Agronegócio e gestão ambiental. Embrapa Monitoramento por Satélite aponta temas estratégicos o para país .

Como conhecer a diversidade do espaço rural brasileiro, de seus problemas e de sua dinâmica territorial? Como obter informações atualizadas e circunstanciadas sobre a agricultura brasileira para alimentar as políticas públicas e avaliar seus impactos? O Brasil ainda desconhece sua agricultura. A extensão do território brasileiro, a diversidade dos sistemas de produção, as interações entre os sistemas rurais e urbanos, as mudanças tecnológicas são alguns obstáculos ao seu conhecimento por parte dos órgãos governamentais e pelas pessoas envolvidas com o agronegócio e as políticas públicas.

Nos últimos anos, a utilização de geotecnologias, dados orbitais e geoinformação na agricultura têm crescido consideravelmente, principalmente para subsidiar processos de planejamento, execução e monitoramento de projetos. Acompanhando esta tendência, a Embrapa Monitoramento por Satélite (uma das 40 unidades de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) produz sistemas de informações espacializadas e imagens orbitais, recursos únicos na análise de fenômenos ou processos voltados para a gestão agroambiental e territorial. Situado em Campinas, SP, o órgão atende um grande número de clientes e usuários e trabalha em parceria com diversas instituições nacionais e internacionais, públicas e privadas, desenvolvendo projetos como os de monitoramento do uso e ocupação das terras, além da elaboração de zoneamentos e sistemas de gestão estratégica. Sendo assim, este é um grande exemplo de sucesso do uso da geoinformação na busca pelo progresso do meio rural do país.

”A constituição de uma base de dados geográficos contribui para avaliar a situação atual, a dinâmica em curso e o impacto de projetos de desenvolvimento existentes”

GESTÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA
A Embrapa Monitoramento por Satélite aplica a geoinformação e as geotecnologias como instrumentos para a execução de zoneamentos ecológicos e econômicos, planos de ordenamento territorial e de desenvolvimento sustentável. O Maranhão foi um dos Estados a ter seu Zoneamento Ecológico-Econômico concebido pela Embrapa Monitoramento Satélite como um verdadeiro instrumento de apoio ao planejamento e gerenciamento estratégico. Ele foi elaborado em parceria com o Governo do Maranhão e está disponível na Internet, para o público em geral. De forma gratuita e amigável, oferece mapas, imagens de satélite, permite consultas por município e região de governo e o cruzamento de dados cartográficos e iconográficos com dados socioeconômicos ambientais.


Figura 1

Outro estudo desenvolvido para servir como instrumento potencial de apoio à políticas públicas de desenvolvimento regional foi realizado no Oeste da Bahia. O trabalho recebeu o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e também está disponível na Internet. A ênfase foram os impactos ambientais gerados pelos projetos de desenvolvimento, em especial os projetos de irrigação (ver figura 2). A região, tradicionalmente ocupada pela pecuária extensiva, conheceu um desenvolvimento da atividade agrícola sem precedentes nos últimos 15 anos, com investimento pesado em uma agricultura mecanizada e com uso considerável de insumos. O projeto procurou estruturar um sistema de monitoramento da expansão agrícola, elaborando o mapeamento do uso e cobertura das terras através de imagens do satélite Landsat dos anos de 1985 e 2000 (ver figura 1 e 3). "São 100 mil km2 afetados por essa dinâmica relativamente recente de uso das terras", explica o coordenador do projeto, Mateus Batistella. De acordo com ele, essa rápida e intensa mudança produz, além dos benefícios econômicos, impactos ambientais antes inexistentes. "A constituição de uma base de dados geográficos contribui para avaliar a situação atual, a dinâmica em curso e o impacto de projetos de desenvolvimento existentes", diz. "A análise baseada em geoinformação otimiza a quantificação dos fenômenos mapeados e a identificação dos processos associados à expansão agropecuária. Por isso é um instrumento importante de apoio às políticas públicas que conciliem o desenvolvimento regional e a preservação dos recursos naturais", completa Batistella.

ALTA RESOLUÇÃO ESPACIAL
Outros exemplos de estudos desenvolvidos pela Embrapa Monitoramento por Satélite, enfocando o uso e cobertura das terras e a gestão ambiental estratégica, mostra a flexibilidade no uso de diferentes sensores e sua aplicação em diferentes escalas. Campinas, a maior cidade do interior do país, com 1 milhão de habitantes, vem discutindo a elaboração da sua Agenda 21. Atendendo à solicitação do governo municipal, a Embrapa Monitoramento por Satélite desenvolveu um sistema de informações de gestão ambiental estratégica, que reúne o diagnóstico atual dos principais recursos naturais do município. Este sistema foi criado para subsidiar a elaboração da Agenda 21 e apresenta imagens do satélite Eros, Landsat e Spot V de Campinas. Através do WebGIS é possível traçar alguns quadros da situação do município, cruzando dados como áreas de intensa urbanização, rodovias, bacias hidrográficas e cobertura vegetal, entre outros.


