Por Rogério Galindo com colaboração de Maria da Conceição Lass e Oscar Schmeiske

Considerada como uma das cidades mais bem planejadas do Brasil, Curitiba é também conhecida como um dos principais centros geotecnológicos do país. Esses dois fatores talvez tenham mais relação entre si do que se poderia imaginar à primeira vista. Desde 1.984, quando as primeiras idéias de geoprocessamento foram implantadas pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), órgão da Prefeitura Municipal encarregado do planejamento, a adoção de ferramentas ligadas ao geoprocessamento tem crescido constantemente e ajudado a resolver os mais variados problemas da cidade.
Hoje, com um setor de geoprocessamento que conta com uma equipe de quase 20 técnicos, o Instituto tem no uso de informações georreferenciadas uma de suas principais ferramentas para prever e desenvolver soluções para o planejamento de Curitiba.

Histórico
O processo de implantação do Geoprocessamento no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC, constituiu as bases para o posterior desenvolvimento na Prefeitura de Curitiba.

As idéias iniciais, surgidas em 1.984, implicaram a adoção de uma metodologia de sistematização de informações para a realização de análises para intervenções urbanas e apoio a planos de desenvolvimento da cidade.

"Neste contexto realizou-se a primeira experiência piloto em um bairro de Curitiba já com uma abordagem avançada para a época", conta a geógrafa Maria da Conceição Lass, uma das participantes do projeto pioneiro e atual chefe do Setor de Geoprocessamento do IPPUC. No trabalho foram definidas alternativas para um melhor gerenciamento (armazenamento, atualização e cruzamento) das informações necessárias ao planejamento.

Mas foi em 1.989 que se deu o impulso definitivo à história do geoprocessamento Municipal com a elaboração do Plano Diretor para a Implantação do Geoprocessamento em Curitiba e a criação do Setor de Geoprocessamento no IPPUC.

Inicialmente, a equipe era composta apenas por um arquiteto, um geógrafo e um desenhista. Contudo, com o ambiente formado pelo IPPUC, realizou-se a transformação do acervo gráfico convencional para a forma digital. E o mais importante, diz Conceição, é que o citado Plano definiu diretrizes e procedimentos básicos que permanecem até hoje:

 a criação da Base de Referência Espacial de Curitiba, tida como base única para a formação do Banco de Dados Georreferenciado e mantida com o mesmo grau de atualização para todos os usuários envolvidos;
 a adoção de uma codificação espacial padrão de referência, composta por bairro, quadra, lote e trecho de rua;
 a implantação de procedimentos para garantir a manutenção permanente da Base Cartográfica visando efetivar a atualização e confiabilidade da Base de Referência Espacial.

Circular Sul, novo eixo de transporte coletivo em Curitiba

Em 1.990, o IPPUC firmou um Convênio de Cooperação Técnica com a Companhia Paranaense de Energia – COPEL, a Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR e a Telecomunicações do Paraná S.A.- TELEPAR para a contratação conjunta de serviços de Cartografia e o estímulo à integração de informações. Esta foi uma solução compartilhada para atender às necessidades comuns de mapeamentos cartográficos com a otimização de investimentos e o estabelecimento de normas para a padronização das informações.

Em 1.993 foi concluída a Base de Referência Espacial pelo IPPUC e distribuída para as demais Secretarias Municipais que implantavam um núcleo inicial de Geoprocessamento. Com o término dessa Base, a Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba assumiu a sua manutenção por ser competência dessa Secretaria a geração da Planta Cadastral Imobiliária da Cidade.

Neste período também foram desenvolvidas metodologias para a produção de mapeamentos automatizados e editoração gráfica de informações temáticas diversas. Entre as aplicações desenvolvidas vale a pena citar como exemplo os seguintes mapeamentos: demografia, arruamento, atividades econômicas, divisas administrativas e operacionais, zoneamento e uso do solo, equipamentos urbanos, subabitação, pavimentação urbana, entre outros.

Considerando que a prefeitura de Curitiba tem se destacado no país pelo uso de Sistemas de Informações no processo de planejamento e gerenciamento urbano, a área de geoprocessamento ganhou espaço e reconhecimento para receber novos investimentos. Neste contexto, em 1.995, o município de Curitiba foi contemplado com um investimento do BID (Banco Inter-Americano de Desenvolvimento) para a implementação de um Sistema de Informações Geográficas (GIS) envolvendo a aquisição de hardware e software, treinamento, desenvolvimento e fortalecimento institucional.

