O setor de saneamento básico no Brasil enfrenta um desafio crítico: a perda de aproximadamente 40% de toda água tratada antes mesmo de chegar aos consumidores. Este problema, que envolve tanto aspectos físicos (vazamentos) quanto comerciais (fraudes e medições imprecisas), demanda alternativas que vão além de soluções hidráulicas e obras civis.
Neste contexto, o presente demonstra como a aplicação sistemática de Geotecnologias na Unidade de Gerenciamento Regional de São Mateus, resultou em melhorias operacionais significativas e mensuráveis.
O estudo parte de uma premissa fundamental: a tomada de decisão baseada em dados espaciais precisa e atualizados pode transformar a gestão de sistemas de abastecimento. Para comprovar esta hipótese, foi desenvolvida uma metodologia que integra diversas fontes de informação. Por um lado, utilizou-se o histórico completo de ocorrências operacionais, incluindo registros de vazamentos e reclamações de falta d’água, georreferenciados através do sistema de atendimento SAC. Por outro, cruzou-se esses dados com o cadastro técnico detalhado da rede de distribuição, contendo informações sobre idade das tubulações, materiais utilizados, topografia local e pressões operacionais.
Tais dados possibilitaram a produção de mapas de reincidências, modelos digitais de elevação e ortofotos para avaliação do crescimento vegetativo de núcleos de baixa renda e tudo foi elaborado a partir do Arcmap, software com licença da empresa.

O processo analítico empregado revelou padrões espaciais importantes. Através de técnicas de geoprocessamento, foi possível identificar que 72% das ocorrências recorrentes concentravam-se em áreas com tubulações com mais de 30/40 anos de uso, principalmente em regiões de maior variação de pressão. Esta correlação espacial permitiu priorizar intervenções de forma estratégica, direcionando recursos limitados para onde teriam maior impacto.
Os resultados obtidos comprovam a eficácia da abordagem. Em um período de 24 meses, a UGR São Mateus alcançou uma redução de 31% no Índice de Perdas na Distribuição Total (IPDT), passando de 150 para 103 litros por ligação por dia. O Índice de Reclamações por Falta d’Água (IRFA) apresentou queda ainda mais expressiva, de 57%, reflexo direto da maior eficiência na identificação e correção de problemas.
Além dos ganhos operacionais, a metodologia desenvolvida trouxe benefícios econômicos e ambientais. A economia estimada em produção de água tratada superou R$ 2 milhões anuais, enquanto a redução no desperdício preservou recursos hídricos equivalentes ao consumo mensal de uma população de 15 mil habitantes. Estes números ganham ainda mais relevância quando consideramos o contexto de mudanças climáticas e escassez hídrica.

A experiência da UGR São Mateus oferece lições valiosas para o setor. Primeiro, evidenciou a importância da qualidade dos dados cadastrais – qualquer inconsistência acima de 5% compromete significativamente as análises. Segundo, mostrou que a capacitação das equipes operacionais no uso de ferramentas geotecnológicas é tão crucial quanto o desenvolvimento dos sistemas em si.
Por fim, provou que soluções tecnológicas, quando adequadamente implementadas, podem gerar retornos financeiros rápidos e expressivos.
Este caso demonstra que a transformação digital no saneamento básico vai além da modernização por si só. Trata-se de usar tecnologia para tomar decisões mais inteligentes, alocar recursos de forma mais eficiente e, em última instância, garantir que um recurso essencial à vida – a água potável – chegue de forma confiável a toda população.
Os métodos aqui descritos, adaptáveis a diferentes realidades operacionais, representam um caminho comprovado para enfrentar um dos maiores desafios do setor no país.
“Geotecnologia não é só mapa – é gestão inteligente de recursos. No Polo São Mateus, provamos que dados espaciais geram água na torneira e economia no sistema.”
* Lucas Pereira – Tecnólogo Ambiental, Especialista em Geoprocessamento e Estudante de Engenharia Civil
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