Por Alexandre Scussel, Eduardo Freitas e Emerson Granemann
Veja o que precisa mudar nas áreas de Educação, Legislação, Políticas Públicas, Inovação e Relações de Mercado
Falta de legislação clara e incentivos do governo, mapeamentos sobrepostos e consequente desperdício de recursos, competição predatória entre empresas. Este são apenas alguns problemas enfrentados pelo mercado de geomática e soluções geoespaciais no Brasil.
Em reuniões com lideranças do setor e pesquisas realizadas recentemente pela MundoGEO, foram sugeridos alguns temas que julgamos essenciais para o debate com a comunidade, e os resultados mostram que todos querem mudanças no setor. Há vários anos esses pontos essenciais vêm sendo calorosamente discutidos nos eventos e fóruns empresariais, governamentais e acadêmicos, nos corredores de feiras e no cafezinho, mas infelizmente evoluem muito pouco.
Citando uma expressão de um empresário do setor, são questões “fundamentais e estruturantes” que vêm emperrando o pleno desenvolvimento do mercado e afetando uma comunidade formada por centenas de empresas, instituições públicas, universidades e milhares de profissionais que atuam direta ou indiretamente
neste mercado.
Mercado: pregão eletrônico, qualidade dos projetos e mapeamento do setor
A palavra chave aqui é qualidade dos serviços por preços justos, que permitam os usuários receberem produtos e serviços que lhes atendam, que as empresas possam obter resultados do capital investido para reinvestir e crescer. Na pesquisa online a comunidade apontou como a relevância destes três itens:
• Rever o uso do pregão eletrônico na contratação e serviços e produtos pelo governo
• Preparar usuários para especificar melhor os termos de referência e fiscalizar a execução dos serviços
• Mapear o número de profissionais, o faturamento das empresas e as novas demandas
Dois pontos são destaque: primeiro, a modalidade de escolha de serviços por pregão eletrônico, o chamado “leilão”. Esta opção tem suas vantagens, incluindo a compra de produtos e dados do setor, mas pela legislação que a criou não deveria ser usada para contratação de serviços de engenharia, como muitos trabalhos de mapeamento, por exemplo. Neste caso, o risco de se contratar uma empresa não preparada para fazer o trabalho é grande, pois nem sempre os documentos para habilitação ao leilão são pedidos de forma correta. Existem vários casos conhecidos que os contratantes ficam frustrados com a baixa qualidade do trabalho ou até trabalhos que simplesmente não são entregues, por falta de capacidade técnica e operacional do ganhador do leilão.
Outra questão relacionada apresenta um grande despreparo, em muitos casos, na especificação do serviço a ser contratado e no acompanhamento da sua execução. Neste caso, esta falha compromete não só a forma de seleção da melhor proposta, como também a garantia de recebimento de um resultado de qualidade. A solução passa pela melhor qualificação dos profissionais que atuam nas empresas privadas e públicas contratantes. Uma opção é o uso de consultorias especializadas ou convênios com universidades. O cuidado nestas opções é que os profissionais tenham neutralidade, estejam atualizados com os avanços tecnológicos e procurem entender o que o usuário realmente precisa, de acordo com sua disponibilidade de recursos.
E, por fim, para que esta relação “produtores x usuários” ganhe consistência, falta um real conhecimento da cadeia produtiva do setor, os tipos de empresas, o perfil dos seus colaboradores e as demandas dos usuários. Todo setor econômico que se preze tem dados econômicos e de empregabilidade. Na área de Geomática isto já se tornou um mito. Ninguém sabe. Desta forma, fica mais difícil o setor empresarial se planejar e a comunidade como um todo mostrar sua força e promover melhorarias institucionais. Afinal, qual é tamanho deste setor? Quantos profissionais emprega? Quanto movimenta de recursos e quais as demandas anuais por serviços e produtos?
