Pesquisa inclui um panorama geral das informações atualizadas sobre a variabilidade climática e hidrológica e, também, as tendências de aquecimento na Amazônia

Estudos analisando um conjunto de dados científicos sobre o clima da Amazônia apontam que a seca, desmatamento e incêndios florestais podem ampliar os impactos – em grande escala – causando o colapso do ecossistema da floresta tropical.

Associados, todos esses fatores podem influenciar a mudança do clima na região e no regime de chuvas do Caribe e do norte da América do Sul.

A pesquisa coordenada pelo climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento, do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – reuniu diversos cientistas nacionais e internacionais para analisar o clima na Amazônia e os prováveis efeitos que podem ocorrer pelo desmatamento em grande escala.

O artigo foi divulgado em publicação internacional pelo jornal científico Frontiers in Earth Science com o título Changes in Climate and Land Use Over the Amazon Region: Current and Future Variability and Trends (Mudanças no clima e no uso da terra na Amazônia: variações e tendências atuais e futuras).

A revisão científica inclui um panorama geral das informações atualizadas sobre a variabilidade climática e hidrológica e, também, as tendências de aquecimento na Amazônia, que alcançou 0,6 a 0,7 graus centígrados nos últimos 40 anos. O ano de 2016 foi considerado o mais quente desde pelo menos 1950 (0,9° C + 0,3° C).

“Os efeitos combinados da seca e do desmatamento, juntamente com o fogo, podem ampliar os impactos e causar o colapso do ecossistema da floresta tropical.”, afirma o pesquisador José Marengo, do Cemaden.

Redução da floresta, seca e mudança do clima

Os cientistas analisaram os impactos dos fatores combinados na duração da estação seca, o papel da Floresta Amazônica no clima e nos ciclos de carbono, além da resiliência da floresta. Também foram abordados os riscos de incêndios e queima de biomassa, bem como as projeções do potencial de “morte” da Floresta Amazônica, quando superado o denominado “ponto de inflexão”. Na Matemática, “ponto de inflexão” significa uma variação ou mudança da curva no gráfico, para cima ou para baixo, indicando o início crítico de um colapso.

A floresta tropical brasileira existente em 1970 já foi reduzida em cerca de 19%. Um estudo de 2018, sugeriu que o “ponto de inflexão” poderia ser tão baixo quanto 25% de desmatamento.

“Se esse ponto de inflexão for ultrapassado, parte da floresta pode ser convertida em savana”, diz Marengo. “Teria potencialmente impactos em grande escala no clima, biodiversidade e nas pessoas da região.” complementa. O pesquisador explica que também poderiam aumentar os eventos climáticos extremos (como secas, inundações) e mudanças nas estações chuvosas e secas, além do aumento de incêndios florestais.

Os pesquisadores observaram o prolongamento da estação seca sobre o sul da Amazônia, que pode influenciar o risco de incêndio e regime de chuvas. Marengo explica que os impactos do desmatamento são maiores sob condições de seca, pois os incêndios provocados para esse desmatamento e uso da terra podem ficar fora de controle.

“Também é analisado o papel da Amazônia na reciclagem e transporte de umidade, realizando uma revisão do desenvolvimento de modelos matemáticos para projeções de mudanças climáticas na região.”, afirma Marengo.

Os estudos apontam a crescente vulnerabilidade e risco que sustenta a ambição do Acordo de Paris da COP21 em buscar esforços para limitar o aquecimento global a não mais do que dois graus centígrados (2°C) acima dos níveis pré-industriais. Foram aumentados os desafios para se manter o aquecimento global médio abaixo de 1,5 a 2,0°C.

Na recomendação dos cientistas, considera-se fundamental encontrar mecanismos inovadores que promovam compensações financeiras por culturas que busquem reduzir o desmatamento ou promover a conservação florestal. Cita, também, a necessária proteção de florestas secundárias abandonadas, bem como discutir novas áreas para uma região que concilie as dimensões ambiental, social e econômica.

“Precisamos de pesquisa integrada para solução do problema, com ações estratégicas de desenvolvimento econômico, social e ambiental.”, destaca Marengo, indicando a urgente necessidade de programas de desenvolvimento sustentável e inovadores na Amazônia.

O acesso ao artigo científico completo “Changes in Climate and Land Use Over the Amazon Region: Current and Future Variability and Trends” está disponível no em www.frontiersin.org/articles/10.3389/feart.2018.00228/full.

Com informações da Ascom/Cemaden

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Imagem: Daniel Beltra/Greenpeace