Dados obtidos pelo primeiro satélite científico brasileiro, o cubesat NanosatC-Br1, confirmam informações teóricas sobre o campo magnético da Terra. Lançado há cinco meses, o pequeno satélite desenvolvido em parceria pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) leva a bordo um magnetômetro cujas informações geradas comprovam a presença da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS) e registram valores da intensidade do campo magnético condizentes aos obtidos pelos modelos da Associação Internacional de Geomagnetismo e Aeronomia (IAGA).
“Com o NanosatC-Br1 pudemos confirmar a previsão dos valores teóricos da intensidade do Campo Magnético Total da Terra, conforme previsto pelo modelo International Geomagnetic Reference Field (IGRF) da IAGA e União Internacional de Geodésia e Geofísica (IUGG)”, comemora Nelson Jorge Schuch, pesquisador do Centro Regional Sul (CRS) do INPE, localizado em Santa Maria (RS), e coordenador do Programa NANOSATC-BR. “Tratam-se dos primeiros dados gerados por um satélite científico brasileiro”, completa Otávio Durão, pesquisador do INPE que coordena atividades do projeto em São José dos Campos (SP).
Uma pré-análise científica das observações coletadas pelo magnetômetro XEN-1210, em operação a bordo do NanosatC-Br1, mostra uma ótima correlação dos dados em comparação com valores teóricos previstos para a intensidade do campo geomagnético para a mesma altitude com a modelagem teórica do IGRF-IAGA/IUGG. A análise dos dados é coordenada pelo pesquisador Marlos Rockenbach da Silva, do CRS/INPE.
A figura abaixo apresenta um mapa da intensidade total do Campo Geomagnético para altitude de 614 km para a América do Sul, região de domínio da Anomalia Magnética da América do Sul (AMAS), mostrando que a variação espacial da intensidade total do Campo Geomagnético varia entre 24.000nT na borda e 17.000 nT no centro na AMAS.
A Estação Terrena de Rastreio e Controle de Nanosatélites do CRS/INPE está indicada na figura pela estrela preta, próxima ao centro da AMAS. A linha vermelha na figura indica a órbita aproximada do NanosatC-Br1no dia 17 de agosto, no período de 10h57 a 11h07. Neste intervalo o nanosatélite científico se desloca do polo Sul em direção ao Norte geográfico. No lado direito da linha vermelha são apresentados os valores do Campo Geomagnético Total, em nanoteslas, calculados a partir do registro das observações coletadas das três componentes x, y e z do Campo Geomagnético feito pelo NanosatC-Br1, a 614 km de altitude.
“Comparando esses valores com aqueles previstos pelo modelo, pode-se perceber que o magnetômetro além de registrar e confirmar a presença da AMAS sobre o Brasil, registra valores da intensidade do Campo Geomagnético bastante condizentes, salvo as diferenças que ocorrem devido às aproximações utilizadas pela modelagem do IGRF”, diz o pesquisador do CRS/INPE.
Em breve um artigo sobre os dados obtidos pelo NanosatC-Br1 será encaminhado para aprovação e publicação, em periódico científico internacional, com uma análise mais profunda das observações científicas e suas conclusões, considerando as mais de 1.500 órbitas de dados disponíveis.
Para a equipe do projeto do NanosatC-Br1, os resultados obtidos comprovam a validade do uso de experimentos em cubesats para a investigação de fenômenos eletrodinâmicos sobre a América do Sul.
Capacitação
Lançado de uma base russa em 19 de junho, o NanosatC-Br1 – primeiro cubesat brasileiro – transmite dados para estações localizadas em Santa Maria e São José dos Campos. Leva a bordo instrumentos para o estudo de distúrbios na magnetosfera, principalmente na região da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, e do setor brasileiro do Eletrojato Equatorial Ionosférico.
Realizado pelo instituto em parceria com a universidade, a capacitação de recursos humanos para a área espacial também é objetivo do projeto do cubesat. O desenvolvimento do NanosatC-Br1 permitiu que estudantes tivessem a supervisão de especialistas do INPE e atuassem diretamente em todas as fases para construir e colocar um satélite em órbita – desde a especificação e desenvolvimento do cubesat, até a montagem, integração, testes, lançamento, operação e recepção dos seus dados.
Mais informações: www.inpe.br/crs/nanosat
Fonte: Inpe