Na gestão de cidades, os momentos de crise e tragédias, sejam elas humanas ou ambientais, têm se mostrado mais frequentes do que deveriam. Por Júlio Ribeiro*
A cena é clássica. Iniciado o período chuvoso, uma série de problemas começa a reaparecer nas cidades brasileiras. Com as informações e tecnologias disponíveis, os gestores públicos não deveriam se “surpreender” com as consequências de fenômenos que ocorrem em todos os anos nas cidades brasileiras.
O fator “surpresa”, diante de um fenômeno geográfico recorrente, com padrões no espaço e no tempo, tem se tornado cada vez mais inaceitável.
Recorrência revela furos de planejamento
Há décadas, mas poderíamos dizer séculos, os estudos geográficos sobre os fenômenos que afetam o ambiente urbano já monitoram a sazonalidade das chuvas, cheias dos rios, oscilação das marés, dinâmicas migratórias e potenciais riscos, a partir do padrão de ocupação nas cidades.
Por esse motivo, qualquer referência ao fator “inesperado” não poderia ser utilizada como argumento pelos gestores públicos e toda sua equipe técnica.
Tecnologias na gestão de cidades
Nos últimos anos, os avanços das tecnologias empregadas no monitoramento das cidades possibilitaram um maior detalhamento e precisão para tomadas de decisão. Destaco duas frentes:
• As soluções de SIG (Sistemas de Informação Geográfica), que podem funcionar no ambiente Web, possibilitando a integração de diferentes bases de dados, alimentadas por diferentes perfis de pessoas, de locais diferentes. Nesse caso, tanto o técnico da prefeitura, o agente de fiscalização em campo, como o morador de um bairro distante do centro podem consumir e contribuir com os dados geográficos da cidade.
• As soluções de BI/Analytics (Business Intelligence/Analytics), que são tecnologias capazes de lidar com grande volume e variabilidade de dados, possibilitando leituras dinâmicas e respostas a perguntas, cruzando dados que, até então, estavam isolados em cada departamento ou planilha. Os painéis de BI também podem ser considerados painéis de controles dinâmicos e servem para monitoramento de eventos em tempo real.
O mais interessante do estágio atual das plataformas tecnológicas é que elas conversam com as outras plataformas, ou seja, todos os benefícios das soluções de SIG se conectam aos de BI.
É possível criar painéis dinâmicos com grande volume de dados, apresentando-os na linguagem simples e poderosa que é a dos mapas.
Responsabilidade e previsibilidade
Mas se tudo isso já está disponível, por que ainda não chegou na realidade da grande maioria dos municípios brasileiros? Será a falta de profissionais técnicos qualificados? Será a falta de visão sistêmica dos gestores?
É mais provável que seja um pouco das duas últimas provocações e mais outros tantos motivos, como falta de dinheiro ou de interesse político.
O que não podemos aceitar é o “jogo da culpa”, de mortes, perdas materiais e prejuízos, a fenômenos naturais. A “culpa” não é da chuva, nem do deslizamento, muito menos da enchente. Não é do tipo de solo, nem do rio, nem do calor. Esses fenômenos são naturais, ocorrem “desde de que o mundo é mundo”. Faz parte de vivermos em um planeta vivo.
Não é o caso do Brasil, mas o mesmo se aplica a vulcões, terremotos e furacões. Países que possuem esses fenômenos em seu território conseguem se planejar para evitar e minimizar perdas e prejuízos de forma bastante eficiente.
E olha que a previsibilidade de erupção ou terremoto é muito mais difícil de se calcular e suas potenciais consequências são muito mais devastadoras.
Quem tem que gerir uma cidade deve saber o período e o local em que esses fenômenos irão ocorrer. E se é regular e previsível, é inaceitável que só façamos medidas corretivas após as tragédias. Podemos (e devemos) agir preventivamente, ocupando de maneira mais adequada os espaços urbanos e mitigando os impactos nos locais já ocupados.
Leia também: Tragédia em Brumadinho (MG) poderia ser evitada.
