O início da comercialização das imagens com resolução de 1 metro do satélite IKONOS 2 colocou a norte-americana Space Imaging em uma posição vantajosa no mercado mundial de sensoriamento remoto. Na América Latina não é diferente. Somente no primeiro trimestre deste ano a empresa já faturou o equivalente a todo o ano fiscal de 1999 no mercado latino-americano, sendo grande parte desse mérito creditada ao IKONOS 2. Nesse cenário o Brasil aparece com destaque, respondendo por quase 50% da movimentação financeira da empresa na região. Nesta entrevista, o diretor territorial para a América Latina da Space Imaging, Nisso Cohen, fala das estratégias da companhia para o Brasil e anuncia um plano ambicioso: dobrar seu faturamento no mercado latino-americano.

Nisso Cohen

infoGEO – Qual foi o faturamento da Space Imaging no ano fiscal de 1999? A empresa espera que o IKONOS 2 alavanque esse número no ano corrente? Qual a expectativa de incremento na receita com o satélite de alta resolução IKONOS 2?

Nisso Cohen – A Space Imaging é uma companhia privada, e eu não estou autorizado a divulgar dados a respeito do faturamento da empresa. Posso informar, porém, que o crescimento em 1999 foi espetacular, com índices superiores a 40%. Fora isso, o IKONOS com certeza irá aumentar dramaticamente o faturamento da companhia.

Para efeito de comparação, na América Latina somente no primeiro trimestre deste ano nós superamos a receita do ano passado inteiro. Com o novo satélite, esperamos aumentar o faturamento de 2000 em mais de 100% em relação ao ano fiscal de 1999.

infoGEO – Quanto foi investido no projeto IKONOS (incluindo os dois satélites lançados) e quando se espera que o IKONOS 2 cubra seu investimento inicial e traga retorno financeiro à empresa? O que houve com o primeiro satélite, o IKONOS 1?

Nisso Cohen – O investimento foi de mais de 500 milhões de dólares. Não posso prever quanto tempo iremos levar para recuperar esse investimento, mas a grande aceitação por parte da comunidade mundial às imagens de 1 metro de resolução nos deixa confiantes em relação a esse retorno. Deve-se entender que os parceiros do projeto não investiram na Space Imaging com expectativa de retorno imediato de capital, é um investimento de longo prazo feito por companhias com visão e confiança no potencial das imagens de satélite com 1 metro de resolução, que são uma ótima ferramenta para a tomada de decisões e desenvolvimento de novas soluções empresariais.

Houve um problema com a cápsula que protegia o primeiro satélite, IKONOS 1, que deveria separar-se da estrutura no último estágio do lançamento, mas que desprendeu-se tarde demais, gerando um peso adicional que forçou a reentrada do satélite na atmosfera terrestre. Dessa forma, o satélite caiu no oceano Pacífico.

infoGEO – Quantas e quais empresas participam do consórcio que controla o IKONOS 2? Como o projeto foi concebido inicialmente, sempre foi de caráter comercial ou tinha algum vínculo com agências governamentais?

Nisso Cohen – Há algumas empresas, sendo que os investidores mais importantes são Lockheed Martin, Raytheon, Mitsubishi e Hyundai Space Industry, entre outros.

O projeto do IKONOS sempre foi direcionado à comercialização e uso civil. Mas possuímos vários clientes governamentais, bem como companhias privadas ao redor do mundo.

infoGEO – Qual a importância da América Latina no quadro global de clientes da Space Imaging? Quanto ela representa em termos de faturamento e em que posição o Brasil aparece no cenário latino-americano?

Nisso Cohen – Acredito que existe uma grande carência por imagens na América Latina. Para ilustrar isso, o IDB (International Database, um banco de dados digital que armazena estatísticas demográficas e sócio-econômicas de 227 países do mundo) informa que 72% das municipalidades na região da América Latina não têm mapas de sua jurisdição nem em meio digital nem em papel. Estamos tendo uma grande demanda de imageamento especialmente de governos e agências governamentais locais. Como exemplo, a DANE, que é uma agência censitária da
Colômbia (o Instituto Cartográfico Augustin Codazzi é vinculado a ela) acabou de investir mais de 200 mil dólares na aquisição de imagens para atualizar os mapas das 20 principais cidades da Colômbia. Depois disso, deverão passar às localidades menores.

Temos vários pedidos vindos de diferentes países. Estou confiante que o faturamento na América Latina irá crescer a uma taxa superior que os outros países do mundo. No último ano a América Latina representou cerca de 5% do faturamento da Space Imaging, e eu acredito que neste ano esse número deve passar do dobro. Nesse cenário, o Brasil representa provavelmente a metade de toda a região se excluirmos o México.

infoGEO – Que projetos a empresa vem desenvolvendo em parceria com instituições brasileiras para estudar as imagens do IKONOS 2?

Nisso Cohen – Muitos estão no primeiro estágio. Como exemplo, estamos trabalhando muito próximos à Faculdade de Agricultura da UNICAMP para desenvolver ferramentas de uso das imagens IKONOS em programas agrícolas.

infoGEO – Que tipo de mercado a Space Imaging acredita que irá se interessar e pode ser abastecido por imagens IKONOS?

