Transformação Digital e Geoprocessamento: Um caso de sinergia natural? Segunda Parte do Artigo
Por Jorge Castro*
Em continuidade ao assunto de Transformação Digital e Geoprocessamento, o próximo ponto de reflexão é sobre a forma de trabalhar e compartilhar em geoprocessamento, principalmente o perfil digital do profissional de geoprocessamento e a utilização de ambientes colaborativos.
Leia a primeira parte do artigo
Ruptura nas formas de trabalhar e colaborar
É inegável o impacto que a transformação digital traz aos mais diversos aspectos da vida moderna, seja no âmbito social ou profissional. Se ainda pode ser vista como um modismo, uma tendência, para alguns segmentos de negócio é uma realidade. Tal realidade traduz-se em um complexo e integrado conjunto de impactos que criam novos cenários de negócio que demandam, dos gestores, velocidade na decisão para implementar as mudanças necessárias aos tradicionais modelos de gestão.
Nesse contexto, tem-se convencionado observar uma atitude, uma mentalidade digital, um digital mindset como balizador à gestão de: tecnologia, pessoas e processos; como prismas para observar e tratar o impacto das disrupções nos ambientes corporativos.
Esse digital mindset traz novas perspectivas em cada um destes três aspectos, na medida em que na:
• Vertente de processos, a automatização da execução das atividades diárias, encapsuladas em processos, propiciada pela digitalização, aumenta a eficiência da produção e contribui para a melhoria da qualidade dos produtos finais. Em essência, desburocratizar e simplificar processos otimiza os recursos e reduz custos;
• Vertente de pessoas, a digitalização reduz os efeitos nocivos da repetição de esforço empregado em tarefas manuais. Favorece também, a partir do estabelecimento de rotinas baseadas em sistema, a evolução da utilização do potencial humano para atividades mais nobres, como controle e gestão de desempenho; e
• Vertente tecnológica, empregar tecnologia, por si só, encerra em si mesmo o papel da TI. Com essa visão, talvez o maior desafio para TI seja entender seu papel em um contexto empresarial que deixe de referir-se a um cliente interno ou ao negócio como se ela, TI, fosse um corpo estranho ao restante da corporação.
De certo este mindset propicia um ponto adicional, que pode ser entendido como gestão de valor, que na verdade materializa os benefícios esperados pela sociedade, nesse caso às corporações, na medida que os investimentos em modernização possibilitam uma gestão mais eficiente, com resultados mais significativos, para ela própria e seus stakeholders. Na figura a seguir, tem-se um esboço da ação do digital mindset sobre os tradicionais prismas da gestão.
Observando esse mindset, propõe-se a seguinte provocação: Qual GIS experience poderia contribuir na constituição de uma nova mentalidade, em uma ruptura na forma de trabalhar?
A princípio dois aspectos saltam aos olhos quando observamos a experiência relacionada:
1 – O perfil digital do profissional de geoprocessamento; e
2 – O impacto tecnológico e a necessidade de ambientes colaborativos.
Inicialmente é preciso deixar claro que o profissional de geoprocessamento é digital e tecnológico por natureza. De certo muitos profissionais ligados à academia vão rebelar-se contra tal afirmação e, em sua defesa lembrarão os incontáveis trabalhos de campos, com suas noites em acampamento, o teodolito, a determinação de marcos testemunhos, entre outros; mas, esquecem que essas lembranças, não tão longínquas, são em verdade o testemunho de que as ciências geodésicas e o geoprocessamento foram das áreas que mais sofreram impactos com as disrupções tecnológicas.
As últimas duas décadas foram de especial avanço neste sentido. Passamos dos levantamentos aerotransportados, ao sensoriamento remoto com escala cadastral e, por último, pela possibilidade do uso de drones na realização de levantamentos aéreos antes inimagináveis considerando a necessidade de plataformas inerciais somente embarcáveis em aeronaves.
No tocante à tecnologia de informações, experimentou-se avanços possivelmente mais consideráveis na forma de armazenar e distribuir informações. Antes empacotados em bases de dados locais, os dados passaram a ser armazenados em warehouses espaciais disponibilizados via consultas de banco de dados (ODBC), evoluindo ao estabelecimento de distribuição e operação via Web Services e a menos tempo, cerca de cinco anos atrás, em clouding computing.
O volume de dados relacionado ao um levantamento em escala cadastral 1:1.000, com seu respectivo set de imagens relacionados e posterior reambulação e integração de um cadastro multifinalitário para operação de utilites e do poder público (água, esgoto, telefonia, mobiliário urbano, energia elétrica, secretarias de fazendo, educação, etc.) em uma região metropolitana do porte do Rio ou São Paulo pode ser considerado como o que Big Data ou Biggest Data?
Com este cenário, colaboração não é um desejo, mas uma necessidade. Por isso as empresas desenvolvedoras de Sistemas de Informações Geográficas (GIS em inglês) já no final da década passada colocaram em seu road map tecnológico a disponibilização de ambientes de colaboração baseados em consumo de Web Services; e inevitavelmente o caminho evolutivo das ferramentas de operação da informação espacial dar-se-á pela potencialização do emprego destes ambientes colaborativos, com compartilhamento de visões integradas de dados e operação de add in especialistas.
Inegavelmente, hoje qualquer profissional não alcança sua graduação sem adquirir uma quantidade razoável de tecnologia de informação. Talvez não consiga sequer realizar seus exames acadêmicos ou entregar seus TCC se não possuírem uma ferramenta de relacionamento social baseada em Web.
Entretanto, os profissionais de Geodésia e geoprocessamento, em uma escala talvez mais aprofundada do que outras formações, necessite de uma carga maior de TI, considerando que suas habilidades profissionais só são completamente materializadas com o uso da mesma. O fato é que o emprego de tecnologias de informação, de forma massiva, foi o meio pelo qual foi possível empregar a informação espacial em escala industrial.
Sem escala de TI industrial, por exemplo, não seria possível adquirir, tratar, guardar e disponibilizar toneladas de terabytes de levantamentos de sensoriamento remoto. Mas isso com certeza tornou-se imperativo a execução de qualquer ciência; entretanto, em várias carreiras, inclusive nas engenharias, a TI é suporte ao uso final do dado e não meio de transformação do seu valor semântico.
Mas cabe uma reflexão: todo este aporte tecnológico não garantiu ou resolveu problemas clássicos da Gestão de informação espacial, em especial a questão da integração de dados. O que nos remete a pensar que o problema é prioritariamente cultural.
Esse assunto será o tema da terceira e última parte de nossa pequena jornada digital.
Jorge Castro* – DSc. em Eng. Elétrica pelo COPPE/UFRJ, MSc. Eng. de Computação pela UERJ e com MBA em Gestão Empresarial UFRJ é Consultor de Negócios na Diretoria de Refino e Gás Natural da Petrobras SA, com atuação focada em: Transformação Digital, Gestão de informações e Geoprocessamento.
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