Comumente na temporada outono/inverno, as temperaturas caem, o ar fica mais seco e a qualidade do ar, muitas vezes, se deteriora. Essa conjuntura propicia o aumento do risco de doenças respiratórias como gripe, rinite, asma, Covid-19 e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Além disso, a queda na umidade do ar e o confinamento das pessoas em espaços fechados também favorecem a transmissão por vírus e bactérias.
Essa combinação de fatores climáticos impacta diretamente a saúde pública. Durante essa época do ano, observamos um crescimento expressivo das doenças respiratórias devido às razões que citamos aliadas à degradação da qualidade do ar. Para minimizar os riscos, as autoridades de Saúde aconselham ser essencial aderir às campanhas de vacinação, evitar aglomerações e manter os ambientes bem ventilados e limpos.
Agora o que temos notado é que o clima vem alterando até mesmo a ocorrência de patologias que não fazem parte do registro habitual para esta época do ano. Um exemplo é a dengue, cuja incidência é mais comum no verão. Em 2024, São Paulo chegou a mais de 2 milhões de casos, e o clima teve um papel decisivo nesse número. Isso porque o mosquito Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C, e o inverno na capital paulista tem média de 18°C. Com os invernos cada vez menos rigorosos, o ciclo do mosquito pode se manter ativo, favorecendo a transmissão da doença ao longo do ano e não somente no verão.
Somam-se a este cenário, o aumento da ocorrência de doenças típicas do período de frio. A gripe, causada pelo vírus Influenza, afeta nariz, garganta e pulmões, provocando sintomas como congestão nasal, febre e fraqueza. Sua transmissão ocorre pelo contato com gotículas de saliva, e a melhor forma de prevenção é a vacinação anual.
A rinite alérgica também se intensifica no inverno. Poeira, mofo e poluição irritam as vias respiratórias, e levam a espirros constantes, coceira nasal e tosse noturna. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), cerca de 30% dos brasileiros sofrem alguma alergia respiratória, e 78% dos asmáticos ainda têm rinite alérgica.
De janeiro a agosto de 2024, uma pesquisa feita em 27 hospitais públicos e filantrópicos do país apontou o aumento de 27,6% nas internações por doenças respiratórias em comparação ao mesmo período de 2023. Esse acréscimo teria resultado em um custo adicional de R$ 11 milhões para essas instituições*. Além das condições climáticas adversas, a baixa cobertura vacinal pode ter contribuído para esse cenário.
Crianças e idosos aparecem como os mais atingidos pela incidência de doenças respiratórias comuns no outono e inverno. Essa população tem menor resistência de seus sistemas imunológicos e é mais suscetível a tais patologias agravadas pelas modificações no clima, como as quedas de temperatura.
E a previsão climática para os próximos meses indica noites mais frias, o que pode favorecer o aumento dos casos dessas doenças respiratórias. O inverno não será extremo, mas terá temperaturas mais baixas do que as registradas nos últimos dois anos. Para reduzir o impacto dessas doenças respiratórias comuns nessa época, especialistas de Saúde recomendam medidas simples, como beber bastante água, evitar locais fechados e mal ventilados e manter a limpeza dos ambientes.
Então, é preciso ficar de olho na previsão do tempo, colocar o casaco e seguir as orientações para se precaver da incidência de doenças respiratórias que afligem bastante gente nessa época do ano.
*1) Os dados são da Planisa, empresa especializada em gestão hospitalar.
* Guilherme Martins meteorologista da Nottus. Ele é especializado em inovação e tecnologia. Desenvolve modelos de análise e soluções para processamento e visualização de dados ambientais que facilitam a compreensão de informações em prol da tomada de decisão. Em sua carreira, passou pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), por empresas de consultoria e exerceu carreira acadêmica, como cientista e professor universitário convidado. É bacharel em Meteorologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com mestrado em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), doutorado em Ciência do Sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e MBA em Data Science e Analytics pela USP/Esalq
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