A redução de custos e a participação da iniciativa privada nas quebras de paradigmas na indústria espacial estão intimamente ligadas.
Empresas podem, com poucos recursos (comparativamente com os tradicionais programas espaciais governamentais e privados) e com injeções de capital de risco (venture capital), sair do zero e em poucos anos ter uma constelação de satélites para chamar de sua.
A redução de custos está associada à redução do tamanho dos satélites, levando diversas funções que são tradicionalmente realizadas a bordo para serem realizadas em terra, por software.
Quando você projeta uma constelação de dezenas (ou centenas e até milhares) de satélites, cada elemento de hardware é contabilizado em dezenas (ou centenas e até milhares) enquanto o sistema de SW é único, sendo também aprimorado continuamente.
Tudo que puder ser compensado pelo sistema de software da estação terrena, deve ser revisto na estrutura do satélite visando redução de tamanho, peso e custo.
Com a redução do custo de fabricação dos satélites, as empresas buscam, também, redução de custos nos lançamentos, na recepção, na operação, na infraestrutura de processamento, entre outros.
Um fabricante de satélite, em geral, não pensa em ser o dono do lançador. Como sempre, há exceções. Por que pensar, desde o início, em ser dono da estação de recepção, do centro de operação, da infraestrutura de processamento, etc?
É comum, conjuntos de satélites pequenos (micros(1) e nanos(1)) serem lançados como carona em lançamentos de médios(1) e grandes satélites(1). Principalmente quando o objetivo é testar um novo projeto (prova de conceito) antes de buscar a multiplicação dele(s) pelo espaço.
Em paralelo, novos foguetes e afins são desenvolvidos visando esse novo nicho de mercado, sempre tendo como meta a redução de custos relativos ao lançamento destes pequenos satélites.
O investimento em estações de recepção é elevado. O custo de antenas é alto e elas podem ficar diariamente ociosas por grandes intervalos do tempo. Se uma empresa opera apenas com satélites óticos, as antenas estarão ociosas em pelo menos 50% do tempo (mesmo considerando descarga de gravador de bordo à noite).
Isto também abre oportunidades para a iniciativa privada construir unidades de recepção de dados, geralmente em latitudes próximas aos polos, e prestar serviço de recepção aos diversos atores do New Space que surgem constantemente.
Basta você apresentar a arquitetura da sua constelação e essas empresas especialistas garantirão a recepção diária de dados de todos os satélites.
Muitas vezes a operação dos satélites pode ser terceirizada, por meio de empresas com foco nesta atividade e que podem escalar as equipes rapidamente em função da quantidade presente de satélites que você tiver em sua(s) constelação(ões).
Operação inclui as tarefas de programação dos satélites para imagear as diferentes áreas de interesse. Entretanto, sua(s) constelação(ões) pode(m) atingir um estágio que faça com que essa fase seja negligenciada.
Do mesmo modo, você pode usar a infraestrutura de processamento de acordo com a demanda gerada pela sua(s) constelação(ões). Pelo menos durante a fase de crescimento da empresa é possível usar o conceito de computação em nuvem, pagando exatamente pelo tempo necessário para processar e armazenar os dados gerados. Os serviços de computação em nuvem permitem uma empresa escalar automaticamente sua infraestrutura de processamento em função do crescimento de sua(s) constelação(ões) de satélites.
Há muitas formas de você se concentrar nos satélites e nos serviços que eles podem proporcionar e focar os investimentos nestes pontos. Principalmente quando você está crescendo.
Depois de estabelecido, você pode virar seus olhos para estas outras atividades e verticalizar sua atuação. Mas nem sempre isso é interessante. Deve ser visto caso a caso.
E sem esquecer que os serviços (informação, conhecimento e inteligência) proporcionam ganhos muito acima dos provenientes da comercialização das imagens (dados).
(1) Não existem, oficialmente, parâmetros para classificação dos satélites em relação ao tamanho / peso. Os pequenos satélites (ex. nanosats) são definidos por unidades cúbicas: 1U, 3U, 6U, etc. Uma unidade cúbica (1U) equivale a um cubo de lado 10cm, ou de volume 1l. Uma unidade 1U costuma apresentar um peso aproximado de 1,3kg. Satélites de tamanho 1U são denominados cubesats. Porém, é comum usar esta denominação para pequenos satélites de tamanhos 2U, 3U e até um pouco maiores. Entretanto, no momento de segmentar, o mais usual é considerar o peso. Abaixo segue uma tabela muito em voga, que pode ser encontrada também no sítio do INPE: http://www.crn.inpe.br/conasat1/nanosatt.php
Denominação | Peso |
Grandes satélites | > 1.000 kg (ex.: CBERS, Landsat e Sentinel-2) |
Satélites médios | de 500 a 1.000 kg (ex.: Amazonia-1, Pleiades e Cosmo SkyMed) |
Mini satélites (minissatélites ou minisats) | de 100 a 500 kg (ex.: RapidEye e Capella X-SAR) |
Micro satélites (microssatélites ou microsats) | de 10 a 100 kg (6U a ~80U) (ex.: VCUB-1/Visiona, ICEYE-SAR e Sattelogic) |
Nano satélites (nanossatélites ou nanosats) | de 1 a 10 kg (1 a 6U) (ex.: Dove/Planet, STORK/SatRevolution) |
Pico satélites (picossatélites ou picosats) | de 0,1 a 1kg |
Fento satélites (fentossatélites ou fentosats) | até 100g |
Pico e fento satélites geralmente são experimentos científicos
*Antonio Machado e Silva, diretor da AMS Kepler Engenharia de Sistemas
A opinião do autor não reflete, necessariamente, a opinião da MundoGEO