O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou na última segunda-feira (17/7) o Manual de Coleta de Nomes Geográficos, que detalha a metodologia desenvolvida e utilizada pelo órgão no processo de coleta dos nomes de lugares. O Manual, desenvolvido a partir da experiência dos técnicos do IBGE em campanhas de mapeamentos ocorridas em diferentes épocas e locais do território brasileiro, tem como objetivo fornecer uma metodologia consolidada e aprovada para os produtores de mapeamento, escolas, instituições públicas e privadas e para qualquer pesquisador que deseje desenvolver projetos em Toponímia.
Nomes geográficos são nomes próprios utilizados para se referir a um lugar, uma feição ou áreas específicas. Alguns exemplos são nomes de estados, municípios, vilas, bairros, montanhas, cursos d’água, hospitais e lugares sagrados.
“O uso primordial dos nomes geográficos é de referência e identidade. É como as pessoas organizam e comunicam a organização do espaço. É onde você mora, onde você pega o ônibus, para onde você viajou semana passada, todas essas questões são respondidas com nomes geográficos. Se fossem respondidas com coordenadas geográficas, a dúvida permaneceria. O nome geográfico é uma referência sólida e de conhecimento geral, por isso, permite fácil referência e comunicação. Um bom exemplo é o Pico Dedo de Deus, que fica na Serra dos Órgãos. O pico é uma feição que se diferencia da serra por ter um nome. Caso não tivesse, não seria percebido como um elemento diferenciado dela e não nos referenciaríamos a ele de forma particularizada. Essa percepção do pico como feição diferenciada é comunicada pelo nome geográfico”.
explica a pesquisadora da Coordenação de Cartografia do IBGE, Ana Cristina Resende
A pesquisadora alertou que “para que se possa usufruir de todo o potencial inerente aos nomes geográficos, no entanto, é preciso minimizar os equívocos na identificação das feições e na recuperação das informações neles contidas, produzindo uma economia de tempo e dinheiro ao aumentar a eficiência operacional em todos os níveis do governo, indústria, comércio e educação”.
Ana Cristina acrescenta que são numerosas as áreas de atividade cujo funcionamento eficiente depende da consistência na nomeação de lugares, como fabricantes e usuários de sistemas de navegação de superfície, aéreos e marítimos. Isso porque os nomes geográficos são a principal ferramenta usada para busca de informações sobre lugares na web e nas Infraestruturas de Dados Espaciais (IDEs) dos países e sistemas de informação geoespacial em geral. Também são beneficiadas as agências estatísticas que baseiam seus censos populacionais e pesquisas sociais sobre lugares povoados nominados.
“Recentemente, os índices de nomes geográficos foram usados para subsidiar a delimitação dos setores censitários para o Censo 2022. Os nomes geográficos não são menos importantes para autoridades da lei e da ordem, tais como a polícia, as forças armadas e serviços de emergência, como os bombeiros e redes de ambulâncias, equipes de resgate aéreo e marítimo e agências de ajuda humanitária, que precisam responder rapidamente aos acontecimentos em algum local. Também no controle de desastres naturais os nomes geográficos têm um papel de destaque. O mundo corporativo se beneficia de nomes geográficos precisos, para o desenvolvimento de marcas, em especial as Indicações Geográficas”.
completa
Internacionalmente, o Manual será utilizado por diversos países lusófonos, contribuindo com o trabalho realizado no âmbito da Divisão dos Países de Língua Portuguesa, do Grupo das Nações Unidas de Especialistas em Nomes Geográficos (UNGEGN), vice-presidido, no momento, pelo Brasil, representado pelo IBGE.
Maior clareza nas informações
Com um guia detalhado das etapas da coleta de nomes geográficos, partindo da fase de preparação, passando pela atividade de campo até a consolidação do trabalho, o Manual apresenta com clareza a importância de cada etapa de acordo com as recomendações do UNGEGN, que define que o nome oficial deve ser aquele de uso local e atual. Amostras de documentos provenientes de coletas executadas por equipes de campo do IBGE ilustram a publicação, o que facilita a compreensão das diretrizes e possibilita a melhor visualização dos resultados esperados.
“A melhor fonte para se conhecer o uso local e atual é, naturalmente, o próprio local. Existem nomes que podem ser coletados em gabinete, mas, locais menores, feições menos expressivas, a fonte é o campo, pois o nome geográfico é dinâmico, ele pode ser modificado. Além disso, o nome precisa ser padronizado, inclusive na questão da grafia. Uma forma de alcançar essa padronização é buscar a motivação do nome. Um exemplo é o Rio Água Suja, que faz referência à água imprópria, mas que se fosse grafado água-suja, com hífen, seria uma referência a confusão, desentendimento. Essas histórias são encontradas em campo”.
analisa a pesquisadora
Algumas feições são reconhecidas por mais de um nome geográfico, como, por exemplo, a Serra do Rio Grande ou Serra dos Cristais, no Município de Diamantina (Minas Gerais). Nesses casos, os dois nomes são adotados para designar a feição, sem juízo de valor sobre eles. Quando se trata de feições criadas por lei, ainda que o nome geográfico que consta na lei de criação ou no descritivo de limites não seja mais encontrado em levantamentos de campo, ele deve ser mantido como o principal.
“Em casos de nomes variantes, o nome da lei de criação vem primeiro, seguido pela conjunção ‘ou’ e o nome que ele é conhecido extraoficialmente. Isso é sempre seguido na cartografia quando tratamos de feições citadas em descritivos de limites entre unidades administrativas. Por exemplo, o nome de um rio, que pode constar um nome na lei, mas que pode ser conhecido localmente de outra maneira. É importante a indicação dos dois nomes, para que não seja perdida a intenção do legislador ao citar o nome para a definição do limite, nem causar confusão na população local que pode conhecer a área de outra maneira”.
aponta Ana Cristina
As diretrizes propostas no Manual podem ser aplicadas em qualquer tipo de projeto, nas mais diversas organizações e áreas do conhecimento, e independem de recursos digitais.
Com informações e imagens do IBGE
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