Laser Scanning e a geração de Modelos BIM: fluxograma trivial?

Quando nos referimos ao produto resultado do levantamento feito por Laser Scanner na sua forma mais básica, ou seja, a nuvem de pontos, inicialmente nos surpreendemos com a riqueza de detalhes e informações dos ambientes ou edificações precisamente levantados. Da mesma forma, ficamos surpresos quando as aplicações dos levantamentos de alta definição estão ligadas à infraestrutura, como obras de arte de engenharia, rodovias, sistemas viários, etc.. Fundamentalmente, ainda usamos a nuvem de pontos para “As-Buit” e”As-Is”, que podem nos auxiliar muito para o desenvolvimento de projetos de intervenções arquitetônicas, construção civil e, por que não, de planejamento urbano. Mas o cerne da questão é: como usar essa nuvem como referência para a geração de modelos BIM? Assim já respondo a questão do título da coluna: infelizmente está longe de ser trivial. Confesso que algumas experiências têm sido traumáticas, pois o fluxograma de levantamento e posterior tratamento (registro e filtragem) das nuvens de pontos, somente realizados pelo software proprietário do Laser Scanner, na maioria das vezes não é suficiente para importação direta pelo software que suporte a tecnologia BIM. Deve-se cuidar muito da troca de informações e da definição de padrões entre os profissionais de modelagem com os de levantamento. Basta ver que há negligência de aspectos técnicos extremamente importantes do levantamento, como resolução e precisão que, via de regra, são subdimensionados para a geração de modelos geometricamente mais precisos, obviamente por desconhecimento de ambas as partes. É muito difícil, ainda, alinhar as necessidades e limitações do processo com as expectativas dos resultados. O problema então passa a ser conceitual, gerando uma evidente incompatibilidade entre as formas de levantamento e a produção de modelos BIM. Exemplificando, as dificuldades de leitura dos dados podem ser resolvidas a partir da interação entre profissionais de projeto e levantamento, alterando-se alguns procedimentos, condições de locação e posição de cenas, e até a iluminação durante o levantamento. Assim, se pode exercer as boas práticas de levantamento (incluindo a topografia convencional), pensando sempre na aplicação e condições que facilitem a modelagem.

Nos dias 7 e 8 de Outubro foi realizado em São Paulo o evento mais importante do setor de tecnologia BIM: o Autodesk University. Trata-se de um encontro de profissionais que teve origem nos Estados Unidos, onde acontece há mais de 20 anos, e que na sua 4ª edição no Brasil mostrou a necessidade de discussões de interação profissional interdisciplinar. Tive a oportunidade de palestrar com o arquiteto Marcelo Nepomuceno, especialista em modelagem BIM e observamos, em vários momentos da apresentação, que a demanda de integração entre as especialidades é latente. Várias perguntas se direcionaram para uma melhor compreensão das ferramentas de modelagem quando se tem, no software de suporte BIM, uma nuvem com milhões de pontos. Creio que também aqui ainda temos que consultar a experiência antes da razão, como já dizia Leonardo Da Vinci.

Rompida a barreira da comunicação pessoal, surgem outros problemas: a interface de dados. Na sequência, entraremos na modelagem propriamente dita. Ambos assuntos serão tratados na próxima coluna.

Para uma simples visualização, seguem imagens respectivamente do detalhe (alto à esquerda) de uma nuvem de pontos e do modelo BIM gerado a partir da mesma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fernando Cesar Ribeiro

Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia de Transportes pela Poli-USP. Diretor Operacional da Sigma Geomática / Toppar Engenharia de Levantamentos, Professor do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, da Faculdade de Engenharia da FAAP e do Centro Universitário da FEI

fernando@toppar.com.br

 

Marcelo Nepomuceno

Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, Professor do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, trabalha no desenvolvimento e gerenciamento de projetos com o auxílio do sistema BIM