Um produto barato, simples e de grande utilidade

Imagine que uma prefeitura X necessita de algum instrumento que lhe permita ter uma visão total da cidade que administra, para planejar melhor e mais rapidamente suas ações. Para alcançar seus objetivos a administração dispõe de algumas opções: comprar imagens de satélites convencionais ou de satélites de alta resolução, ou contratar serviços para obter uma ortofoto ou um mapa de sua cidade. Imagens de satélite oferecem limitações com relação à escala, geralmente muito pequenas. Contratar imagens de um satélite de maior resolução pode ser uma alternativa cara e demorada, e que ainda pode não alcançar escalas muito maiores.

Fazendo uma pesquisa de custos a administração percebe que a compra de ortofotos ou mapeamento digital são alternativas inviáveis pelo fator custo. A prefeitura não dispõe de verba, no momento, para executar o serviço.

Com algum dinheiro em caixa, esta prefeitura poderia optar por executar aerofotogrametria e até 50% do valor da imagem de satélite em mesma escala.

Com a fotografia aérea métrica em mãos poderá fazer diversas análises qualitativas da região – como verificar áreas de expansão, regiões com cadastro desatualizado, planejamento urbano. Além disso, no próximo ano orçamentário e conforme as necessidades, a Administração poderá utilizar as imagens para a execução de uma ortofoto ou restituição."

Este é um caso fictício, mas que acontece a todo momento – com satélite, têm levado algumas empresas de aerolevantamento a apontar o vôo como sendo a melhor alternativa para usuários que dispõem de pouco dinheiro, desejam desenvolver projetos de pequeno porte ou procuram por dados que não exijam precisão cartográfica.

Sendo apenas a primeira etapa da aerofotogrametria, o vôo, em si, oferece uma gama bastante grande de aplicações ao usuário. As fotografias aéreas são fontes importantes de informações e, apesar da escala aproximada, permitem a visualização e o primeiro reconhecimento, com alto poder de resolução, do universo a ser trabalhado. Com uma fotografia aérea nas mãos o usuário pode fazer diversos tipos de análise da região de interesse, especialmente análises qualitativas.


Fotografia aérea na escala 1:8.000 da região de Santa Felicidade em Curitiba

A FOTOGRAFIA AÉREA
Há no mercado mais de uma possibilidade de cobertura aérea. É aconselhável estar atento às propriedades específicas de cada um dos produtos (fotografias métricas, fotografias métricas de pequeno e médio formatos e fotografias não-métricas).

A tomada de imagens para a utilização em um aerolevantamento diferencia-se da obtenção de imagens aéreas panorâmicas basicamente pela utilização de câmaras fotográficas métricas (com distância focal fixa e baixíssimo grau de distorção da imagem, garantia de planura do filme e imagem no tamanho 23cm x 23cm). O uso de tais câmaras fornecem imagens chamadas tecnicamente de Fotografias Aéreas Verticais Métricas. Imagens obtidas com câmaras que não possuam estas características, ou seja câmaras não-métricas, não se prestam à obtenção de medidas precisas e muito menos à elaboração de mapas com precisão. É bem verdade que os custos são bastante inferiores, cerca de 30% a 40% das imagens métricas, mas de acordo com especialistas, "são retratos amadores obtidos de uma aeronave."

Já as fotografias métricas de médio e pequeno formato ainda são pouco usuais, mas têm se mostrado alternativas bastante interessantes, a preços baixos.

AEROFOTOGRAMETRIA
É a ciência e a arte de se obter medidas dignas de confiança por meio de fotografias aéreas métricas. É uma forma de sensoriamento remoto, onde faz-se o uso de fotografias aéreas métricas, para a obtenção de mapas, mosaicos e ortofotocartas.
As fases que compõem um trabalho aerofotogramétrico são:
 Vôo fotogramétrico
 Laboratório Fotográfico,
 Apoio básico e suplementar (Geodesia e topografia ) ;
 Restituição (Captação de dados Digitais)
 Ortofoto
Edição, processamento de imagens (processamento dos dados)
Produto final (arquivo digital e plotagens).

A fotografia aérea é apenas a primeira fase do serviço de aerofotogrametria, quando o usuário a adquire está pagando apenas pelo vôo fotogramétrico e a fase da revelação (laboratório fotográfico). Estas etapas equivalem a cerca de 10% a 15% do valor do produto completo, isso porque envolvem uma parcela bastante pequena de mão-de-obra, serviço de campo e tempo de trabalho.

