Projeto desenvolvido pelo Inpe tem potencial para colocar o país no seleto grupo de nações com conhecimento de toda a cadeia produtiva. Primeiro modelo da série, o satélite Amazonia-1 deve ser lançado ao espaço em 2018

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) – trabalha na construção do primeiro de uma série de satélites de médio porte, que podem colocar o Brasil entre as principais nações do mundo no desenvolvimento deste tipo de equipamento. Previsto para ser lançado no ano que vem, o Amazonia-1 terá a capacidade de fazer imagens de qualquer parte do planeta em até cinco dias – período necessário para dar uma volta completa ao redor da Terra.

O equipamento é o primeiro de três satélites que integram a Missão Amazônia, que consiste na construção da Plataforma Multimissão (PMM), uma estrutura-base para a fabricação de satélites de conteúdo nacional e de câmeras capazes de fazer o sensoriamento remoto da superfície terrestre. A iniciativa partiu de uma demanda da Agência Espacial Brasileira (AEB) –entidade vinculada ao MCTIC.

“Não tem no Brasil uma plataforma desse nível de complexidade e com essas características. Embora já tenhamos construído satélites antes, não tínhamos ainda o ciclo completo: projetar, integrar o satélite, testar, efetuar o lançamento e operar o equipamento. Passamos a dominar o ciclo completo de satélites estabilizados em três eixos. Conquistamos uma autonomia para o país”, destacou o coordenador do Programa de Satélites Baseados na PPM do Inpe, Adenilson Silva.

Os dados gerados pelas câmeras do Amazonia-1 serão descarregados pela Divisão de Geração de Imagens (DGI) do Inpe e poderão ser utilizados no controle do desmatamento e de queimadas na Amazônia Legal, além do monitoramento de recursos hídricos, de áreas agrícolas, do crescimento urbano e da ocupação do solo. Também servirão para atender outras aplicações similares, como o monitoramento da costa brasileira, dos níveis dos reservatórios de água, de áreas de florestas naturais e cultivadas, e desastres ambientais.

“Na parte ambiental, a Amazônia está mais em foco e também vamos ter uma atenção com as questões do território brasileiro. Mas o Amazonia-1 pode fornecer dados em qualquer lugar do planeta”, explicou.

As informações obtidas ficarão à disposição da comunidade científica e de órgãos governamentais, além de usuários interessados em ter uma melhor compreensão do ambiente terrestre.

Tecnologia nacional

Os principais sistemas que vão compor a PMM são a estrutura mecânica, o suprimento de energia, o controle de altitude e o tratamento dos dados, a gestão de bordo, o controle térmico, a telemetria, telecomando e rastreio, e a propulsão. Tudo isso está sendo produzido por empresas brasileiras, sob a supervisão do Inpe. Cerca de 60% do investimento de R$ 270 milhões foi destinado à aquisição de componentes e sistemas produzidos por companhias nacionais.

“O programa sempre procurou ter ao extremo a participação da indústria nacional e o domínio de tecnologias. Por isso demoramos um tempo maior para construir. Incentivamos a indústria nacional com essa política”, afirmou Adenilson Silva.

Próximos passos

O desenvolvimento de um satélite tem grandes marcos. O primeiro deles é a construção do modelo de engenharia, que visa validar e provar que o equipamento tem a funcionalidade para atender à demanda para a qual foi projetado. A segunda fase é a qualificação do equipamento para assegurar que ele é capaz de suportar as condições extremas do espaço sideral – as temperaturas variam de 80ºC quando está em uma parte iluminada e -80ºC no escuro. Depois de todo esse processo, é possível construir o modelo de voo, que é o que efetivamente será lançado ao cosmo.

Todo esse processo poderá ser reaproveitado para os satélites subsequentes da Missão Amazonia: o Amazonia-1B e o Amazonia-2. Com o bônus de uma economia significativa nos custos de construção dos modelos que estão por vir.

“O Amazonia-1 é um modelo de desenvolvimento. No Amazonia-1B, você só paga os custos do modelo de voo, porque elimina o desenvolvimento e a qualificação, que são as etapas que mais demandam tempo e recurso. É esperada uma redução de 50% do custo para a construção de um novo satélite”, afirma o engenheiro Adenilson Silva.

Exposição

O satélite Amazonia-1 é um dos destaques da exposição Inovanças – Criações à Brasileira, que vai até 22 de outubro deste ano, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Uma maquete do equipamento está exposta na entrada do espaço. São apresentados 40 projetos inovadores, pensados e produzidos por brasileiros que transformaram vidas pelo país e pelo mundo.