Software Livre, OGC e Geoprocessamento garantem benefícios a usuários brasileiros.

O que a tecnologia Open GIS e a bandeira do Software Livre são capazes de fazer num ambiente que trabalha com Geoprocessamento?

Criado em 1994, o consórcio internacional Open GIS (OGC – Open GIS Consortium) está se empenhando em desenvolver especificações para interfaces espaciais que serão disponibilizadas livremente para uso geral. Dentre as já disponíveis, existem quatro que estão sendo relativamente bem utilizadas: SFS (Simple Features Specification), WFS (Web Feature Service), WMS (Web Map Service) e GML (Geography Markup Language).

A iniciativa do OGC partiu da grande revolução tecnológica gerada pela bandeira do Software Livre (SL), implantada pelo Projeto GNU de 1984. O projeto tinha o objetivo de desenvolver um sistema operacional completo seguindo os padrões do UNIX. Em 1991, Linus Torvalds apresentou a primeira versão do Kernel do Linux. No decorrer do seu trabalho, ele passou a utilizar programas (utilitários, compiladores, etc) do GNU e também adotou a mesma idéia de liberdade no seu Kernel. Com isso, nasceu um completo sistema operacional que conhecemos hoje por Linux. Entretanto, seria mais correto chamá-lo de GNU/Linux. Sendo assim, podemos resumir estas idéias destacando o Projeto GNU como responsável pelo movimento do SL e o Linux como seguidor desta mesma filosofia através da licença GNU General Public License (GNU GPL).

A adoção desta licença garante as quatro liberdades presentes no SL:
 A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0);
 A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
 A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2);
 A liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade nº 3). Acesso ao código-fonte é também um pré-requisito para esta liberdade.

Com as informações apresentadas, o leitor já pode concluir que a idéia de que o SL é gratuito não é errada, mas é, no mínimo, bastante limitada.
Então, qual o impacto do SL e do OGC na área de Geotecnologias, visualizando os benefícios principalmente para o nosso país?

Quando falamos de SL, um bom exemplo a ser citado é a iniciativa do Governo Federal em lançar o Guia Livre ( www.governoeletronico.gov.br ), iniciativa tomada com base no trabalho desenvolvido pela Comunidade Européia. Conforme indica este documento, existem várias razões para que as instituições públicas migrem para o SL:

 Necessidade de adoção de padrões abertos para o Governo Eletrônico (e-Gov);

 Nível de segurança proporcionado pelo software livre;

 Eliminação de mudanças compulsórias que os modelos proprietários impõem periodicamente aos seus usuários, face à descontinuidade de suporte a versões;

 Independência tecnológica;

 Desenvolvimento de conhecimento local;

 Possibilidade de auditabilidade dos sistemas;

 Independência de fornecedor único.

Colocando os padrões abertos do OGC juntamente com os benefícios citados acima, o usuário poderá ter não somente uma completa solução de Geoprocessamento, mas um pode-roso framework montado a partir de padrões abertos (OGC) e sistemas livres. Este GEO-Framework Livre pode ser formado através de uma combinação diferente de sistemas livres e também interagir com os sistemas proprietários, caso seja implantado num órgão que tenha sistemas legados (para saber quais os sistemas que podem ser utilizados num GEOFramework Livre visite o site: www.freegis.org .

Outro fator importante que podemos destacar é que uma solução de Geoprocessamento baseada num GEOFramework Livre não possui qualquer tipo de limitação por demanda, tendo o hardware como a única limitação para o acesso de um número maior de usuários. A limitação por demanda é uma estratégia recente das empresas de soluções proprietárias e, mais uma vez, não traz benefícios para o cliente, pois numa solução já implantada você passa a pagar mais pelo aumento do número de usuários, sem melhoria efetiva dos serviços.

Que tal juntarmos um GEOFramework Livre à criatividade e inteligência do povo brasileiro? Passamos a ter, então, uma infra-estrutura que garante autonomia para projetar serviços baseados em GEO que contribuam não somente para toda a instituição, mas também para a população como, por exemplo, uma aplicação direcionada a serviços públicos. Também é importante ressaltar que existe uma aderência muito maior destas soluções livres à infra-estrutura do cliente quando comparamos com as soluções proprietárias, pois estas últimas apresentam pacotes para montagem de uma "solução padrão" que, apesar de ser praticamente sempre a mesma, seu custo normalmente é gradativo. A concepção mais inteligente para um projeto de Geoprocessamento é investir na solução buscando maior integração, deixando de lado, sempre que possível, o gasto com licenças proprietárias. Hoje, isto já é possível com as soluções livres.


Ambiente ideal para um órgão público desenvolver uma solução de Geoprocessamento mais integrada e mais democrática (benefícios reais para os contribuintes).

Glossário:

Application Programming Interface: interface com funcionalidades específicas para o desenvolvim-ento de determinado tipo de aplicações, normalmente permitindo, através de determinadas rotinas, acesso a níveis mais baixos do sistema.

Open DataBase Connectivity: esta interface define uma padronização para acesso aos bancos de dados de forma a tornar mais transparente a conexão entre as aplicações e o Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD).

Especificações livres OGC
A fim de compreender quais as vantagens que a combinação das especificações livres OGC pode trazer para quem trabalha, ou pretende trabalhar, com Geoprocessamento, seguem suas características.

A especificação SFS define um formato, de acordo com o SQL padrão, para armazenamento, leitura, análise e atualização de feições (dados geográficos) através de uma API (ODBC ). O documento 99-049 do OGC define os detalhes desta interface que deve conter, entre outras coisas, análises topológicas. A especificação WFS apresenta uma forma de acesso (inserção, atualização, exclusão e análise) à feição através do ambiente WEB (HTTP). Observe que, assim como a SFS, a WFS trabalha dados no nível vetorial. Já um servidor WMS recebe solicitações de um cliente e retorna para este uma imagem (raster) contendo o resultado da renderização do mapa. Nas soluções baseadas nesta especificação, todo o processo de geração do mapa é executado exclusivamente no servidor. Já o formato GML pode ser utilizado para armazenamento e transporte de dados geográficos (vetores e metadados). Porém, o formato mais utilizado para esta portabilidade ainda é o ESRI Shapefile, sendo amplamente utilizado em sistemas comerciais e livres. Como um bom Engenheiro sabe que um gráfico vale muito mais do que inúmeras especificações, apresento um esquema na figura 1 resumindo essas idéias.


Interoperabilidade com as especificações OGC

Helton Nogueira Uchoa
Engenheiro Cartógrafo formado pelo IME
Atualmente trabalha como consultor da OpenGeo, é membro da ABRASOL (Associação Brasileira de Software Livre) e mantenedor do portal
uchoa@opengeo.com.br

Informações na internet:
www. geolivre.org.br
br.groups.yahoo.com/group/mapserver_brasil

mapserver.cttmar.univali.br
www.freegis.org
www.gnu.org