O desmatamento no Cerrado, na Caatinga, no Pantanal, nos Pampas e na Mata Atlântica contará a partir da semana que vem com monitoramento frequente, a exemplo do que já acontece com a Amazônia. A medida, esperada há anos por ambientalistas, foi anunciada nesta quinta-feira, 19, pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Em evento em São Paulo que discutia as emissões de gases de efeito estufa no Brasil – pelos quais o desmatamento ainda é o principal responsável -, Izabella antecipou o que deve ser lançado na semana que vem. Sem dar mais detalhes, disse que se trata de um “novo sistema de monitoramento em todos os biomas do Brasil feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)”.
Na ocasião deve sair a primeira taxa de desmatamento do Cerrado. Em geral se considera que o bioma perdeu mais de 50% da área. A Amazônia perdeu cerca de 20%. “Sai também o ativo do Cerrado, que é o que a gente tem protegido. É muito além do que eu imaginava que tinha, o que é uma boa notícia”, disse. “Agora precisamos de uma construção política e econômica para convencer as pessoas de que não é preciso arrasar o Cerrado nem arrasar os outros biomas brasileiros para fazer produção de agricultura.”
Amazônia. O Inpe coordena hoje dois sistemas para a Amazônia: o Deter, que faz um acompanhamento em tempo real com o objetivo de fazer alertas para orientar a fiscalização, e o Prodes, que fornece a taxa anual oficial do corte raso da floresta.
Segundo Izabella, apesar da queda do desmatamento da Amazônia de 82% entre 2005 e 2014, a questão da perda de vegetação em todos os biomas ainda não está resolvida. Só a Amazônia ainda perde todo ano cerca de 5 mil km2 de floresta.
É esperada para antes da 21ª Conferência do Clima da ONU, em Paris, que começa no dia 30, a divulgação do Prodes para o período de agosto de 2014 a julho deste ano. Há uma expectativa que possa subir, porque os alertas do Deter nesse intervalo tiveram uma alta de 68%.
“Mas tem muita queimada, muita degradação (nos alertas)”, disse Izabella, buscando evitar uma relação entre os dois sistemas. Queimada pode contar como degradação, e o Prodes considera o corte raso – que é o desmatamento total. “Vamos ver, tomara que não, porque eu trabalhei pra burro neste ano para não subir.”
Izabella informou ainda que está tentando fechar um projeto com os Estados de Mato Grosso e Acre de meta para chegar ao desmatamento ilegal zero em 2020. A meta brasileira apresentada para a COP é de zerar o desmatamento em 2030.
“Tudo isso será construído para ter os alicerces do discurso de que não é preciso mais desmatar. Significa ter uma nova cultura política de clima no Brasil. Não pode ser separatista nem polarizada. Clima tem de ser uma atitude que junta proteção com produção. Não pode ficar circunscrito aos órgãos ambientais, porque não é uma discussão estritamente ambiental. É uma discussão sobre desenvolvimento sustentável.”
Emissões. Izabella fez as declarações durante o lançamento do novo relatório do Sistema de Estimativa de Emissões dos Gases de Efeito Estufa (Seeg), pelo Observatório do Clima. Em relação a 2013, houve uma redução de 0,9% no ano passado, e as emissões ficaram no patamar de 1,56 gigatoneladas de CO2-equivalente.
A mudança de uso da terra, categoria onde se encaixa o desmatamento, ainda é o setor líder de emissões, com 31,2%, apesar de ter diminuído 9,7% em relação a 2013. Pela primeira vez o setor de energia encosta, respondendo por 30,7% das emissões do País. Em terceiro vem a agropecuária, com 27%.
Fonte: O Estado de São Paulo