografia em grandes áreas. Estas aeronaves vêm cada vez mais sendo usadas como instrumento preferencial para a coleta de dados, com boa precisão, agilidade e facilidade. Por fim, os sistemas GPS, cada vez mais presentes desde a última década, já têm tomado lugar da topografia tradicional em áreas rurais.

Podemos assim observar uma mudança no perfil dos mercados tradicionais de aerolevantamento e topografia. Empresas desses setores estarão cada vez mais incorporando tecnologias para fazer frente à competição que surge com a entrada de novos fornecedores que já incorporam as novas tecnologias. Este processo irá continuar e, dentro de alguns anos, deveremos ter um setor de geotecnologias com uma cara totalmente diferente.

3D: o Novo Paradigma

Neste ano, havia uma forte presença no Intergeo de modelos digitais de superfície (DSMs em inglês) com textura fotorrealística. Trata-se de um novo formato de dados obtido a partir de câmeras aéreas oblíquas e, em alguns casos, conjugadas com sistemas LiDAR, que permite a geração de uma base de dados de alta precisão. Os dados contém, para cada ponto, tanto a coordenada planimétrica x,y quanto a informação de altura com precisão. Associado a esse ponto, texturas em 360º complementam o registro, permitindo visualizações em 3D muito próximas da realidade, associadas à extração de medidas precisas de posicionamento e altura.

Na visão de pesquisadores da Airbus, presentes no evento, este é um novo paradigma em termos de aquisição de dados. As aplicações vão desde o uso em simuladores, até planejamento urbano e telecomunicações. De certo, ainda é cedo para se afirmar se este será um novo formato de dados dominante ou apenas mais uma informação acessória. No entanto, sem dúvidas vislumbra-se o futuro da geotecnologia em 3D. Dados como estes talvez tornem-se o padrão em sistemas GIS do futuro.

Participar do Intergeo 2014 foi uma experiência muito interessante, tanto pela dimensão do evento quanto pela grande presença de público. As tecnologias já consolidadas estavam presentes e muitas inovações começaram a ser difundidas amplamente. Pelo que foi visto, o que se pode esperar são muitas modificações no setor para os próximos anos. A feira foi um extrato do que há por vir: um mercado com muito dinamismo e inovações!

Fernando Leonardi

Graduado em Engenharia Cartográfica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente é Diretor Presidente da empresa Geopixel, a qual completa sete anos em novembro de 2014.
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