EQUIPAMENTOS


Câmara RMK-TOP com seus periféricos e um receptor GPS (amarelo) para geocodificação dos centros perspectivos

Para a obtenção de imagens métricas com alta resolução as empresas contam com modernos equipamentos, como câmaras fotográficas aéreas com sistema de lentes de última geração, controle de navegação e orientação de vôo por GPS, berço giroestabilizado, cones de diversas distâncias focais, correção de arrasto – dispositivo de compensação do arrastamento de imagem (FMC) e centro da foto marcados com coordenadas por GPS.


Estereoscópio de mesa

O processamento dos filmes, bem como a execução de produtos fotográficos (coloridos ou P&B), muitas vezes é realizado em laboratório fotográfico próprio das empresas, que para tanto dispõe de copiadoras eletrônicas e processadoras automáticas, além de scanners digitais de alta definição (para transformar as imagens fotográficas em arquivos digitais).

ESCALA
Para programar o vôo o usuário deve ter em mente a que fim se destinarão as imagens. Qual a área a ser fotografada? Qual a escala do vôo? A escala da fotografia aérea depende estritamente da finalidade para a qual se destina, sendo usuais as escalas 1:8.000 para trabalhos em áreas urbanas e 1:30.000 para trabalhos em áreas rurais. Apesar destes padrões o usuário deve estar atento principalmente às suas necessidade específicas, como qual a finalidade das suas fotos, que tipo de detalhe quer poder observar, que nível de resolução busca.

OS PRODUTOS
Há algumas opções de subprodutos do vôo, como reproduções, ampliações e montagens, que podem auxiliar o trabalho do usuário sem, porém, acarretar em acréscimos significativos no custo.

A fotografia aérea pode ser ampliada em até 5 vezes de sua escala original, tanto para fins de mapeamento quanto para trabalhos com as próprias ampliações fotográficas – desta forma, uma foto 23 x 23 cm ampliada chega às dimensões de 1,15m x 1,15m , aproximadamente.

Além de cópias das fotos e ampliações, as empresas podem fornecer ao usuário produtos como o fotoíndice – que consiste na montagem da cobertura, dispondo as fotos lado a lado, todas numeradas. Este produto permite ao usuário visualizar toda a área e verificar em que fotografia se localiza um determinado detalhe. Outro produto é o mosaico fotográfico, uma montagem artística das fotos com preservação de detalhes. Com o mosaico, é possível a representação de maiores áreas sem as quebras de imagem decorrentes dos limites das fotos.

CONTRATANDO O VÔO
Na hora do orçamento são levados em conta os seguintes fatores:
– área total a ser fotografada
– a escala do vôo – localização da área, se a área é de fácil ou difícil acesso, é perto ou longe da sede da empresa
– as condições climáticas da região

Um vôo pode ser realizado em poucos dias. Apesar disso pode levar cerca de um mês, ou até mais em alguns casos específicos. Isso porque tem de ser levadas em consideração as condições climáticas da região no período.

Há regiões do Brasil, como algumas localidades do Norte e Nordeste, que estão sempre cobertas de nuvens, sendo quase impossível realizar o vôo. Nestes casos, o vôo pode sair bem mais caro.

Normalmente as empresas cobram por área a ser sobrevoada e horas de vôo, porém em casos de difíceis condições climáticas, algumas empresas costumam cobrar por dias de espera, já que toda a equipe e os equipamentos ficam de prontidão, à espera do momento propício. A espera pode levar horas, dias, semanas e até meses.

QUANDO USAR
Na atual mercado nacional o produto "vôo" ainda é pouco consumido. Há vários casos em que o cliente compra apenas o vôo porque tem interesse em um posterior mapeamento, mas não dispõe de verba suficiente para contratar o produto completo num primeiro momento.

Em outra parte dos casos o vôo é buscado como complemento, para atuar na atualização das bases cartográficas, mapas de traço e dados já existentes.

Mas o que pouca gente lembra é que com as fotografias aéreas de uma determinada região é possível a execução de uma série de atividades como fotointerpretação e fotoanálise voltadas para as mais diversas áreas de atuação e que podem ser feitas por técnicos especializados ou até mesmo pelo próprio usuário.