Além disso, as mudanças tecnológicas também mexem com o mercado. Para Maurício Meira, Diretor da RapidEye para a América Latina, o mercado de geotecnologias está passando por um momento importante de re-estruturação. “Eu acredito que o mercado de Geomática está em plena mudança de um período aonde havia escassez de dados para a época atual aonde já existe um excesso de informação. Esta nova realidade requer uma mudança no paradigma do mercado, já que as empresas precisam compreender melhor como os usuários utilizam a informação geográfica para oferecerem soluções criativas de acesso a este conhecimento espacial”.
Outra preocupação é quanto ao futuro dos negócios no setor de geotecnologia. Segundo o engenheiro Marciano Carneiro, da empresa Allcomp, há um receio de retração nos próximos anos.
“O mercado nacional da agrimensura, no Brasil, está ligado diretamente aos grandes eventos da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, às legislações referentes ao meio ambiente e à regularização fundiária rural. O principal receio das empresas que comercializam equipamentos e dos prestadores de serviço da área é que, após este período, o mercado se retraia, pois os investimentos do Governo Federal ligados a obras públicas serão reduzidos significativamente.
Políticas públicas: fontes de recursos, coordenação e planejamento de longo prazo
O que esperar do Governo para o setor de Geomática? Muito. A lista é grande, mas foram selecionados três pontos essenciais e conectados. E a comunidade foi unânime em apontar como muito relevantes todos os três itens:
• Definir melhor os responsáveis pela padronização, coordenação, produção e distribuição de dados geoespaciais no país
• Planejar e executar um Plano de Mapeamento Básico e Sistemático do Brasil
• Garantir recursos para executar e manter atualizados os dados geoespaciais do país
Considerando o nível federal, não existe, hoje, uma instituição que atue como integradora de esforços e coordenadora das políticas públicas do setor. A prioridade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sempre foi a estatística, a Diretoria do Serviço Geográficos do Exército (DSG) tem suas principais missões ligadas à defesa nacional, a Comissão Nacional de Cartografia (Concar) é um órgão que tem uma missão nobre, mas que na prática pouco tem feito para dinamizar o setor. A coordenação do Ministério de Planejamento e Gestão poderia ter um papel importante na integração dos esforços dos demais ministérios, bem como na tentativa de unir esforços.
Por outro lado, os avanços do IBGE, DSG, Concar e demais órgãos para implementação da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (Inde) têm sido notáveis. O que falta realmente é a definição mais clara das funções dos atores. Sem esta definição, não se percebe um movimento claro de um projeto a longo prazo, que viabilize recursos permanentes para a execução e manutenção do mapeamento do país em escala adequada. O vazio cartográfico continua e a colcha de retalhos aumenta. Entra governo, sai governo, de direita, de esquerda, de centro, mas infelizmente o quadro não muda. Este é um assunto dos mais complexos e mais comentados em eventos, mas que há anos não evolui na velocidade que se espera. Um país que está crescendo, que quer ser de fato uma grande potência, tem que ser plenamente mapeado, para que sua infraestrutura seja projetada, executada e monitorada a partir de informações atualizadas, de fácil acesso e georreferenciadas. A principal pergunta, apesar de importante, não deveria ser “Quanto vai custar este mapeamento?” mas sim “Quanto custa ao Brasil não ter este mapeamento atualizado?”
Para Dênis de Moura Soares, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, uma forma de agilizar as questões relacionadas às Geotecnologias foi a criação do Fórum Intergovernamental de Gestores de Geoinformação (FIGG), que se constitui como uma instituição de composição mais flexível e menos limitada por questões formais, cujas decisões são formadas por consenso. “O FIGG representa, portanto, uma ponte entre as políticas públicas e a Concar, além de um mecanismo de interface com a sociedade, permitindo a inserção da geoinformação no processo de planejamento e de monitoramento de programas, projetos e políticas públicas”.
Por outro lado, Luiz Antonio Ugeda Sanches, Presidente do Instituto Geodireito, afirma que é urgente a necessidade de políticas públicas que levem em conta os avanços atuais. “As diferentes escalas de governança (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) começam a perceber a necessidade de usar as informações geoespaciais para melhor compreender fatos geográficos, com o objetivo de construir a espacialização da cidadania. Para tanto, é imperioso cumprir a Constituição Federal e criar uma política pública geográfica e cartográfica atualizada, de forma a conferir ferramentas jurídicas eficazes ao cumprimento desta missão”.
