Definir as coordenadas paras obras de infraestrutura. Demarcar terras agrícolas. Detectar perturbações na atmosfera que possam interferir na transmissão de energia elétrica. E até alertar para o perigo de tsunami no Atlântico Sul.

Você sabe o que todas essas tarefas têm em comum? Elas são facilitadas pelo IBGE, através da Rede Maregráfica Permanente para Geodésia (RMPG) e da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos Sistemas GNSS (RBMC).

Os dados são de acesso público e podem ser baixados em arquivos atualizados diariamente na RBMC e na RMPG. Relatórios que fornecem detalhes técnicos das estações e informações históricas necessárias para o uso e processamento desses dados também estão acessíveis ao público em ambas as redes.

Ao todo, o IBGE mantém seis estações maregráficas ativas, localizadas nas cidades de Imbituba (SC), Arraial do Cabo (RJ), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belém (PA) e Santana (AP). Cada uma delas é equipada com dois sensores de nível d’água, a fim de observar as variações do nível do mar para estudos climáticos e para vinculação de sistemas altimétricos costeiros às altitudes oficiais do Sistema Geodésico Brasileiro.

As informações produzidas pelas estações da RMPG são úteis para diversas aplicações, como redução de sondagens para conservação e ampliação da capacidade de portos e vias navegáveis, implantação de infraestrutura (portos, rodovias, redes de água e esgoto) em regiões litorâneas e estudo de possíveis medidas de adaptação e mitigação dos impactos da elevação global do nível do mar.

No âmbito internacional, ela contribui para o Programa Global de Observação do Nível do Mar e para o Programa de Alerta de Tsunami do Caribe, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, que apresentava significativa carência de informações no Atlântico Sul.

Estação maregráfica de Fortaleza auxilia estudos sobre o Atlântico Sul – Foto: Salomão Soares

“A cada minuto, temos o registro de nível d’água das estações, e a cada 5 minutos enviamos para os bancos de dados as informações captadas”, explica Salomão Soares, gerente de Redes Verticais do IBGE. A transmissão de dados é feita tanto por antena de telefonia quanto por satélite. “Esta duplicidade é fundamental para garantir a manutenção da oferta deste serviço para sociedade, no caso de problemas com algum deles”, relembra o técnico. E se tudo falhar na transmissão? “Nesse caso, ainda temos um último recurso: o cartão de memória da estação, que grava todos os dados”, argumenta Salomão.

De forma similar, existem 150 estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos Sistemas GNSS (Global Navigation Satellite System) trabalhando diuturnamente com dados de navegação por satélite. A configuração de cada estação nada mais é do que um marco geodésico (geralmente, uma estrutura de concreto na forma cilíndrica) no topo do qual é instalada uma antena conectada a um receptor. Este decodifica os sinais recebidos pela antena e transmite os dados via internet. De acordo com as estatísticas de uso dos arquivos diários, são realizados em média 600 mil downloads por mês.

As informações são utilizadas para a determinação de coordenadas exatas de latitude, longitude e altitude, essenciais para aplicações como agricultura de precisão, estudos atmosféricos e demarcação de terras, entre outros. Essa rede é a estrutura geodésica mais utilizada por profissionais como topógrafos e engenheiros – que necessitam de seus dados para realizar os trabalhos de georreferenciamento, para apoio às obras de infraestrutura e mapeamento.

Além de subsidiar atividades técnicas da sociedade, a RBMC serve de referência para vários estudos científicos, como as pesquisas sobre as perturbações na atmosfera (que afetam os sistemas de transmissão de energia elétrica e comunicações), complementa as análises sobre a variação do nível do mar na costa brasileira e sobre as variações verticais da crosta que ocorrem na região Amazônica devido à carga de massa d’água, entre outros estudos de geodinâmica.

A maioria das estações é equipada com receptores capazes de rastrear sinais transmitidos pelos satélites do sistema de navegação americano (GPS) bem como pelos sistemas russo (GLONASS), europeu (Galileo) e chinês (Beidou). Cerca de 20% das estações também possuem sensores meteorológicos, que coletam temperatura, pressão e umidade relativa a cada minuto.

Estrutura de concreto em forma cilíndrica, com antena no topo, transmite dados geodésicos em Macapá – Foto: Ecio Silva

“Temos um projeto estratégico de ampliação e modernização da rede”, adianta a gerente de Geodésia do IBGE, Sonia Maria Alves da Costa. O projeto prevê a implantação de pelo menos duas novas estações, a cada ano, em arranjos populacionais de maior relevância. “Nosso foco é manter o máximo possível de estações em operação, e anualmente ir ampliando a rede”, completa Sonia.

A operacionalização das redes e parte das instalações das estações são de responsabilidade da Coordenação de Geodésia e Cartografia do IBGE e de parcerias com universidades e instituições públicas e privadas. Em dezembro, está prevista a publicação, pela primeira vez, de dois relatórios sobre as atividades das redes, compilando dados das últimas duas décadas.

“Os relatórios de avaliação e processamento dos dados históricos das estações das duas redes auxiliarão diversos estudos que dependem de análises de longo prazo, que não poderiam ser feitas avaliando-se apenas dados do dia a dia ou de mês a mês”, afirma Sonia. “Além disso, serão informadas novas coordenadas ainda mais precisas, importantes, por exemplo, para o monitoramento de barragens”, sintetiza.

O que é o Sistema Geodésico Brasileiro

Além das redes ativas, o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) se divide em três redes: a gravimétrica (composta por estações gravimétricas, com informações sobre a aceleração da gravidade), a altimétrica (composta por cerca de 70 mil referências de nível, as quais possuem altitudes de precisão obtidas através de nivelamento geométrico) e a planialtimétrica (composta pelas estações SAT, cujas coordenadas geodésicas para latitude e longitude de alta precisão foram obtidas através do posicionamento por satélites GNSS).

Da mesma forma que o Instituto coordena o Sistema Estatístico Nacional, também é responsável pela gestão do Sistema Geodésico Brasileiro, segundo o disposto no Decreto-Lei n°243 de 1967.

Com informações do IBGE