A revista InfoGEO entrevistou Bruno Rodrigues do Prado, coordenador de projeto da empresa Imagem, que foi palestrante do XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), que aconteceu entre 25 e 30 de abril no Centro de Convenções de Natal (RN).

Bruno Rodrigues do PradoInfoGEO: Qual a sua avaliação do XIV SBSR? Quais foram os principais destaques de suas palestras no evento?
Bruno Rodrigues do Prado: O XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto (XIV SBSR) é sempre um evento de destaque, tanto pela sua produção científica quanto pelo encontro proporcionado entre os usuários de geotecnologias, permitindo a troca de experiências entre profissionais e a ampliação do conhecimento em inúmeras aplicações.
O evento abrangeu sessões especiais e workshops, sessões orais de apresentação e uma série de trabalhos científicos apresentados nas sessões de pôsteres. O SBSR possibilitou o encontro com a pesquisa e as tendências do sensoriamento remoto. Foi possível identificar as novas áreas e aplicações em que as geotecnologias estão sendo utilizadas, visualizando a expansão do sensoriamento remoto em outras áreas do conhecimento.
Os trabalhos apresentados por mim estão inseridos dentro da linha de pesquisa de monitoramento do uso e cobertura da terra no ambiente amazônico. Nesse sentido, foram apresentadas abordagens de identificação e processamento digital de imagens para o mapeamento dos processos de alteração da superfície, com destaque para a utilização das imagens de radar do sensor ALOS/PALSAR. Novos trabalhos, utilizando imagens de radar, estão sendo desenvolvidos com o intuito de gerar metodologias para um monitoramento mais frequente e abrangente das alterações na superfície desse ecossistema.

IG: Quais os diferenciais dos dados obtidos com sensores ópticos, radar ou laser? Quais as principais aplicações desses dados?
BRP: Os dados obtidos por sensores ópticos, radar ou por sensores laser apresentam diferenciações que são inerentes aos processos de aquisição e ao tipo de radiação eletromagnética utilizada para o imageamento.
De modo geral, os dados ópticos permitem a aquisição de informações relacionadas às características físico-químicas dos alvos, mas são limitados pelas condições atmosféricas de nebulosidade, gerando informação das porções do espectro relativas ao visível e ao infravermelho. São aplicados para o monitoramento de diversos alvos e fenômenos, pois cada banda coletada proporciona informações diferenciadas de acordo com o comprimento de onda incidente e pela interação do alvo com a radiação. Podem ser aplicados para o monitoramento agrícola, desflorestamento, identificação de espécies vegetais, mapeamento geológico e análises estruturais, delimitação de áreas alagáveis, etc.
Os dados de radar adquirem informações relacionadas à geometria e ao conteúdo hídrico dos alvos. O radar utiliza um comprimento de onda que pode variar de 1 a 100cm, além de possuir sua própria fonte de iluminação (sensor ativo). Esses comprimentos de onda permitem a aquisição de imagens em condições climáticas adversas, mesmo com a existência de nuvens, fumaça ou neblina. Os dados de radar podem ser utilizados para inúmeras aplicações, com destaque para o monitoramento do uso e cobertura do solo, detecção de mudanças em diferentes ambientes, mapeamento temático, geração de modelos digitais de elevação, monitoramento e vigilância costeira, etc.
O dado laser, do mesmo modo como os sistemas de radar, também é gerado por sensor ativo. O imageamento por laser dispensa maiores atenções relacionadas à geometria de iluminação (ângulos zenitais e azimutais). O imageamento por laser permite a obtenção direta de coordenadas tridimensionais do terreno, dispensando a necessidade de paralaxe, inclusive mapeando o terreno abaixo do dossel arbóreo (fato impossível de se realizar através da estereoscopia de dados ópticos). Os dados laser podem ser aplicados para o mapeamento em 3D, na previsão de desastres (monitoramento de movimentos de massa), geração de modelos digitais de terreno e de superfície, extração automatizada de feições, projetos de engenharia (topografia digital de altíssima precisão).

