Gabriel Carvalho é bacharel em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Engenharia com foco em Sistemas de Informações Geográficas pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Há mais de nove anos atua no mercado de geotecnologias, oferecendo soluções para distintas verticais de negócios como óleo & gás, mineração, governo, segurança pública, entre outras. Trabalhou por mais de seis anos na Sisgraph (Hexagon Group) e atualmente é responsável pela Área de Desenvolvimento de Negócios e Pré Vendas na divisão Google Maps for Work para toda América Latina. 

MundoGEO: Muitas empresas no Brasil utilizam ferramentas de GIS bem tradicionais, como as da plataforma Esri. O que diferencia o Google Maps for Work do ArcGIS?

Gabriel Carvalho: Esta é uma pergunta bem interessante que comumente somos questionados não só em relação ao ArcGIS, mas também a respeito de outras plataformas GIS existentes no mercado. As ferramentas GIS são essenciais para a construção de informações geoespaciais que contemplem certa precisão cartográfica, permitam análises espaciais avançadas, compartilhem dados entre áreas. Em suma, que auxiliem na tomada de decisão. Nós não temos o desejo nem a pretensão de substituí-las. O que queremos é complementá-las na democratização do acesso a dados com pelo menos uma componente geográfica. Um estudo recente encomendado pelo Google e realizado pelo Boston Consulting Group mostrou uma tendência curiosa onde 51% das empresas americanas já utilizam soluções GIS no seu negócio, com 36% delas usando mobilidade em sua operação. No entanto, menos de 5% dos empregados usam o dado geoespacial para seu negócio. Trata-se da realidade americana, mas pode facilmente ser trazida para o mercado da América Latina. A plataforma Google Maps possui atualmente mais de um bilhão de usuários ativos, que já estão acostumados com uma maneira simples e rápida de buscar informação e utilizá-la para sua vida pessoal e/ou profissional. A solução Google Maps for Work tem, portanto, o objetivo principal de complementar as plataformas GIS existentes nas empresas – mesmo porque grandes investimentos foram e são realizados – e permitir que os 95% dos funcionários que hoje não usam o dado geoespacial no ambiente corporativo possam adotar o mapa como parte integrante das suas análises. Este é o fundamento que nós do Google buscamos, ou seja, democratizar o acesso a dados geoespaciais para usuários que não tenham uma formação prévia de GIS, mas que desejam, como em suas vidas pessoais, pensar e tomar decisões baseadas em mapa.

MG: Recentemente o Google mudou o nome da sua linha para uso corporativo de “Google Enterprise” para “Google for Work”. Qual o objetivo desta ação de Branding?

GC: Acho que sempre vale a pena relembrar primeiramente aquilo que diz nossa carta de IPO, em 2004: “Google não é uma empresa convencional e não temos a intenção de nos tornarmos uma”. Este texto simples expressa um pouco dos objetivos e visões do Google de um modo geral.

O ambiente de trabalho é, normalmente, onde as pessoas gastam grande parte de seu tempo. O Google sempre acreditou que este ambiente deve ser estimulante e não uma rotina entediante cercada por velhos computadores desktop em um “mar de cubículos”. Ainda mais, acredita que a tecnologia deve tornar o trabalho melhor. Ela deve facilitar não apenas a realização de atividades diárias, mas também permitir a colaboração com pessoas que nos inspiram, nos tempos e nos lugares que cada um se sinta mais confortável para atingir o impacto esperado. Dez anos atrás, começamos a trazer as tecnologias Google, utilizadas pelo “mundo consumidor”, ao trabalho. Primeiramente, trouxemos a ferramenta de Buscas e, em seguida, o Gmail para empresas. Hoje, nós também oferecemos a flexibilidade e confiabilidade da infraestrutura do Google para usuários de Google Maps e Google Cloud Platform, além de estender isso para hardwares através do Android e Chromebooks. O trabalho hoje é muito diferente daquele exercido 10 anos atrás. A computação em nuvem, já uma realidade, é abundantemente disponível e a colaboração entre pessoas se torna cada vez mais factível por meio de diferentes escritórios, cidades, países e continentes. Trabalhar a partir de um computador, tablet ou smartphone já não é apenas uma tendência, é uma realidade. E milhões de empresas, grandes e pequenas, têm se voltado para produtos do Google para lançar, construir e transformar seus negócios, além de ajudar seus funcionários a trabalhar da forma como vivem. Como já citado anteriormente, o Google nunca se propôs a ser uma empresa enterprise tradicional. Portanto, esta mudança de nome representa diretamente esta ambição: o que era chamado de Google Enterprise é, agora, simplesmente Google for Work.