Nisso Cohen – A Space Imaging entende que a necessidade por imagens periódicas e de alta qualidade está crescendo com a demanda por informações na tomada de decisões dos mercados, Governos e mesmo atividades pessoais. À medida que a disponibilidade de informações geográficas em meio digital cresce, as pessoas estão encontrando usos outrora inimagináveis para esses dados. Há muitas possibilidades em mercados como Agricultura, Meio Ambiente, Recursos Naturais, Exploração de Recursos, Governos, Utilities, Infraestrutura, uso Internacional (verificação de tratados e sanções, por exemplo), Emergências, Seguradoras, Direito, Telecomunicações e Mídias.

infoGEO – A Space Imaging comercializa atualmente imagens de quantos satélites? A empresa irá adotar alguma estratégia especial de vendas para essas imagens ou concentrará esforços no IKONOS 2?

Nisso Cohen – Nós atualmente oferecemos imagens do Landsat 5, a constelação IRS e o IKONOS. Temos uma estratégia para cada sensor que comercializamos. O IKONOS apenas traz mais uma opção dentro do leque de imagens que oferecemos. Nós temos o Landsat 5, que oferece imagens multiespectrais de 7 bandas com precisão de 28,5 metros; o IRS C e D que oferecem imagens de 5m de resolução pancromática e 20m multiespectral em 4 bandas; e agora o IKONOS, com 1m pancromático e 4m multiespectral em 4 bandas.

infoGEO – A Space Imaging tem alguma política de fomento à utilização de imagens de satélites?

Nisso Cohen – Nós estamos atualmente expandindo nossa atuação ao redor do mundo, e a América Latina não é exceção. Entrei na companhia no começo deste ano como Diretor Territorial e com o desafio de desenvolver o mercado. Ulf Walter Palm, do Brasil, foi o primeiro a ser convidado para nosso time, e temos também Erik Oberg na nossa base central em Thornthon cuidando de todas as operações relativas à América Latina. Espero dobrar esse time até o final do ano. Também participamos diretamente pela primeira vez de um evento de Geotecnologias na América Latina, o GEOBrasil 2000 em São Paulo e fui convidado recentemente para ser palestrante em diferentes eventos na Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela. Finalmente, fortalecemos nosso canal de revendas com material de treinamento e suporte. Atualmente temos 10 revendedores no Brasil.

infoGEO – Imagens de 11 bits, como as geradas pelo IKONOS 2, tendem a se tornar padrão no mercado de sensoriamento? Existem hoje softwares eficientes de processamento de imagens de 11 bits?

Nisso Cohen – O advento dos 11 bits traz uma nova dimensão às imagens, e muitos clientes e revendedores estão começando a perceber a importância e o uso que pode ser feito dessa tecnologia. Citando um exemplo, durante as grandes enchentes que assolaram o litoral da Venezuela, as imagens IKONOS trouxeram uma ferramenta sem precedentes para as equipes de planejamento na reconstrução dos locais atingidos. A riqueza dos 2.048 tons de cinza das imagens 11 bits (contra os 256 tons das de 8 bits) ajudou a identificar mais claramente as áreas de montanha onde houve deslizamentos e calcular a correlação entre essas áreas instáveis, auxiliando na classificação dos pontos de baixo ou alto risco de desabamento para o planejamento de reconstrução das áreas. Sem os 11 bits tudo isso não seria possível.

Quase todas as grandes empresas desenvolvedoras de softwares abraçaram a causa dos 11 bits e hoje oferecem programas que podem trabalhar com o nosso formato de pixels. Mas podemos também entregar imagens em preto e branco no formato de 8 bits, se o cliente assim solicitar.

infoGEO – O sr. afirmou durante o GEOBrasil 2000 que "a Space Imaging está mudando o paradigma de imagem". Como está se dando esse processo, onde deve terminar?

Nisso Cohen – Estamos trazendo uma nova dimensão às imagens disponíveis no mercado. Primeiro a resolução de 1m, que é um enorme avanço em se tratando de imagens de satélites, segundo vem o formato 11 bits, que também está dando uma nova e enriquecida informação para cada pixel, coisa que nenhum dos sensores remotos era capaz até então (tanto orbitais quanto aéreos). Depois vem a flexibilidade de agendamento de serviços ao satélite, com uma taxa de revisita de 3-4 dias mantendo o 1m de precisão em qualquer lugar do mundo. Outro avanço são as imagens pansharpened com 1m de resolução e em cores verdadeiras – oferecendo mais detalhes ao cartógrafo. Finalmente, acredito que a viabilidade dessas novas imagens vai mudar significativamente o mercado.

infoGEO – Empresas como EarthWatch e Orbimage anunciam satélites com resolução de até 0,82m para este ano. Como a Space Imaging enxerga a concorrência e como está se preparando para enfrentá-la?

Nisso Cohen – Primeiramente gostaríamos de mencionar que o IKONOS é um sistema de 0,82m de resolução, mas esse dado é referente apenas ao Nadir (nome dado ao ponto onde o posicionamento do satélite no espaço é perpendicular à superfície a ser imageada na Terra), fato que os concorrentes se esquecem de mencionar. Dentro de um ângulo de 26º o IKONOS produz imagens com 1 metro de resolução. Essa capacidade de angulação eu entendo como muito superior aos satélites da concorrência e nos dá uma freqüência maior para a revisita.

Nós também entendemos que haverá mais concorrência a partir do próximo ano, até lá estaremos preparados e com uma estrutura maior em funcionamento, incluindo clientes já acostumados a usar nossos produtos. Competição é sempre bom, pois nos força a ser mais eficientes e sempre desenvolver novas ferramentas para melhorar e satisfazer nossos clientes. Estamos também trabalhando nas especificações para um IKONOS Block2, de uma nova geração de satélites que esperamos lançar entre 2003 e 2004. Essa nova geração estará produzindo imagens ainda melhores, e a precisão provavelmente será inferior a meio metro. Mas ainda é um tanto cedo para entrar em detalhes.