Além da definição mais clara de políticas públicas, a grande quantidade de impostos é uma preocupação recorrente dos empresários. Para Eduardo Oliveira, presidente da Santiago & Cintra, “um ponto importante que gostaria de chamar a atenção, refere-se à alta tributação imposta aos equipamentos de topografia e mapeamento. Há casos em que a totalidade de impostos chega a 60 ou 70% do valor importado”. E isto impacta vários setores da economia. “Trata-se de equipamentos utilizados nos mais variados segmentos, como georreferenciamento, mineração, cadastro, agricultura, meio ambiente, obras de infraestrutura, etc., ou seja, áreas fundamentais para o desenvolvimento do país”, argumenta.
Já Moema José de Carvalho Augusto, da Diretoria de Geociências do IBGE, os exemplos de outros países são fundamentais. “Na definição da Política Nacional de Informação Geoespacial é importante considerar as reflexões feitas por outras Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE) na busca para aumentar o acesso físico a redes e serviços, e da ‘liberalização’ da informação do setor público, para facilitar a sua reutilização e criar mercado e indústria de informação competitivas, propiciar serviços mais eficientes e apoiar a participação pública”.
Assim como Eduardo Oliveira, o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos – Regional Paraná, Juan Carlos Gironda, também aponta para a falta de políticas claras. “Assim como as políticas públicas que são embrionárias, lentas e desligadas da realidade nacional em todas as áreas que envolvem Tecnologia, principalmente as que serviriam de sustentação para o desenvolvimento, não poderia ser diferente nas áreas de Cartografia, Mapeamento, Geoprocessamento e outras ferramentas da Geomática”. Juan Carlos comenta, ainda, sobre os resultados da enquete: “a pesquisa também revela a maturidade e consciência dos entrevistados que, ao apontar deficiências de padronização, planejamento e recursos, expressou quão precárias são as políticas públicas para o segmento”, conclui.
Da mesma forma, Rogério Rigato, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Sisgraph/Hexagon, concorda com a ordem de relevância do resultado da pesquisa. “Enquanto existem iniciativas em andamento para padronização e distribuição de dados geoespaciais no Brasil, como a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais, a execução de mapeamentos é muito carente de recursos”. O problema, segundo ele, são os mapeamentos descoordenados. “É comum que governos municipais contratem aerolevantamentos com regularidade […]. Mas, em geral, os produtos obtidos para esse fim ainda são meros ‘desenhos’ CAD, sem a inteligência topológica típica de dados SIG, não aderentes às Normas Técnicas da Cartografia Nacional. Se essas iniciativas tivessem apoio do Governo Federal, o escopo do mapeamento poderia ser mais abrangente e o produto final poderia ser melhor aproveitado por todos”, complementa.
Legislação: carga tributária, VANTs & Drones, Ministério da Defesa
Assim como em muitas outras áreas no Brasil, o setor sofre devido à legislação antiquada, complexa demais ou inexistente. As pesquisas junto à comunidade apontaram como unanimidade os três pontos abaixo:
• Rever carga tributária de produtos importados sem similar nacional
• Agilizar a legislação do uso de VANTs e Drones para mapeamento
• Modernizar a legislação de serviços de mapeamento do Ministério da Defesa
O primeiro ponto deste tema é a necessidade de uma revisão imediata na carga tributária que onera os equipamentos topográficos, geodésicos e fotogramétricos. Tais valores dificultam às empresas e profissionais se atualizarem e, com isso, obterem maior produtividade, qualidade e oferecerem serviços mais baratos para os usuários.
Considerando os dados obtidos por VANTs e Drones para mapeamento, está sendo muito aguardada a finalização da legalização dos levantamentos para fins comerciais. Com certeza esta plataforma veio para se somar às imagens de satélite e aerofotogrametria clássica. Mas as notícias são boas, já que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) prometeu até 2014 liberar esta regulamentação.