MG: Qual a vantagem de uma solução de geotecnologia na nuvem? Existe alguma ameaça em relação à segurança das informações? Há uma solução híbrida quando falamos da solução Google Maps for Work?

GC: De forma geral, a maioria dos sistemas que utilizam nossa tecnologia são híbridos porque acessam banco de dados locais, tecnologias em nuvem e, inclusive, nossa própria API do Maps que contém os dados do Google. Acreditamos que o cliente deve estruturar sua solução da forma que lhe for mais conveniente, levando em consideração as principais vantagens que os sistemas de nuvem possuem, como: desempenho e escalabilidade. Também deve ser parte desse desenho de solução a análise de segurança. No Google, segurança digital é um tema prioritário. Empregamos alguns dos melhores profissionais do mercado e buscamos os melhores sistemas justamente para dar a tranquilidade a nossos clientes sobre a segurança de seus dados. Com isso, cada cliente pode, com base em dados práticos e quantificados, determinar quais dados e workloads vão para a nuvem e quais devem ficar em outras soluções. É por isso que trabalhamos através de uma rede de parceiros qualificados por todo o mundo, que ajudam os clientes a definir as melhores arquiteturas, baseadas em metodologias técnicas, melhores práticas, experiências prévias, etc..

MG: Existe alguma tendência no uso da Plataforma Google Maps que já vem ocorrendo em países onde o uso da tecnologia é mais comum pelas empresas e que está por vir para o Brasil?

GC: Há uma série de tecnologias que o Google vem trabalhando e testando com empresas parceiras por todo o mundo. Algumas destas iniciativas estão diretamente ligadas à questão geoespacial, como por exemplo: Skybox, Tango e Business View. Recentemente o Google adquiriu a empresa de satélite Skybox, responsável pela construção e lançamento do menor satélite de alta resolução do mundo, coletando imagens e vídeos diariamente, com objetivo de tornar a informação acessível e útil. Por dia, milhares de gigabytes são gerados e, por meio da infraestrutura de nuvem do Google, estes dados brutos poderão se transformar em respostas rápidas, aplicando diversos métodos de sensoriamento remoto para detecção de mudança (desmatamento), por exemplo. A grande vantagem é utilizar a elasticidade da plataforma do Google para processar milhares de terabytes em um tempo razoavelmente baixo – esta plataforma foi usada recentemente para excluir as principais áreas de cobertura de nuvens nas imagens disponíveis no Google Maps. O projeto Tango é outra iniciativa que busca dar aos dispositivos móveis (smartphones e tablets) uma percepção humana sobre escala e movimento. O projeto contém hardware e software projetados para mapear em 3D todo o movimento do dispositivo, criando simultaneamente um mapa do ambiente em questão. Estes sensores permitem ao dispositivo realizar mais de 250 milhões de medições 3D por segundo, atualizando a posição e orientação em tempo real. Isto irá permitir que as pessoas interajam de uma forma totalmente diferente com o ambiente, criando protótipos tridimensionais de algo em algumas horas que, sem esta tecnologia, poderiam demorar meses ou anos. Recentemente, lançamos no Brasil e México a plataforma denominada Google Business View, que permite que estabelecimentos possam criar seu próprio Street View, através da contratação de uma agência certificada pelo Google, e disponibilizarem no Google Maps para que potenciais clientes tenham uma experiência única de conhecer o ambiente virtualmente. Apenas para exemplificar, alguns restaurantes nos Estados Unidos e Europa já proporcionam tal experiência, oferecendo a navegação em 360º pelo ambiente (visualização esférica) além de permitir que o cliente selecione a mesa específica que deseja reservar. Sem dúvida, vemos um enorme potencial de crescimento da plataforma na região pois, além de tudo, muda-se um pouco como tais estabelecimentos e/ou empresas se comunicam e atraem novos clientes. Apenas como ilustração, caso o usuário busque no Google Maps a Decathlon da Rodovia Raposo Tavares, poderá visualizar, além de informações básicas (horários de abertura e fechamento, telefone de contato, revisões de clientes), toda a loja virtualmente.

MG: Qual é a estratégia do Google para facilitar o acesso a dados geoespaciais para uso corporativo?

