Os assuntos relacionados ao espaço invadiram os noticiários nas últimas semanas. O voo final do Atlantis marcou o término da era dos ônibus espaciais nos Estados Unidos e, no Brasil, acendeu uma discussão sobre o Programa Espacial Brasileiro, depois que o governo federal anunciou uma proposta de reestruturação, através da fusão da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). É unir o fomento com a execução de projetos, principalmente na parte de satélites.

Lançamento do satélite VLS-1 V03 (Fotos: divulgação)

Apesar do Programa Espacial Brasileiro já contar com mais de 25 anos de existência, o país ainda não é referência no setor espacial. E quando se fala neste assunto, o insucesso do satélite VLS-1 V03, que explodiu no Centro de Lançamento de Alcântara (MA), em 2003, é logo lembrado.

Afinal, qual é o grande desafio de um Programa Espacial?

O Portal MundoGEO entrou em contato com especialistas brasileiros para saber mais sobre o que está acontecendo no setor espacial nacional. Um deles é César Celeste Ghizoni, engenheiro eletroeletrônico que participou desde o início do projeto de desenvolvimento do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers), na década de 80.

Mário Quintino, responsável pelo setor de engenharia do Inpe, também fala sobre o que está sendo feito pelo Instituto, responsável por toda a cadeia que envolve o desenvolvimento dos satélites brasileiros.

Demanda

Os especialistas afirmam que a demanda da sociedade é o chamariz para o desenvolvimento de novas missões e para a construção de satélites. E demanda é o que não falta no Brasil. Para começar, há quatro setores, apontados por Ghizoni, a serem atendidos: alerta de desastres naturais, estratégia nacional de defesa, monitoramento ambiental e segurança alimentar e hidráulica. Mário Quintino acrescenta, ainda, a área de meteorologia.

“Ao levar em conta o tamanho do Brasil, a saída para essas demandas tem que ser via satélite. Nas áreas de agricultura e telecomunicações, por exemplo, o acompanhamento e monitoramento tem que vir lá de cima”, completa Ghizoni.

Cooperação entre Brasil e China se mantém. Lançamento do Cbers-3 será em 2012

Mas, segundo Quintino, os grandes avanços brasileiros na área técnica não acontecerão a curto prazo, pois os projetos ainda estão sendo desenvolvidos. “Estamos começando a buscar novas tecnologias de sensores para meio ambiente e também estamos desenvolvendo os primeiros trabalhos para os satélites de tecnologia radar. A vantagem desse satélite é que permite enxergar a superfície da Terra sem a interferência das nuvens, tanto de dia como de noite. Em 2018 é possível que aconteça a primeira missão com este equipamento”, explica.

Ghizoni afirma que o problema que circunda o Programa Espacial Brasileiro é estrutural, e não é novo. “Quando o Programa foi desenvolvido, não houve uma relação com um parque industrial, por exemplo”, conta. Ele reteira, ainda, que o país deve buscar independência neste setor. “Autonomia é uma questão de escolha”, completa.

Soluções

No começo de 2010 o Inpe reuniu as diretorias do órgão para formular um novo Plano Diretor para o Instituto. Essa ação foi concluída no começo deste ano. “Desenvolvemos uma visão para 2020, abordando, por exemplo, quais os campos de interesse que temos que atuar. Definimos também várias missões. Foi um planejamento interno, mas com consultoria externa, no qual foi feito também um plano de missões”, fala Ghizoni.

Com relação à fusão da AEB e do Inpe, Quintino afirma que as duas instituições mantêm uma relação harmoniosa, a AEB como fomentadora de novos desenvolvimentos e o Inpe como executor. “A eventual fusão dos órgãos deixará a administração mais ágil”, finaliza.

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