IG: Qual a proporção entre os mercados de levantamentos por radar, óptico e laser? Qual mercado tem mais potencial de crescimento?
BRP: Atualmente os dados ópticos concentram a maior fatia do mercado. Seu potencial de crescimento aponta para a utilização de sensores de alta resolução espacial, espectral e maior flexibilidade e capacidade de coleta, com destaque para o satélite WorldView-2, com previsão de lançamento ainda para esse ano.
O emprego de dados de radar e dados laser dispõe de uma grande potencial de crescimento, atendendo necessidades específicas que o mercado já sinaliza. Limitações impostas por ambientes com restrições de nebulosidade e a necessidade de imageamento contínuos e emergenciais já começam a ser supridas, com destaque para a constelação COSMO SkyMed. O mercado a laser também tem destaque, devido à inerente evolução da cartografia 2D para a cartografia 3D. Além disso, existe uma tendência para a substituição de levantamentos topográficos manuais por levantamentos remotos em altíssima resolução.

IG: Qual a melhor tecnologia para acabar com o "vazio cartográfico" na Amazônia?
BRP: Em regiões tropicais a cobertura de nuvens dificulta a utilização dos sensores ópticos orbitais, pois é sempre elevada ao longo do ano. Nesse contexto, os sensores radar se tornam uma alternativa viável para obtenção de imagens, pois permitem a geração de dados para a identificação dos elementos de cobertura e alteração da superfície. Com a combinação de sensores radar polarimétricos e em diferentes bandas a capacidade de imageamento e identificações de feições de interesse se torna ainda maior. Nesse sentido, as imagens de radar devem ser consideradas como a uma alternativa viável para o mapeamento do “vazio cartográfico” na Amazônia.

IG: Como você avalia a atuação da Comissão Nacional de Cartografia (Concar) na organização do mapeamento sistemático do Brasil?
BRP: A Comissão Nacional de Cartografia (Concar) tem um papel fundamental na organização do mapeamento sistemático brasileiro, uma vez que tem por função assessorar o Ministério de Estado na organização do Sistema Cartográfico Nacional, coordenando a política cartográfica brasileira. Nesse sentido, se destaca o desenvolvimento e implantação da Infra-Estrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE), uma iniciativa para a estruturação dados espaciais em âmbito nacional.

IG: Quais as principais novidades do mercado de geotecnologia que deverão ser apresentadas pela Imagem no período 2009-2010?-
BRP: As novidades da IMAGEM para 2009-2010 estão relacionadas à melhoria nas soluções GIS e na capacidade de imageamento em todo país. Dentre elas, posso destacar o ImageConnect, novo serviço da DigitalGlobe que permite o acesso às imagens de alta resolução diretamente de seu servidor, o lançamento do satélite WorldView-2, previsto para meados do segundo semestre, o incremento da constelação COSMO SkyMed, com o COSMO SkyMed 4, o lançamento ESRI do ArcGIS 9.3.1 e novidades no software ENVI que está em sua versão 4.6.

IG: Qual a sua perspectiva para os próximos anos, contando que o mercado de geotecnologia passa por um período de dificuldades financeiras globais?
BRP: O mercado, de um modo geral, continua carente de geotecnologias. A crise impactou uma série de segmentos produtivos, e nesse cenário as geotecnologias passam a ser ainda mais necessárias, pois possibilitam a otimização de custos e a gestão de variáveis geográficas de forma mais assertiva. As geotecnologias podem subsidiar os processos econômicos na tomada de decisão, pois as definições realizadas a partir de informações de natureza espacial acuradas possibilitam maior entendimento dos fenômenos e processos.
  
IG: Como as tecnologias de Observação da Terra podem ajudar a combater os efeitos das mudanças climáticas globais?
BRP: As geotecnologias possibilitam o levantamento e o monitoramento da cobertura da terra, subsidiando análises e mapeamentos da condição atual da cobertura da superfície terrestre. A identificação da cobertura da terra indicará a distribuição geográfica dos padrões de uso existentes e alterações antrópicas decorrentes. Essa atividade é fundamental devido às evidências que remetem essas modificações aos acréscimos na emissão de gases do efeito estufa, com destaque para o dióxido de carbono (CO2), e a consequente mudança climática relacionada. Essas modificações na superfície ainda provocam redução da biodiversidade e impactos profundos sobre os ecossistemas locais, degradam os solos, criam tensões sociais e profundas alterações nos ciclos hidrológicos desses ambientes. Assim, torna-se necessário compreender e monitorar tais processos, avaliando as conseqüências no ciclo de carbono planetário e os impactos causados na biodiversidade.

A revista InfoGEO esteve presente no XIV SBSR a convite do Inpe.