GC: Há 10 anos iniciamos com uma visão muito simples do mundo. Antes do Google Maps, muitos sistemas GIS Web não só demoravam mais de 15 segundos para carregar o mapa e realizar operações básicas de zoom, por exemplo, como também o usuário tinha que navegar por 3, 4, 5 ou ainda mais diferentes caixas de texto para se buscar o que desejava. Usando a infraestrutura em escala da nuvem do Google, o time de engenheiros desenvolveu uma ideia brilhante de pré processar os mapas como tiles e servi-los por demanda. Atualmente, o Google Maps API é usado em mais de dois milhões de sites ativos e aplicativos, atendendo os dois bilhões de usuários já supracitados. Sem dúvida, há um número significante de desenvolvedores utilizando nossa plataforma mas, como uma empresa de inovação, estamos sempre buscando criar novas funcionalidades e/ou tendências para atingir os próximos milhões de usuários e/ou desenvolvedores, sejam em suas startups ou ambientes corporativos. No último mês lançamos um aplicativo completamente novo no Google Maps e Google Earth para Android. Agora, o usuário terá uma experiência diferente no Google Earth, com muito mais desempenho e suavidade na navegação em 3D. Para os desenvolvedores, o impacto também será grande, pois a API do 3D utilizará o mesmo motor de renderização do ambiente 2D, permitindo assim que as aplicações possam intercalar entre os dois ambiente de maneira simples e rápida. O investimento contínuo no melhoramento da qualidade do mapa base do Google é também algo a se ressaltar. A ferramenta Google Map Maker é responsável por mais de 40 mil atualizações por mês no mapa, realizadas pela própria comunidade de usuários, além das milhares de fontes oficiais que o Google utiliza para incrementar a qualidade do mapa. No último ano lançamos no Brasil e México uma funcionalidade que permite aos usuários navegarem por imagens históricas do Street View e analisarem determinado local ao longo do tempo. Em resumo, o Google vem trabalhando bastante forte na inovação e evolução da plataforma como um todo e com certeza isto atenderá de maneira direta toda a comunidade de usuários e desenvolvedores, que incluem também os usuários corporativos.

MG: Qual é a posição do Google a respeito do grande crescimento do mapeamento colaborativo e como isto pode impactar o setor geoespacial, tanto para uso popular como corporativo?

GC: Claramente este é um tema em destaque no cenário atual. Vemos ao redor do mundo muitas iniciativas de mapeamento colaborativo e um dos destaques neste tema, sem dúvida, é o Waze, adquirido pelo Google em 2013, que permite que a comunidade não só interaja entre si informando acidentes, pontos de inundação, manifestações, etc. na cidade, como também colaborando no sentido de melhorar a qualidade do mapa (ruas, avenidas, radares, entre outros). Acredito que o grande desafio do setor geoespacial perante a este crescimento é buscar encontrar uma convergência entre o desenvolvimento de softwares direcionados a especialistas da área e plataformas robustas e intuitivas que atendam uma parcela de usuários que não necessariamente são conhecedores de GIS, mas com total interesse em mapear e colaborar diversas situações. O mapeamento colaborativo está diretamente relacionado a uma das principais tendências que deverá definir o desenvolvimento de tecnologia de mapeamento na próxima década: a localização. Sabemos que a localização precisa adquire importância cada vez maior ao usuário, seja em sua vida pessoal ou no trabalho, possibilitando a obtenção de informação em tempo real por demanda – vide novamente o Waze – e abre completamente múltiplas oportunidades para o setor geoespacial. No Google, por meio do desenvolvimento de novas tecnologias como Self-driving cars, Google Glass e Android Auto, já estamos adotando estas experiências. Porém, pensando na perspectiva de desenvolvedores, empresas, etc., analisamos que as possibilidades são enormes. Imaginem por exemplo o desenvolvimento de uma solução para uma rede de lojas. O consumidor, usando um aplicativo, caminha pelo estabelecimento e aquele produto, que se adequa ao seu perfil, é automaticamente ofertado para ele e através do aplicativo já pode realizar a compra. Neste caso, o consumidor não tem acesso a um mapa; a experiência é dada apenas pela localização. A conectividade através de mapas e hard-
wares (laptops, tablets e celulares) é chave para a experiência baseada na localização. Pensando nisto, o Google desenvolveu uma funcionalidade que permite ao usuário salvar seus pontos favoritos e criar seu mapa personalizado. Estas informações poderão ser provenientes de sites terceiros, desenvolvidos com a API do Google Maps, e o usuário poderá salvar determinada informação para o seu próprio mapa e visualizá-lo posteriormente em qualquer dispositivo. Estes pontos de interesse salvos estarão sempre disponíveis quando o usuário desejar fazer uma rota, buscar o Street View, etc..