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Programa Espacial Brasileiro busca maior apoio da sociedade para se fortalecer

Benefícios da atividade espacial se espalham pelo dia a dia das pessoas, mas ainda faltam maior integração dos atores envolvidos e apoio financeiro para viabilizar projetos

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Um programa espacial não significa apenas levar o Homem à Lua ou aterrissar uma sonda em Marte ou ainda o ir e vir dos astronautas entre a Terra e a Estação Espacial Internacional. Isso, aliás, é apenas uma fração do que os serviços espaciais podem proporcionar para a sociedade.

São diversas as aplicações que fazem parte do nosso cotidiano, mas que muitas vezes sequer imaginamos que dependam de satélites espalhados pela órbita terrestre. O aplicativo de trânsito no celular, a previsão do tempo, a produção de alimentos, a proteção ambiental, a segurança das fronteiras, a transmissão de energia elétrica… A lista é enorme e é fácil cravar que não há sociedade como a que conhecemos hoje sem a exploração do espaço.

E o Brasil, claro, também se beneficia disso. Mas poderia se beneficiar ainda mais. E há um caminho para isso. É o que garantem especialistas que participaram da primeira Live da Série SpaceBR Show, “Os benefícios do Programa Espacial Brasileiro para a sociedade”, moderada pelo CEO da MundoGEO, Emerson Granemann.

Assista à íntegra da Live:

“Países sem a mesma tradição do Brasil no setor espacial, como Austrália, Indonésia, EUA, Irã, Egito, Turquia, entre outros, perceberam que programa espacial não lida apenas com viagens interplanetárias e estações espaciais. Está de fato muito relacionado com a necessidade do nosso dia a dia, com a necessidade de alavancar desenvolvimento socioeconômico de qualquer país”, opina o presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Júlio Shidara.

A questão é que os benefícios não são só aqueles que transpassam o dia a dia das pessoas, mas aqueles indiretos e que impactam no desenvolvimento do país como um todo, especialmente no aspecto econômico. Por isso, fomentar o programa espacial é fundamental para um projeto de nação.

Como aponta o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Moura, “o Programa Espacial Brasileiro não é um fim em si mesmo, é uma ferramenta de integração do país”. “Temos um país gigantesco e com enormes disparidades e, além de integrar, [o Programa Espacial Brasileiro] serve como um vetor de desenvolvimento”, prossegue Moura.

Ele cita estudos realizados pela AEB que mostram que o poder multiplicador da indústria espacial pode chegar a até 16 vezes. “Ou seja, um dólar investido numa atividade espacial pode carrear cerca de 13 a 16 vezes mais [em outros setores]”, diz.

Para exemplificar isso, o coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da UFSC, Rafael Gigena Cuenca, faz um paralelo com a indústria aeronáutica. Segundo ele, as indústrias fornecedoras para esse segmento melhoraram a qualidade de manufatura e a prestação de serviços para estarem à altura das complexas exigências. “E essas empresas, agora melhor desenvolvidas, melhoram os seus produtos para os clientes de outras áreas”, afirma. “A sociedade precisa entender que investir nessas empresas do setor aeroespacial tem esse benefício indireto, de capilarizar a qualidade e a melhoria dos serviços para os produtos do nosso dia a dia”, continua Cuenca.

Setor espacial depende de apoio governamental

Há, porém, alguns obstáculos que precisam ser ultrapassados para que a indústria aeroespacial de fato cresça e se consolide. O principal deles, naturalmente, é a falta de recursos. Os números deixam isso bem claro.

De acordo com a Euroconsult, uma empresa de consultoria especializada no mercado espacial, o governo brasileiro investiu US$ 122 milhões em seu programa espacial em 2018. Enquanto isso, países sem tradição na área espacial investiram perto ou mais do que o Brasil. A Argentina, por exemplo, dedicou US$ 110 milhões no mesmo ano. O Catar e os Emirados Árabes Unidos investiram US$ 186 milhões e US$ 383 milhões, respectivamente.

“A atividade espacial é complexa, demanda investimentos, tem altos riscos e o papel governamental é imprescindível”, comenta Moura, da AEB. Para ele, estamos em um momento em que é fundamental enxergar uma grande oportunidade na indústria aeroespacial para que não dependa de produtos e serviços de outros países.

Shidara, da AIAB, concorda e diz que é imperativo que o país acorde para essa realidade e fomente o Programa Espacial Brasileiro. Para isso, na opinião dele, é necessário colocar o programa como uma prioridade. “Eu imputo o problema não à falta de recursos propriamente, mas à pauta de prioridades, devido à falta de percepção da atual vulnerabilidade e da importância do Programa Espacial para a soberania nacional.”

A iniciativa privada também pode ter uma participação importante no assunto. Mas para que ela possa se desenvolver e ser madura suficiente para que consiga investir os próprios recursos, é necessário que o governo também apoie projetos das companhias privadas. “Se for necessário fomento governamental para as empresas conseguirem atuar e o mercado surgir, a empresa traz a dinâmica do mercado para que aquele serviço específico possa se tornar mais eficiente e mais produtivo e que os benefícios tanto financeiros como qualidade de vida e de prestação de serviço se diluam e capilarizem por toda a sociedade”, acredita Cuenca, da UFSC.

Desafio da governança do segmento espacial

No Brasil ainda existe uma particularidade que dificulta a consolidação do Programa Espacial Brasileira, que é a falta de uma governança centralizada de tudo o que se relaciona ao segmento espacial. Uma questão histórica. Moura, da AEB, explica que ao contrário de outros países que criaram no início uma organização que tratasse de todos os aspectos da atividade espacial, como a Nasa nos Estados Unidos, por aqui houve uma divisão no início dos anos 1960.

Na época, parte do acesso ao espaço ficou sob responsabilidade do então Ministério da Aeronáutica (hoje o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, o DCTA), e outra que acabou resultando no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Inpe, relembra Moura, antecedeu o Ministério da Ciência e Tecnologia e a própria AEB, esta responsável hoje pelo papel de coordenação política da atividade espacial no Brasil. No entanto, os investimentos são fatiados entre ministérios, sem uma centralização capaz de otimizar os recursos dedicados ao setor.

“A governança do setor espacial brasileiro, quando olhamos para outros casos mais exitosos, é realmente um desafio. Isso já vem sendo reconhecido e há vários trabalhos mostrando isso. No final de 2018 já tínhamos uma proposta bem estabelecida para como melhorar a governança do setor espacial. É necessário que cada um dos componentes esteja forte. Temos indústria e academia, mas a parte governamental tem realmente algumas deficiências que precisam ser melhoradas para que possamos carrear mais efetividade e prioridade, e quando falamos disso, falamos em recurso”, reconhece Moura.

Outras lives sobre o setor espacial brasileiro

O CEO da MundoGEO, Emerson Granemann, finalizou a live “Os benefícios do Programa Espacial Brasileiro para a sociedade” informando que mais iniciativas como essa acontecerão de modo preparatório ao evento SpaceBR Show, organizado pela MundoGEO, com apoio da AEB, que vai acontecer entre 9 e 12 de novembro no formato 100% online.

Os novos temas serão a descrição da cadeira produtiva do setor, um raio-x da indústria espacial nacional, o potencial de uso da Base de Lançamento de Alcântara, os cursos de formação profissional na área aeroespacial e iniciativas da área espacial vinculadas ao Ministério da Defesa, ao Inpe, entre outras.

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