Em 1.996 constituiu-se um grupo composto por representantes das várias secretarias municipais para a realização do levantamento de necessidades, definição de requerimentos básicos e recomendações para subsidiar a elaboração do edital de licitação para a contratação de serviços de implementação do Sistema de Informações Geográficas de Curitiba. Em 1.997 efetivou-se o processo licitatório para a contratação de uma solução definitiva para o geoprocessamento municipal.

PLATAFORMAS
O IPPUC iniciou os trabalhos para a implantação do geoprocessamento com poucos recursos e até 1.993, época da conclusão da elaboração da Base de Referência Espacial, contava com o seguinte ambiente: um microcomputador AT 286; quatro microcomputadores 486; uma mesa digitalizadora A0 e uma plotter de pena colorida A0. O software adotado foi o MaxiCAD para a elaboração da Base de Dados Gráficos e na produção de mapeamentos automatizados e também o dbMAPA para o correlacionamento dos dados gráficos aos dados tabulares, permitindo algumas análises temáticas.

Com o avanço dos trabalhos e o surgimento de novos núcleos de geoprocessamento na Prefeitura de Curitiba, evidenciou-se a necessidade de uma solução com características de um Sistema de Informações Integrado para o armazenamento e gerenciamento do grande volume de dados espaciais e tabulares. Adotou-se inicialmente um sistema chamado Geographic Facilities Information – GFIS, com o propósito de ser utilizado como plataforma corporativa para a manutenção da Base de Referência Espacial. A Secretaria Municipal de Urbanismo – SMU, iniciou a atualização da Base no ambiente GFIS e teve assessoria do Centro de Processamento de Dados (atual ICI, Instituto Curitiba de Informática) do IPPUC para a implementação e integração com o ambiente já existente no mainframe IBM. Apesar da tentativa de disponibilizar o GFIS aos diversos usuários, o processo de migração (ou desenvolvimento) foi muito lento e os problemas ocorridos com essa plataforma para a atualização dos lotes praticamente suspenderam a implementação do sistema.

Figura 1: solicitação do edital para aquisição de solução de geoprocessamento do IPPUC.

Em 1.997, com a licitação, foram incluídos como solução completa de geoprocessamento: a aquisição de hardware e software GIS, uma rede de alta velocidade, suporte técnico, treinamento e desenvolvimento de aplicativos (fig.1). A vencedora da licitação foi a GEMPI – Gestão Empresarial & Informática Ltda., e como plataforma serão utilizados:

 o software Arc/Info para desenvolvimento;
 o Arc View para visualização dos dados e análises;
 as extensões Spatial analyst, 3D Analyst, e o Network Analyst;
 os softwares de disponibilização de dados Map Server (via Internet) e o Map Object (gerador de aplicativos).

Além disso, foi implantada também uma rede de cabos de fibra ótica, conhecida como Rede Geo, que interliga os órgãos participantes do Geoprocessamento de Curitiba para transmissão em alta velocidade de dados e permite a utilização de uma base única em conjunto. "Antes a comunicação era muito arcaica e acabava atrapalhando o trabalho em conjunto do IPPUC com as secretarias municipais", diz Oscar Ricardo Schmeiske, assessor de informática do IPPUC.
Hoje a solução está quase totalmente implantada, principalmente na parte de hardware e software. Além das três estações gráficas que ficam na própria sede do IPPUC, operando em sistema UNIX, algumas outras foram instaladas nas secretarias da prefeitura que mais usam informações de geoprocessamento (como as de obras, urbanismo, saneamento, transporte, administração e meio ambiente). Para as demais secretarias, e como complemento às estações gráficas destes órgãos, vários microcomputadores equipados com sistema operacional Windows NT foram adquiridos.

APLICATIVOS
Com os recursos implantados até o momento foram gerados mapas temáticos e analíticos através da automatização das informações gráficas e também do correlacionamento entre o banco de dados gráfico e alfanumérico. Com tais aplicações a Administração Municipal vem sendo apoiada nos últimos anos para a execução de suas atividades e o cumprimento de funções de análise à tomada de decisões.

