Situação econômica do país e desenvolvimento do mercado tornam empresários do ramo de GEO otimistas. Faturamento pode dobrar em relação a 1.999.
Por Rogerio Galindo

Seria difícil imaginar previsões mais otimistas. Depois de um ano economicamente complicado como foi 1.999, empresários e representantes de associações comerciais de GEO concordam que 2.000 deve ser muito melhor do que se poderia imaginar. "Acredito que o faturamento do mercado deva mais do que dobrar neste ano", diz Enéas Brum, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Geotecnologias (AGTEC). Segundo Enéas, que também é diretor da Imagem Sensoriamento Remoto, é possível estimar que nos últimos 12 meses tenham sido investidos cerca de US$ 100 milhões em geotecnologias no país.

"Comercialmente, o ano de 99 só começou mesmo pra valer em julho", afirma Enéas. Para qualquer um que more no Brasil, não é preciso lembrar como foi o ano que passou. Desvalorização da moeda, juros altos, comércio em baixa. Tudo conspirou contra o desenvolvimento da atividade econômica no país.

Quem trabalha com geotecnologias também sentiu os efeitos da crise. "As empresas da ABITOPO tiveram uma redução de faturamento da ordem de 50%", afirma Eduardo Oliveira, diretor da empresa paulista Santiago & Cintra e presidente da Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Instrumentos Topográficos, Geodésicos e Aerofotogramétricos.

A grande maioria dos empresários não tem dúvidas ao apontar a perda de valor do dinheiro brasileiro frente ao dólar como o fator mais importante na diminuição das vendas. Gether Mello, diretor da Trimbase, no Rio de Janeiro, por exemplo, diz que se viu em apuros principalmente no primeiro semestre. Sua empresa vende principalmente equipamentos GPS, que são importados de outros países.

João Vassalo, da carioca Threetek, que também trabalha basicamente com produtos importados (imagens do satélite Radarsat e softwares da linha PCI) afirma que teve que adotar uma estratégia diferente em 1.999. "Foi preciso convencer as empresas que nos vendem os produtos a diminuir seus preços em dólares, para podermos ficar competitivos, além de fazer negociação caso a caso", diz ele.

Apesar disso, algumas pessoas do setor afirmam que o segundo semestre – que trouxe a estabilização da nova taxa de câmbio – foi menos impiedoso e que foi possível recuperar o tempo perdido. No entanto, Vassalo é o primeiro a dizer que ninguém pode afirmar de sã consciência que o ano foi bom. "Só se estiver querendo impressionar", avisa.

Iniciativa privada
A recuperação econômica do país (embora ainda não seja completa) é um dos principais fatores que fazem com que os empresários estejam otimistas para o próximo ano. Mas não é o único. Há outras componentes que podem ser vistas no horizonte e que são favoráveis a um crescimento do mercado de GEO no Brasil.

Enéas Brum, presidente da AGTEC, acha que negócios podem duplicar neste ano.

Enéas Brum é incisivo: a principal mudança no mercado é o aumento da participação da iniciativa privada no setor. Até há pouco tempo, empresas da maioria das áreas deste setor dependiam quase que exclusivamente do governo para ter trabalho. Hoje, em parte devido ao processo de privatização, isto deixou de ser verdade. "Acredito que em 2.000, os contratos com governos não representem mais do que 10 ou 15% do total de investimentos nesta área", afirma Enéas.

Talvez o setor que tenha tido maior importância nesta transição seja o de utilities. Depois da venda de empresas fornecedoras de serviços como energia elétrica e telecomunicações, as novas prestadoras começaram a se organizar a partir dos elementos mais básicos para seu crescimento. Isso, obviamente, inclui ter uma base cartográfica atualizada e digital da região em que atuam.

Mas não é apenas esta área que tem crescido. Aplicações como rastreamento e roteirização de veículos, geomarketing e agricultura de precisão têm sido fundamentais para uma divulgação mais ampla e para o aumento do uso das tecnologias de referenciamento geográfico. "O mercado está mais maduro, mais competitivo e mais bem informado", resume Eduardo Oliveira.