Figura 3

Bem próximo de Campinas, o Município de Holambra, com 7,2 mil habitantes e conhecida pela produção de flores, tem hoje disponível um sistema semelhante. Baseado em imagens de alta resolução espacial do satélite Ikonos, apresenta a identificação e caracterização das áreas urbanas e rurais da cidade (ver figuras 4 e 5). O trabalho também encontra-se totalmente disponível na Internet, incluindo o recurso do WebGIS. Para fazer a avaliação e a caracterização da região, foi adquirida a imagem de Holambra do ano 2000, obtida a partir do satélite Ikonos II, composta de 1 banda espectral pancromática de 1 metro de resolução espacial e 4 bandas multiespectrais, com resolução de 4 metros. A partir do levanta-mento de dados sobre a região, foram definidos 26 temas, como área urbana, culturas agrícolas, estradas, matas, rios e rodovias, que podem ser facilmente consultados. O trabalho já vem sendo utilizado pelas secretarias municipais, Ongs e instituições de ensino da cidade, em projetos de agroturismo, estudo de microbacias e educação ambiental. O sistema deve contribuir ainda para a elaboração do plano diretor municipal, além de facilitar o planejamento rural. (ver box WEBGIS)

WebGIS

O WebGIS, ou GEOWeb, é uma ferramenta interativa que oferece praticamente todas as funcionalidades dos sistemas de informações geográficas – SIGs -, tendo a Internet como base. A ferramenta possibilita operações on-line em cima de bases de dados já consolidadas, podendo gerar novos mapas e sobrepor informações, de acordo com o interesse do usuário, de forma rápida e amigável.

Totalmente desenvolvido a partir de programas de domínio público, o WebGIS vem sendo empregado largamente em projetos e pesquisas da Embrapa Monitoramento por Satélite como um recurso de apoio ao planejamento do uso e ocupação das terras, podendo abranger desde propriedades rurais, municípios, bacias hidrográficas e regiões até cadeias produtivas do agronegócio.

BIODIVERSIDADE, AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Há mais de vinte anos, pesquisadores da Embrapa Monitoramento por Satélite vêm desenvolvendo métodos para avaliação da biodiversidade em sistemas agrícolas, utilizando técnicas de geoprocessamento. Desde 1990, a unidade acompanha a conversão para a agricultura orgânica de diversas propriedades rurais e, em particular, o caso da Usina São Francisco, do grupo Native, situada na região Noroeste do Estado de São Paulo e voltada para a produção de cana-de-açúcar. A empresa, que abastece 60% do consumo mundial de açúcar orgânico, viu proliferar diversas espécies de animais em suas fazendas após abandonar o sistema convencional. Mais precisamente, 191 registradas no último levantamento faunístico, realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite. Num plantio convencional, não se contam mais do que 30 espécies.

"As ilhas de biodiversidade criadas ou recuperadas são fundamentais ao tipo de cultivo orgânico. As espécies que vivem na floresta, desde pássaros a insetos, ajudam no controle de pragas", explica o coordenador do projeto, José Roberto Miranda. Em alguns anos a empresa conseguiu promover o equilíbrio biológico e alcançar índices de produtividade superiores aos do cultivo convencional.

Imagens de satélite e técnicas de geoprocessamento foram aplicadas no monitoramento da biodiversidade faunística. Utilizando imagens Landsat 7 e cartas planoaltimétricas do IGC, na escala de 1:10.000, foram mapeados os princi-pais usos e ocupação das terras, identificados, posteriormente, como habitats faunísticos – matas ciliares, remanescentes florestais, culturas agrícolas, entre outros. A partir destes habitats, foram feitos levantamentos de campo, com a participação de universidades da região, para a caracterização dos povoamentos faunísticos, contemplando uma série de índices de riqueza e biodiversidade. Essa caracterização foi então expressa espacialmente, através das cartas e imagens de satélite. "Tendo essa visão numérica e cartográfica da biodiversidade é possível conciliar melhor a produção agrícola com a preservação ambiental, de forma racional e com argumentação científica", ressalta Miranda.