Planejamento e ações eficientes
A conclusão a partir disso tudo é muito clara. O que precisamos passar a fazer é agir com mais responsabilidade sobre a maneira como lidamos com os espaços urbanos e com as dinâmicas sociais.
O conhecimento técnico-científico acumulado pela nossa sociedade já dá conta de prever e propor soluções para grande parte dos fenômenos sazonais brasileiros.
Precisamos, portanto, utilizar de todos os recursos já disponíveis para melhorar nossas previsões e avaliações de risco, perdas, sistemas de alerta, evacuação e segurança.
Também podemos utilizar dessas tecnologias e do conhecimento técnico para planejar melhor os recursos nos períodos de maior demanda, evitando o desperdício ou a escassez.
Isso é algo a se cobrar dos representantes, mas é um espaço que nós, como profissionais de áreas que possuem as soluções técnicas para amparar e informar os gestores e a população, devemos ocupar com vontade, competência e autoridade.
Somos parte da solução e precisamos assumir o protagonismo dessas ações. Por isso, convido todos vocês, colegas de profissão, a participarem mais ativamente do apoio à gestão pública, de comissões para estudos, de projetos sociais, de grupos de pesquisa, de iniciativas de capacitação e de entidades profissionais.
Leia também: Os profissionais da Geociência estão preparados para lidar com as Smart Cities?
SIG para gestão de cidades no verão
Convidamos você a participar do nosso webtreinamento sobre SIG para Gestão de Cidades no Verão, que irá abordar conceitos e ferramentas de planejamento e SIG, aplicados a fenômenos sazonais típicos do verão brasileiro.
Além disso, o aluno irá aprender a produzir mapas e painéis de BI para apoiar a gestão de cidades durante essa época do ano.
*Júlio Giovanni da Paz Ribeiro. Geógrafo e Mestre em Tratamento da Informação Espacial. Experiências como professor, pesquisador, consultor e empresário. Coordenou o curso de Geografia e foi Diretor do Instituto de Engenharia, Tecnologia e Geociências do UniBH. Atualmente, é CEO da HubSE – Tecnologia da Informação, sendo esta a empresa responsável pelo Instituto GEOeduc e AcademiaGIS. Coordenou a implementação do projeto-piloto, no Município de Monteiro Lobato/SP, “Cidade Inteligente, Humana e Encantada – CIHE2030”. Professor nos MBAs da FGV, PUC, ESPM, USJT e FACENS. Paixão por compartilhar e praticar ações nas áreas de tendências tecnológicas, inovação, análise espacial e Smart Cities.
Fonte: GEOeduc
Geo e Drones na Indústria 4.0
Você já pode marcar na sua agenda: de 25 a 27 de junho acontecem em São Paulo (SP) os eventos MundoGEO Connect e DroneShow 2019, os maiores da América Latina e entre os cinco maiores do mundo no setor.
Alinhados às tendências globais e com foco na realidade regional, o tema geral dos eventos este ano será “Geotecnologia e Drones na Indústria 4.0”.
Os conteúdos dos cursos, palestras e debates estão sendo formatados por um time de curadores para atender as demandas de empresas, profissionais e usuários principalmente nos setores de Agricultura, Cidades Inteligentes, Governança Digital, Infraestrutura, Meio Ambiente, Recursos Naturais, Segurança e Defesa.
Dentre as tecnologias disruptivas que estarão em destaque, estão Big Data, Inteligência Artificial / Machine Learning, Internet das Coisas, Realidade Virtual e Aumentada, BIM, Tecnologia Autônoma, entre outras, tudo isso cada vez mais integrado às Geotecnologias (Mapeamento, Cadastro, Imagens de Satélites, Inteligência Geográfica, GIS).
Perfil dos expositores da feira: prestadores de serviços de aerolevantamentos, mapeamento e cadastro; desenvolvedores de sistemas de análise espacial; provedores de imagens de satélites; fabricantes e importadores de drones; fabricantes de sensores e tecnologias embarcada; distribuidores de softwares, plataformas de processamento e análise de dados; agências reguladoras e órgão governamentais; empresas de consultoria e treinamento; distribuidores de equipamentos de geomática; empresas de mapeamento móvel, entre outras.
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Imagem: Divulgação