Com o vôo, o cliente pode fazer trabalhos com a própria foto ou ampliação dela que permite observar melhor os detalhes. A fotografia pode ser um importante instrumento para o trabalho de campo. Empresas que disponham de técnicos preparados podem fazer sua própria demarcação de pontos por GPS e levantamentos em campo, reduzindo gastos. Além disso o usuário pode visualizar as imagens com um estereoscópio ou utilizá-las em softwares de restituição, que podem oferecer resultados bastante satisfatórios.

"É importante lembrar apenas que, da fotografia área bruta, sem as devidas correções (restituição, ortorretificação) não é possível extrair dados dimensionais precisos", destaca Fernando Dias, engenheiro cartógrafo da Esteio Aerolevantamentos. A precisão é aproximada, sendo bastante equivocada principalmente nas áreas de relevo muito irregular.

"O uso da fotografia aérea destina-se a uma análise qualitativa e quantitativa com restrições, já que não permite a extração de dados precisos." explica Dias.


Avião equipado para aerolevantamento

QUEM USA
O uso das fotografias tem se dado principalmente para a realização de monitoramento ambiental, reflorestamento e planejamento. Isso porque a fotografia em si permite uma análise qualitativa e não permite a obtenção de detalhes precisos tais como distâncias e dimensões reais de objetos.

No monitoramento ambiental é utilizada para verificar a qualidade da água, desmatamento, tipos de vegetação. Na agricultura para visualização de áreas de cultivo, acidentes geográficos, tipos de solo, ocupações clandestinas.

No planejamento urbano, é utilizada apenas de forma macro ou seja, para visualizações gerais. Por exemplo, não é aplicável diretamente à construção de cadastro, mas para efeito de acompanhamento e atualização. Também é ideal para planejamento urbano, localização de praças e parques, melhores trajeto de ruas e rodovias, arborização, visualização de loteamentos subnormais, estudos de áreas degradadas, áreas alagadas.

Na opinião de Fátima Alves Tostes, engenheira civil da Base Aerofoto, o uso da fotografia aérea oferece uma gama enorme de utilidades para planejamento e estudos "Desenvolvemos projetos junto às prefeituras, que usam a fotografia aérea como base para orientar o recadastramento urbano. Com o levantamento feito a partir dela, a administração aumenta a arrecadação, e consequentemente gera receita, para posterior mapeamento completo do município", explica.

A empresa Agritec, de aerolevantamento, está apostando neste produto. Na opinião do diretor presidente, Miguel Rossa Neto, o vôo pode ser um ótimo instrumento de trabalho. "O vôo é ideal para as prefeituras na visualização e atualização de cadastro, assim como nos cultivos agrícolas para monitoramento de safra, reconhecimento de vegetação, e no reflorestamento".

A verdade é que há diversas aplicações para o produto vôo – assim como há para ortofotos, mapas e imagens de satélite. O que o usuário deve fazer é estar atento aos seus objetivos e às propriedades de cada produto. A escolha deve ser adequada ao seu orçamento e principalmente às suas necessidades específicas. Para isso é interessante pesquisar bastante e procurar auxílio técnico, antes de tomar qualquer decisão.

Exemplos de atividades que podem ser auxiliadas com o uso de fotografias aéreas:

 Fotointerpretação para estudantes e pesquisadores;
Análises temporais baseadas na imagem fotográfica para planejadores e pesquisadores;
Definição de limites de propriedade para questões judiciais;
Estudos hidrológicos (bacias hidrográficas, assoreamento de rios e lagos, inundações);
Análise de vias (rodovias e ferrovias) e interferências;
Análise de áreas destinadas à empreendimentos diversos (indústrias, represas, parques);
Base cadastral para Concessionárias de Energia, Telefônica e Água e Esgotos; empresas de TV a cabo;
Estudo de coberturas vegetais para preservação, reflorestamentos, culturas ;
Prevenção de incêndios florestais
Planejamento para o manejo de áreas florestais
Levantamento e controle do estoque de madeiras;
Identificação de extratos e tipologias florestais;
Inventário e Zoneamento florestal locação de estradas florestais;
Monitoramento do desenvolvimento de povoamentos florestais;
Monitoramento de pragas, como a vespa da madeira;
Estudos de impacto ao meio ambiente, degradação ambiental e controle de poluição;
Estudos do meio urbano (invasões, corredores urbanos, etc.);
Viabilidade de projetos urbanos (parques, vias e outras obras);
Localização de construções clandestinas e invasões;
Atualizações cadastrais;
Localização de áreas de crescimento urbano;
Visualização vertical de propriedades e empresas.