Figura 4

O sistema orgânico de produção e o desenvolvimento sustentável é o tema de outra iniciativa multiinstitucional envolvendo a Embrapa Monitoramento por Satélite, órgãos da administração pública e instituições de pesquisa do Estado de São Paulo. O propósito é a elaboração de um projeto agroecológico para a região da Serra da Mantiqueira e Mogiana, entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, integrando pesquisadores, extensionistas e produtores rurais numa rede de pesquisa e comunicação estruturada na Internet. Segundo o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, João Alfredo de Carvalho Mangabeira, a agroecologia ainda não é expressiva nestas regiões e os produtores que praticam esta atividade estão desarticulados. "Esta rede pretende sistematizar informações, oferecendo suporte estratégico à tomada de decisões", ressalta.

Uma imagem de média resolução, do satélite Landsat, foi empregada para toda a área de abrangência, totalizando cerca de 2,5 mil km2. Para um plano piloto, algumas propriedades estão sendo estudadas em particular, utilizando imagens de alta resolução do satélite Ikonos. "Essas propriedades monitoradas formarão um banco de dados em formato WebGIS, garantindo uma ferramenta para a rastreabilidade e certificação de origem de seus produtos", explica o pesquisador. Com o tempo, a idéia é que toda a região seja delimitada e receba um certificado próprio de origem.

SEGURANÇA NACIONAL

A Embrapa Monitoramento por Satélite vem sendo solicitada por diversas instâncias federais, entre as quais o Ministério da Defesa e os Gabinetes Civis e de Segurança Institucional da Presidência da República, a contribuir em estratégias de ordenamento territorial e monitoramento da faixa de fronteira. As áreas de expansão agrícola e de fronteira demandam soluções relacionadas principalmente à prevenção de impactos da atividade agropecuária e do extrativismo, o desenvolvimento regional e o uso sustentável dos recursos naturais. Através do emprego de geotecnologias, associado a tecnologias de disponibilização de informações georreferenciadas, a Embrapa Monitoramento por Satélite desenvolveu o Sistema de Apoio ao Assentimento Prévio e Gestão de Crises na Faixa de Fronteira. Criado para a Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais (SAEI) e para o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), o sistema vai atender às necessidades específicas nos processos de concessão de assentimento prévio para a exploração dos recursos naturais e no gerenciamento de eventos críticos. O GSI, por exemplo, tem sob a sua responsabilidade, em toda a faixa de fronteira, a tarefa de avaliar estas demandas em práticas como garimpo, fazendas de grande porte, mineração, obras de infra-estrutura, e os problemas ou riscos envolvidos nestas atividades.


Figura 5: Imagem de alta resolução espacial do satélite Ikonos apresenta a identificação e caracterização das áreas urbanas e rurais no município de Holambra, próximo de Campinas, conhecida pela produção de flores.
O trabalho encontra-se totalmente disponível na internet, incluindo o recurso WebGIS.

Visite:
www.holambra.cnpm.embrapa.br/

O desenvolvimento deste sistema de informações – um WebGIS da faixa de fronteira – utilizou software de domínio público (MapServer) e tornou disponível, em Internet e Intranet, dados cartográficos e orbitais, possibilitando operações de zoom, sobreposição de temas e consultas hierarquizadas. Inicialmente, foi realizado o levantamento de dados temáticos referentes às variáveis físicas, bióticas, de gestão ambiental, de atividades antrópicas e de organização do território. Em seguida foram selecionadas as imagens dos satélites Spot-IV, Landsat, Spot-V, Eros, Ikonos e Quickbird para aplicações no sistema de monitoramento. Definidos os temas de interesse, as informações georreferenciadas foram compatibilizadas em um mesmo sistema de projeção, prevendo o cruzamento entre os temas de interesse com a cartografia básica e imagens orbitais disponíveis. A disponibilização via WebGIS tornou as consultas mais objetivas e também permitiu a utilização de ampliações para estudar uma área com maior detalhamento.


Figura 2

Graziella Galinari
Assessora de Imprensa da Embrapa
Monitoramento por Satélite
graziella@cnpm.embrapa.br

Ivo Pierozzi Jr.
Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Monitoramento por Satélite
ivo@cnpm.embrapa.br

Informações na internet:

Subsídios para Elaboração e Implantação da Agenda 21 de Campinas-SP
www.agenda21cps.cnpm.embrapa.br
Holambra-SP em WebGIS www.holambra.cnpm.embrapa.br
Estância Jatobá: www.jatoba.cnpm.embrapa.br