Geotecnologias e políticas públicas apoiando a atividade agrícola

O planejamento e a execução das políticas agrícolas brasileiras demandam um sistema articulado de informações e dados básicos sobre condições das lavouras anuais. Para o acompanhamento sistemático do efeito do clima nas culturas agrícolas, é necessário o acesso ágil e eficaz, em escala nacional, regional, estadual e municipal, às forçantes climáticas que afetam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Neste sentido, a Embrapa Monitoramento por Satélite, desde 2013, vem realizando ações baseadas em geoprocessamento e sensoriamento remoto com a Secretaria de Política Agrícola, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa). Esta parceria institucional objetiva apoiar a gestão de análises de risco ao que estão sujeitas as lavouras cultivadas em diversas regiões do Brasil. Essa iniciativa tem contribuído para a construção de um sistema voltado para a análise e o monitoramento da produção agrícola e do risco associado à atividade, apoiando, de maneira consistente, políticas públicas já estabelecidas, como o zoneamento agrícola e o seguro rural. Além disso, as informações geradas sobre dados geoespaciais também auxiliam em análises de recursos de programas governamentais, como o de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). As ações estão focadas em três pilares:

• Aperfeiçoamento do Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil (SomaBrasil). Foram integradas novas bases de dados e desenvolvidas ferramentas e funções específicas, atualizações e monitoramentos agrícolas. É possível realizar inúmeras representações espaciais produzidas com dados derivados de bases georreferenciadas, visando à incorporação gradual de componente geoespacial no Plano Agrícola e Pecuário, com a geração de análises espaciais e relatórios a partir do cruzamento de informações. Dados como os de zoneamento agrícola de risco climático para o cultivo das lavouras de soja, milho, trigo, arroz, algodão e feijão já estão disponíveis para toda a sociedade, por meio do acesso direto ao sistema: http://www.cnpm.embrapa.br/projetos/somabrasil/.

• Desenvolvimento e aplicação de métodos voltados para a obtenção de indicadores espacialmente explícitos a partir de dados geoespaciais da produção agrícola em larga escala. São avaliados dados provenientes de sensores remotos e sua correlação com os eventos climáticos que possam indicar possíveis quebras de safra. Os métodos utilizados baseiam-se na caracterização dos componentes vegetacionais a partir de indicadores, como o índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) e o índice de vegetação padronizado (IVP), e podem ser utilizados como indicativo de anomalias na produção e detecção de áreas cultivadas. Bases de dados e produtos orbitais disponíveis na Embrapa Monitoramento por Satélite têm sido utilizados para a geração de mapas temáticos, considerando as regiões e culturas preconizadas de interesse estratégico para o país e sua relação com os padrões históricos desde 2001. Alguns desses produtos estão disponíveis em: http://www.cnpm.embrapa.br/projetos/geonetcast/.

• Modelagem e aplicação de indicadores agrometeorológicos e sensoriamento remoto. Esta modelagem objetiva a utilização de dados climáticos conjuntamente com imagens de satélites de diferentes resoluções espaciais e temporais para a determinação do balanço de energia e de água em diferentes escalas. Além disso, as análises também incluem a evapotranspiração, o coeficiente de cultura e a produtividade da água. A partir dos dados de precipitação e de evapotranspiração, são desenvolvidos indicadores envolvendo o balanço hídrico e os componentes do balanço de energia.

Variação espacial das taxas médias diárias da produção de biomassa (BIO) no Estado do Mato Grosso (2014)

Nesse processo, são utilizados modelos como o SAFER (Simple Algorithm For Evapotranspiration Retrieving) que, associado a observações em campo e a dados oriundos de instituições como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), permitem não apenas estimar a produção de biomassa das culturas, mas também obter índices de colheita e de produtividade da água em diferentes escalas de espaço e tempo, focalizando nas mais diversas culturas em termos de monitoramento agrícola.

Interface para a consulta no Zoneamento Agrícola de Risco Climático no SomaBrasil mostrando a época inicial de plantio para a cultura de Feijão de sequeiro, primeira safra, utilizando variedades com ciclo do Grupo II e em solo com textura média As cores identificam os diferentes decêndios para início do plantio no Brasil (2014)

Com estes exemplos ressalta-se a importância das geotecnologias para identificar, qualificar, quantificar e monitorar a atividade agrícola e os riscos envolvidos e, dessa forma, oferecer suporte à tomada de decisão no âmbito governamental, agilizando a aplicação de políticas agrícolas voltadas para o agricultor brasileiro.

Édson Luis Bolfe

Engenheiro Florestal, Doutor em Geografia, pesquisador, chefe adjunto de P&D, Embrapa Monitoramento por Satélite

edson.bolfe@embrapa.br

 

 

Janice Freitas Leivas

Meteorologista, Doutora em Sensoriamento Remoto, pesquisadora, Embrapa Monitoramento por Satélite

janice.leivas@embrapa.br

 

 

Antônio Heriberto de Castro Teixeira

Engenherio Agrônomo, PhD em Ciências Ambientais, pesquisador, Embrapa Monitoramento por Satélite

heriberto.teixeira@embrapa.br

 

 

Daniel de Castro Victoria

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, pesquisador, supervisor de P&D, Embrapa Monitoramento por Satélite

daniel.victoria@embrapa.br

 

 

Ricardo Guimarães Andrade

Engenheiro Agrícola, Doutor em Meteorologia Agrícola, supervisor do Núcleo de Apoio a Projetos, Embrapa Monitoramento por Satélite

ricardo.andrade@embrapa.br