Internet: o melhor caminho para quem dirige

Morando no Maine, um estado rural, e vivendo ao lado do campus da universidade há mais de um ano, sempre vou e volto para a escola a pé ou de bicicleta. Então, talvez eu não seja a pessoa certa para falar sobre nosso assunto de hoje, o e-carro. Mas, tendo morado toda a minha vida até então em cidades grandes, eu ainda me lembro bem como é passar uma ou duas horas dentro de um carro todo dia. Não custa falar também, já que o assunto da nossa coluna é Internet, que ouço todo dia o noticiário de Belo Horizonte das 6 da tarde pela Internet e a primeira noticia é sempre sobre o trânsito. E é claro que o trânsito em BH não é diferente do Rio ou São Paulo na hora do rush.

Agora imagine você em seu carro e tendo de tomar uma decisão sobre qual a melhor opção para voltar para casa. Você já está a caminho e agora tem de escolher entre pegar um viaduto ou uma avenida marginal e de repente seu carro te avisa: o viaduto X está engarrafado, a melhor opção é pegar a avenida Y ao invés de ir pela rota que estava programada.

Mas como é este negócio de carro que fala?

Os carros estão ficando cada vez mais eletrônicos. Já é normal hoje um microchip tomar conta do motor, mas agora o computador vai tomar conta também da cabine de seu carro. E o que é melhor: seu carro vai ter um endereço IP. Um endereço IP é um numero único, como o endereço de sua casa, que identifica um computador ligado na Internet. É disto que estamos falando, do e-carro, o carro ligado na Internet.

O carro que te avisou sobre a melhor rota estava usando um aparelho GPS que indica a posição geográfica do carro. Você, dono do carro, é claro, é um assinante do serviço de localização geográfica e tráfego, www.a_melhor_rota.com.br. Quando você chegar em casa meia hora mais cedo já vai achar que a assinatura deste mês valeu a pena. O seu carro recebe as informações do GPS e repassa para o serviço de localização, que escolhe a melhor rota de acordo com informações atualizadas do trânsito. As suas rotas podem ser pré-programadas ou informadas na hora utilizando a interface para acesso a mapas embutida no computador do seu carro.

Se você calcular quantas pessoas usam o carro por dia, só em São Paulo por exemplo, e multiplicar pelo menos por duas horas, cinco dias por semana, 50 semanas por ano, você verá porque o e-carro está sendo levado cada vez mais a sério. Com o e-carro você vai poder ouvir e ditar e-mails, fazer perguntas ao seu navegador, sintonizar um rádio ou conversar com alguém conectado a rede ou simplesmente com alguém usando um telefone.

É claro que a interface deste navegador para e-carros deve ser diferente das atuais. Dirigir a 80 Km/h e navegando na Internet pode ser perigoso. Os comandos e interações deste novo navegador deverão estar bem embutidos no carro para que ele possa ser usado sem causar acidentes no trânsito.

Mas, continuando a sua viagem você recebe um e-mail sonoro do contador de sua empresa. Ele quer saber o que você estava fazendo com o carro da empresa a 120 Km de distância da cidade na região praiana em um domingo? É, o e-carro tem também suas desvantagens. O GPS gravou todo seu trajeto e quilometragem e você não tem mais de preencher aqueles formulários para ser reembolsado pela gasolina. Mas em compensação seu patrão tem agora um controle muito melhor sobre você e seu carro, ou melhor, o carro dele, já que você está usando o carro da empresa.

O e-carro na realidade é um carro com computador e conexão Internet. Mas existe uma grande diferença. Quando um computador está ligado à Internet geralmente ele tem um localização fixa. O e-carro é a Internet móvel. O navegador agora tem de estar atento às constantes mudanças e se adaptar ao novo contexto geográfico. Os usuários do e-carro querem um navegador que faça a diferença, porque usuários deste tipo de carro estão interessados em serviços.

Eles querem usar as facilidades de Internet como uma continuação do escritório, da secretária, do telefone. O navegador do e-carro tem de automatizar ao máximo as tarefas aborrecidas de achar a localização exata do restaurante para o almoço de negócios, da loja para as compras mais rápidas. O usuário quer, na tela do seu e-carro, apenas informações que sejam relevantes para aquela localização. A união do GPS com a Internet tem um potencial muito grande para mudar a cara atual dos navegadores. O que está vindo por aí deve ser bastante diferente do que estamos acostumados hoje.

Frederico Fonseca é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente cursa doutorado na Universidade do Maine. email: fred@spatial.maine.edu