Na área de topografia também vem diminuindo a importância das verbas governamentais. De acordo com Eduardo Oliveira, a vertente de levantamento voltada para o GIS, que é dominada pela iniciativa privada, é a que mais vem crescendo recentemente. Atualmente, já chega a 50% do total do faturamento das empresas do setor. "O que sempre depende de investimento governamental é o setor de infra-estruturas", diz ele. Mas, até nesse ponto, 2.000 promete ser um ano generoso com o GEO. Por ser um ano eleitoral, é de se prever que vão ser feitos mais investimentos em compra de equipamentos como estações totais e receptores GPS para realização de obras.

Assim, mesmo quem ainda depende do dinheiro público para se manter no mercado tem motivos para comemorar esta virada de ano. É o caso das empresas de aerofotogrametria. Segundo Antônio Cobo Neto, da Base Aerolevantamentos e presidente da Associação Nacional de Empresas de Aerolevantamento (ANEA), diz que cerca de 95% do total de investimentos do setor ainda vem dos cofres da administração oficial.

Outro fator importante que faz prever mais crescimento é o próprio desenvolvimento da tecnologia. Laurent Martin, diretor da empresa de comercialização de imagens de satélite, Engesat, cita a sua área de atuação como exemplo. Segundo ele, com a maior oferta de dados (decorrente do aumento de satélites em órbita) e com a diminuição de preços, o volume de vendas tem crescido bastante nos últimos anos. "Para 2.000, acho possível que tenhamos um crescimento de 100% no volume de negócios", arrisca Laurent.

Fernando Schmiegelow, gerente de marketing da Sisgraph, lembra que também a popularização das tecnologias tem sido importante para o aumento das vendas. Cada vez um número maior de pessoas conhece e usa ferramentas como o GIS, principal produto da empresa paulista. "Considero também como positiva a nova feira do setor, o GEOBrasil. O fato de haver uma exposição de grande porte em São Paulo, que é o centro econômico do país, vai aumentar ainda mais a popularidade da geoinformação", diz Fernando, se referindo ao Congresso e Feira internacionais que a Alcantara Machado Feiras de Negócios promoverá em junho próximo no Palácio de Convenções do Anhembi.

O editor da revista infoGEO, Emerson Granemann, também é um otimista no que se refere a 2000. "Concordo com a expectativa de alto faturameto do mercado de GEO no Brasil, principalmente se pudermos somar os faturamentos das inúmeras empresas de conversão de dados, levantamentos topográficos e cadastrais espalhadas pelo país".

Mas completa dizendo que "o mercado poderia ser ainda mais forte se as associações de empresas, como ANEA, AGTEC e ABITOPO, tivessem uma atuação mais organizada, determinada e ágil visando conseguir mais investimentos no setor e se preparar melhor para tirar maior proveito dos efeitos da globalização, que se por um lado está permitindo a entrada de empresas estrangeiras no país, também pode ajudar a abrir mercados internacionais para as empresas brasileiras".

O aumento do mercado de GIS e de geotecnologias em geral no Brasil é tão grande que está trazendo impactos para o próprio perfil das empresas no país. A primeira conseqüência, e talvez a mais importante, é a abertura do mercado, que traz a internacionalização dos negócios. Segundo Enéas Brum, em 99, 30% do mercado foi ocupado por empresas européias, canadenses e americanas. O presidente da AGTEC avalia que esta participação, em 2.000, pode ser de 40%.

"Não há empresas suficientes para atender toda a demanda que está havendo", afirma Enéas, tentando explicar o fenômeno". E as que existem nem sempre estão preparadas", continua o empresário, que diz ainda que muitas empresas devem ser ejetadas do mercado ou se aglutinar para poder sobreviver.

Internacionalização

Como era o mercado:
– Dependente de verbas governamentais
– Restrito a empresas nacionais
– Usuários especialistas

Como fica:
– Mais verbas de empresas privadas
– Internacionalizado
– Tecnologia mais popular