Por fim, nos parece fundamental uma urgente modernização na legislação de serviços de mapeamento do Ministério da Defesa (MD). As empresas do setor têm se deparado com a demora das licenças para a execução dos aerolevantamentos. Outra preocupação é a tentativa do MD de também controlar e catalogar as informações obtidas as milhares por imagens de satélites e, no futuro, de VANTs no Brasil. Nos tempos atuais, parece impossível implementar estas ações. O MD não tem estrutura para fazer isso. As prioridades poderiam ser outras. Além disso outro ponto importante seria rever os critérios para as empresas se cadastrarem no MD, visando se habilitar para realizar trabalhos. A palavra-chave, nesta questão, é atualização da legislação à luz das demandas por agilidade e tipos de produtos diferentes – cada vez maiores da sociedade – associada a uma rapidez muito grande das novas tecnologias de coleta de dados da Terra. Dados geográficos, hoje, são menos de segurança nacional e mais de suporte ao
crescimento do Brasil.
Segundo Claudio Queiroz, da empresa Topocart, a área de geotecnologias evolui rapidamente e exige uma constante revisão no arcabouço legal que regula o setor. “Um exemplo atual é o VANT, que já está sendo amplamente comercializado e utilizado, mas ainda não estão difundidas as regras de uso do mesmo, causando insegurança para quem investe e para quem adquire os serviços, além dos perigos que seu uso pode trazer, sem observar os critérios básicos de segurança”.
Atrasos e burocracia também são empecilhos aos negócios, como comenta Kleber de São José, Diretor Comercial da Furtado Schmidt. “Um dos grandes problemas que enfrentamos no Brasil com relação à Legislação é a morosidade com que as coisas acontecem. Hoje convivemos com uma Legislação atrasada, que não condiz com a nossa realidade”. Além disso, a alta carga tributária gera problemas para todos. “Posso dizer que sofremos muito com a carga tributária que nos é imposta; esta tributação chega a inviabilizar muitos negócios e, consequentemente, muitos empregos deixam de ser gerados”, conclui.
Ainda segundo Denis Soares, é importante observar que, apesar de várias iniciativas estarem em desenvolvimento no governo, o marco legal da cartografia nacional encontra-se bastante desatualizado. “Sua espinha dorsal vem do ano de 1967 (Decreto-lei 243) e é completado por alguns instrumentos legais das últimas décadas do século passado. Diante dessa constatação o FIGG começou a trabalhar na construção da nova Política Nacional de Geoinformação. O tema dominou a pauta da 3ª edição do Fórum, realizada no mês de setembro do ano
corrente”, comemora.
Inovação: mais recursos, mais parcerias, mais projetos de pesquisa aplicada
Um dos principais conceitos do século 21 é a necessidade da constante inovação das soluções para uma sociedade cada vez mais exigente. A criatividade e a iniciativa são essenciais, mas o que fará a roda girar são recursos de fomento a pesquisa para serem utilizados tanto pelas empresas privadas como pelas universidades. Sendo que o ideal é que elas trabalhem juntas e envolvam instituições usuárias. Num tempo de otimização de recursos e demandas cada vez mais específicas, a solução passa obrigatoriamente pela união de esforços rumo à inovação.
Neste assunto a comunidade indicou o seguinte grau de relevância quanto aos três itens:
• Ampliar a oferta de verbas de fomento à pesquisa e inovação
• Ampliar parcerias entre as Universidades, Empresas e Usuários
• Ampliar os projetos de pesquisa acadêmica aplicada às necessidades da sociedade
Vale então as empresas procurem uma aproximação mais efetiva com as universidades. E principalmente estas abrirem a cabeça, portas e janelas, e verem nesta oportunidade a principal via para gerar resultados de pesquisa de uso mais imediato para a sociedade e melhoria na formação dos profissionais, na medida do envolvimento deles e na atualização dos
seus docentes.