Dentre as mais recentes aplicações desenvolvidas podem-se citar:

 Elaboração do Mapa de Curitiba em CD ROM. Atendendo à grande demanda por parte de usuários que desenvolvem trabalhos em meio digital foi disponibilizado ao público o Mapa de Arruamento de Curitiba em CD ROM. Esta base oferece todas as informações já mapeadas durante 20 anos em meio analógico e ainda viabiliza consultas de localização de logradouros, por quadrícula, a partir de suas denominações.
 Análise de informações para o Plano de Ação de Combate aos Efeitos do EL NIÑO.

Objetivando buscar soluções para a prevenção e o atendimento emergencial dos efeitos causados por este fenômeno, foram correlacionadas as seguintes informações existentes no banco de dados: áreas sujeitas a inundações com áreas de assentamento populacional e equipamentos urbanos de apoio; rios principais e localização da incidência de doenças hidroveiculadas; ocorrência dos efeitos causados e áreas de abrangência por Administração Regional.

Figura 2: projeto Linhão do Emprego.
Infra-estrutura e equipamentos de atividades produtivas.

Figura 3: equipamentos urbanos municipais.
Destaque do bairro Sítio Cercado com detalhe do lote selecionado.

Apoio ao Projeto Linhão do Emprego.

Considerado como um dos projetos estratégicos de maior amplitude na atual gestão municipal, o Linhão do Emprego tem por objetivo implantar – ao longo das linhas de transmissão de energia elétrica na cidade – sistema viário e equipamentos urbanos, visando capacitação de pessoas e geração de empregos. O geoprocessamento tem apoiado a realização de diagnósticos e análises, na identificação e localização dos lotes beneficiados e na apresentação da área de abrangência com infra-estrutura e equipamentos de atividades produtivas. (Fig. 2)

Implementação do Cadastro de Equipamentos Urbanos.
O cadastro dos equipamentos municipais inicialmente armazenados somente na forma gráfica recebe agora a inclusão dos seus respectivos atributos registrados no Banco de Dados Alfanumérico. Esse procedimento ocorre a partir do correlacionamento da base gráfica à tabelas de atributos através da codificação cadastral comum (inscrição imobiliária) do lote. (Fig. 3)

Como resultado, tem-se a ilustração da posição gráfica do equipamento no lote com os respectivos registros: código do equipamento, nome, dependência administrativa, endereço, gestão, número de salas, capacidade, ano de inauguração, decreto de criação, área total e área construída.

Desta forma efetiva-se a manutenção permanente das informações atrelada aos órgãos responsáveis pela sua geração, para a imediata disponibilização de dados solicitados.

Barracão empresarial do Linhão do Emprego no Bairro Novo

Bairro Novo, em Curitiba

Dentre os aplicativos previstos para a fase inicial de implantação do Projeto Geo Curitiba (solução contratada de geoprocessamento) destaca-se o Sistema para Cadastro de Entidades Gráficas. Este sistema se destina a ser um instrumento de introdução à cultura do geoprocessamento aos usuários que, no momento, não têm suas estações de trabalho conectadas à rede Intranet, fazendo com que estes usuários possam gerar demandas objetivas.

O aplicativo produz algo como um pequeno software de GIS para atender necessidades esporádicas. Exemplo: o diretor de um posto de saúde deseja analisar estatisticamente sua suspeita de ocorrência de uma epidemia de meningite, em função do alto número de atendimentos efetuados naquele local e visualizar seus resultados geograficamente.

Através do cadastro de seus clientes em uma tabela de dados, ele agrupa seus clientes em função das causas de busca de seu posto e através de gráficos visualiza sua relação com as médias de ocorrência do passado. Confirmada sua suspeita, através do endereço de seus clientes, faz uma identificação por símbolo sobre o mapa e tem então referência geográfica para as ocorrências que deseja. "Este sistema vai permitir que a análise seja possível sem que se use todo o aparato mais sofisticado. Será mais ou menos como um Word do Geoprocessamento", diz Schmeiske.

Em julho do ano passado, o projeto curitibano, resultante de todos os avanços conquistados nestes anos de trabalho, foi premiado na categoria de melhor proposta para área urbana, durante a Convenção de Usuários ESRI em San Diego. Este evento reuniu projetos de todo o mundo (exceto EUA e Canadá). Na avaliação de Oscar, "o mais importante foi dar à equipe a certeza de que estão no caminho certo, afinal foi um grupo de experts que analisou e premiou nosso projeto."

Mais informações sobre o projeto de GEO no IPPUC podem ser obtidas através do seguinte e-mail: geo@ippuc.curitiba.pr.gov.br