"Em pouco tempo a topografia tradicional se tornará obsoleta"
Por Marília Kubota e Rogerio Galindo

O depoimento é de um técnico da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) treinado para executar serviços de topografia com GPS nas minas de ferro de Carajás.


Receptor móvel preparado para medir escavação da boca de um túnel

O entusiasmo com a nova tecnologia não é a toa. Desde o final de 1997, quando começou o uso de receptores GPS na mina N4 de Carajás, os ganhos em produtividade, a redução de custos e a maior qualidade nos serviços foram consideráveis. As equipes de topografia passaram a levantar 50,8 pontos/hora/homem contra 4,5 pontos/homem/hora antes da informatização. No caso das locações, a produtividade mais do que triplicou: de 2,8 pontos/homem/hora antes, passou-se para 7,8 pontos por homem/horas depois da implantação do sistema. Para um empreendimento do porte da mina de ferro de Carajás, onde são levantados mais de 50 mil pontos e locados mais de 33 mil pontos por ano, estes números são significativos.
A CVRD, que diz ter sido a 1ª mineradora brasileira a entrar na era GPS, não está sozinha nesta experiência. No mundo todo, grandes empresas de mineração estão descobrindo as vantagens de usar o posicionamento por satélite no planejamento da explotação (termo usado por mineradores para exploração) de jazidas de minérios. As vantagens são muitas.

A precisão atingida no levantamento e na locação de dados, tratados em softwares, é maior do que a de dados levantados manualmente, por fotos aéreas ou mapas planialtimétricos. Além disso, o processamento e a disponibilização dos dados para as áreas operacionais e de planejamento de lavra são feitos com muito maior rapidez.
Outro ganho é na diminuição de paralisações de frentes de trabalho. Com o uso dos satélites de posicionamento, que operam 24 horas por dia independentemente de condições de visibilidade, não é preciso esperar condições ideais para executar os trabalhos de topografia. Segundo José Roberto Komatsu Braga, gerente da área de Planejamento de Lavra a Curto Prazo de Carajás, apenas esse fato representou na mina N4 um aumento de produção da ordem de 15% no período de chuvas que, na região, dura 5 meses consecutivos.


Boaz Teixeira da S & C com o RTK 4000 Ssi diante de caminhão na mina de Carajás.

Com o uso do GPS a mão de obra necessária para a topografia de mina é bastante reduzida: são necessárias apenas 2 pessoas por equipe para os trabalhos de locação e 1 pessoa para os trabalhos de levantamentos topográficos. Atualmente o efetivo total da topografia de Carajás, para atender a demanda de serviços exigida para os níveis de produção da ordem de 100 milhões de toneladas, é de 8 pessoas. Com a topografia convencional seriam necessárias 24 pessoas

Com tudo isso, de acordo com Komatsu, a redução dos custos dos pontos locados e levantados chega a mais de 85%, com relação à topografia convencional.

A tecnologia usada na explotação das jazidas – o GPS Cinemático em Tempo Real (RTK) – está hoje presente em mais de 150 minas em vários países. É comum nos EUA e, na América Latina, começa a se tornar usual no Chile. No Brasil, o mercado é tão promissor que a Santiago & Cintra, representante da Trimble no Brasil, abriu em agosto um escritório em Belo Horizonte para gerenciar este setor. De acordo com Boaz Teixeira, gerente do novo escritório da S&C, a Trimble responde pela venda de cerca de 80% dos equipamentos GPS para topografia de minas no mundo.
O sistema de Carajás, por exemplo, no qual foram investidos US$120 mil, utiliza receptores Trimble modelo 4000 SSI. Além de 2 estações móveis foi comprada também 1 fixa, usada para processar as correções diferenciais dos sinais recebidos pelas estações móveis.

Os equipamentos são usados para os fins mais variados:
 levantamentos planialtimétricos de áreas de futuras minas ou depósitos de estéril (minério sem valor comercial);
 locação de furos de sondagem geológica;
 delimitação de áreas a serem lavradas nas frentes de lavra;
 limites de deposição de estéril nos depósitos em operação;
 levantamentos das cristas das bancadas;
 locação de projetos de drenagem, rampas e acessos.

Recentemente, a CVRD de Itabira (MG) também adotou o GPS como instrumento de topografia na mineração. Depois de 1 semana de teinamento, os técnicos das minas de ferro do Cauê e da Conceição começaram a usar em julho deste ano 3 equipamentos GPS System 300 tipo SR9500, da Leica. De acordo com Francisco Bernardino, técnico especializado em produção da CVRD, a implantação do equipamento ainda é muito recente para uma avaliação definitiva. "Mas já é possível afirmar que a tendência é o crescimento do uso desta tecnologia. Principalmente pela rapidez da resposta, fator fundamental no competitivo mercado de mineração atual", diz Bernardino.


Equipamento da Leica usado na mina de Itabira

Outra que se aventurou no uso de posicionamento por satélite foi a Ferteco. A empresa, que é filial de uma siderúrgica alemã, adquiriu em maio de 1997 o equipamento que usa na explotação de suas minas na região de Congonhas (MG). Além das atividades já mencionadas, o GPS também tem sido empregado pela Ferteco em projetos como a construção do porto de Sepetiba (RJ). O agrimensor de minas Rainer Kuchenbecker, assessor de Controle e Planejamento Industrial, reitera que rapidez no serviço, precisão de resultados, economia e praticidade são os pontos positivos do equipamento. "Com o aumento na quantidade de serviço e a exigência de resultados mais detalhados, precisos e rápidos, o GPS tem ajudado bastante".

A aprendizagem da operação dos receptores é trabalhosa no início. Exige conhecimentos de topografia, geodésia e inglês. Mas vale a pena com o passar do tempo e a prática acumulada. Na CVRD de Carajás, topógrafos e geólogos receberam treinamento inicial de 1 semana para aprender funções básicas. Depois tiveram mais 2 meses de curso, com lições mais detalhadas e aperfeiçoamento. Na Ferteco, o treinamento foi de apenas 1 semana.

O GPS tem se revelado uma ferramenta de trabalho tão eficaz na mineração que já está sendo usado para otimizar outras atividades nas áreas de explotação de minas. Em Itabira, por exemplo, há 2 anos é utilizado um sistema conhecido como GPS do despacho. Receptores colocados em cada peça do maquinário fornecem informações sobre posicionamento de caminhões, perfuratrizes, escavadeiras e equipamentos auxiliares. Com isso, o sistema permite, além de monitoramento e orientação de equipamentos, um melhor aproveitamento dos fora de estrada — caminhões usados no transporte (despacho) dos minérios e que podem suportar até 240 toneladas de carga. Em Carajás também está prevista implantação de sistema semelhante até o início de 1999.


Técnico com o GPS em Congonhas