Segundo Iara Musse Felix, diretora da Santiago & Cintra Consultoria, a colaboração é um dos fatores mais importantes, hoje, no setor de geo. “Um dos mais inovadores conceitos de Inovação não vem da evolução tecnológica surgida originalmente dos provedores de tecnologia e serviços, mas da inovação comportamental transformadora relacionada ao novo modelo colaborativo de se construir soluções que são agora geradas simultaneamente e em conjunto, onde os clientes e usuários são atores ativos deste processo”.Também os modelos de negócios são fortemente influenciados pelo maior ou menor grau de inovação das soluções. “Por outro ponto de vista, a inovação não está restrita e contextualizada apenas pelos requisitos tecnológicos ou processos que mapeiam e melhoram os workflows dos projetos e das organizações, mas aborda sobretudo, a forma e os modelos de negócios associados à análise das informações Geoespaciais”, comenta Iara.
Já para Ulf Bogdawa, diretor da Skydrones, empresa do setor de VANTs, tudo começa com a qualidade da educação e o acesso da informação. “Ser inovador não é só ter um momento de lucidez ou um ‘raio cósmico’ na cabeça, é a preparação para este momento desde a educação do jardim de infância! As pessoas têm que ser educadas e provocadas a pensar e a criar”. Para ele, a inovação não deve ser uma peça de marketing: “por isto a inovação verdadeira no Brasil (não aquela que se coloca no slogan da empresa para ser politicamente correto e ‘na moda’) é tão rara. Ela na grande maioria das vezes é feita por pessoas acima da média e por aqueles que tiveram a sorte de ter um estudo melhor”, conclui.
A academia deveria acompanhar mais de perto o ritmo de inovações do mercado, como pontua o professor Maurício Roberto Veronez, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. “Em duas décadas a área de Geotecnologias evoluiu muito em termos de inovação. Em contrapartida, muitas vezes, por motivos financeiros várias universidades brasileiras não conseguiram acompanhar essa evolução, fazendo com que os laboratórios se deteriorassem ao longo do tempo, comprometendo a formação profissional de seus egressos”. Para ele, é preciso estar pronto para a nova geração de estudantes que ainda está por vir. “Penso que a única forma de equilibrar essa evolução tecnológica é repensar a estrutura curricular dos cursos, criando eixos formativos na área de Inovação e Empreendedorismo, além dos professores e pesquisadores das Universidades aproximarem-se do setor privado, desenvolvendo projetos de P&D&I no sentido de captar recursos para a modernização de laboratórios e formação de recursos humanos compatíveis com as novas exigências do mercado”, complementa Maurício.
Renato Asinelli Filho, presidente da Engefoto, destaca o resultado da enquete, que mostra o quanto as Universidades estão afastadas dos temas cotidianos das empresas e das demandas da sociedade de um modo geral. “Esta mazela não é exclusividade da nossa área, permeando de um modo geral a vida acadêmica neste país”. Ele comenta, ainda, sobre a soma de esforços entre setor privado e Universidades: “sou francamente favorável a esta aproximação entre o mundo acadêmico e o empresarial, o que, por certo, resultaria numa relação do tipo ‘ganha ganha’ para ambas as partes e para a sociedade no final”.
Já para Jefe Rodolfo Pereira da Silva, Analista de SIG da empresa Consis, a enquete confirma a necessidade de transparência quanto às demandas para a promoção das atividades de pesquisa e desenvolvimento. “Essa falta de clareza nos objetivos é o ponto chave para explicar o porque não se conseguem verbas para pesquisa e inovação de maneira transparente. A pesquisa deve vir de uma demanda, que pode ser apenas uma ideia, mas tem que ser uma boa ideia. A inovação é uma ação para se trabalhar em cima de algo que existe, que funciona, mas que pode ser otimizado. Para as duas, pesquisa e inovação, temos que exercer nosso poder maior, a criatividade. Sendo criativos, seremos também articulados, e com clareza nos objetivos ganharemos credibilidade, o que trará o fomento”, pontua.
Quando deparado com os resultados da pesquisa, Ulf Walter Palme, CEO da Inovoh comenta que eles demonstram que ainda investe-se pouco em Inovação, que as parcerias precisam ser alavancadas; e também que deve-se estar mais atento às necessidades da sociedade. “Este resultado é esclarecedor e aponta uma direção que temos o dever de trilhar. Tenho a convicção que precisamos ser mais incisivos na Inovação Estratégica e, com a nossa brasilidade peculiar, inovar com marketing. Temos profissionais e empresas de destaque mundial no Brasil. O mercado existe e em grande parte ainda é um gigante adormecido. E há espaço para todos”.
Educação: como melhorar os recursos humanos
Peça mais importante na cadeia produtiva, o fator humano vem sendo citado como um dos principais obstáculos atualmente. O que vem acontecendo é que a formação vem falhando, com algumas raras exceções. Como regra geral, o atual momento brasileiro de crescimento vem esbarrando na quantidade de profissionais bem formados disponíveis no mercado.
A comunidade indicou sua satisfação quanto à Educação segundo os itens abaixo:
• Aproximar mais as universidades das empresas
do setor
• Ampliar a oferta de cursos na área de Geomática
• Modernizar os currículos universitários dos cursos afins
Vale lembrar aqui que as equipes de profissionais que atuam no mercado são cada vez mais multidisciplinares. Geógrafos, Agrimensores, Cartógrafos, Analistas de Sistemas, entre outros, formam a base de especialistas do setor, mas os demais Engenheiros, Geólogos, Urbanistas, Administradores, Ambientalistas estão também nas diversas equipes de desenvolvimento e de usuários. Em ambos os casos, nem sempre a formação destes profissionais vem sendo alinhada com as novas tecnologias e as demandas da sociedade.
Segundo Andrea Carneiro, professora do Departamento de Engenharia Cartográfica da Universidade Federal de Pernambuco, um dos problemas é a baixa quantidade de formandos em relação aos calouros. “Embora tenha aumentado a oferta de vagas em formações específicas da área de Geomática (cursos de engenharia cartográfica, de agrimensura, tecnólogos em geoprocessamento, agrimensura), a taxa de evasão é alta em muitos destes cursos. Acredito que ainda não aprendemos qual a melhor forma de atrair um maior número de candidatos que tenham condições de superar as exigências características dos cursos de engenharia”.
Algumas ações podem ser feitas de imediato para amenizar a situação. Aproximar mais as universidades das empresas do setor pode diminuir um pouco esta distância. Modernizar os currículos universitários dos cursos existentes, além de ampliar e distribuir melhor pelo Brasil a oferta de cursos na área de Geomática, fará ampliar a massa crítica e diminuir a quantidade de profissionais pouco preparados que atuam no setor.
Antonio Tommaselli, professor da Unesp Presidente Prudente, concorda com os resultados da pesquisa e complementa: ”é preciso aproximar os cursos das empresas, porque esta sinergia será benéfica para ambos os lados. Vencer as resistências de um corpo acadêmico forjado para atuar na pesquisa mais acadêmica e, do outro lado, empresas que precisam de respostas muito rápidas são desafios a serem vencidos”.
As carências na área de Educação para o setor de geo são antigas, conforme comenta Edmilson Volpi, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos – Regional São Paulo. “Esses são problemas recorrentes que existem desde a década de 80, embora tenham evoluído muito de lá para cá. Mas ainda é pouco para um país imenso como o nosso. Além de mais cursos – que também são necessários, principalmente na área das Engenharias – precisamos de capacitação na área de Geomática nos cursos afins já existentes”.
Ainda segundo Andrea Carneiro, a aproximação entre universidade e empresa é importante. “Tivemos a oportunidade de observar – inclusive no evento paralelo realizado no MundoGEO#Connect deste ano – que, enquanto outras áreas tecnológicas tem investido em editais ou outras oportunidades de parceria, projetos deste tipo ainda são raros na área das geotecnologias. Seja por preconceito e dificuldades burocráticas das próprias universidades, seja por falta de interesse das empresas, provavelmente”, conclui.
Como passar do debate para as ações?
Cabe aqui um desafio. Apostamos que, de uma forma geral, todos que lerem esta matéria vão se sensibilizar com alguns dos pontos levantados na pesquisa. O momento, então, é para a comunidade sair da inércia e da zona de conforto e manifestar sua opinião. E, mais do que isso, estar disposta a manter constante o diálogo e definir estratégias que permitam a criação de ações concretas e transformadoras.
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