Por Cleice Edinara Hübner e Francisco Henrique de Oliveira

Hodiernamente a demanda por geoinformação de qualidade e de fácil acesso é crescente e seu uso tem forte relação com os processos de tomada de decisão, principalmente para solucionar problemas sociais, urbanos e ambientais, visando o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, é importante construir um processo adequado de acesso às geoinformações, para que as pessoas possam tomar decisões eficientes, ou seja, no momento certo e com qualidade e facilidade de acesso. Assim, se dá na sua essência a gestão da geoinformação.

Gestão da Geoinformação

Antes de abordar a gestão da informação, inclusive geográfica, entendida aqui como sinônimo de geoinformação é válido apresentar a definição de dado geográfico e de informação geográfica, assim como destacar a sua intrínseca relação.

Dados geográficos são dados que descrevem fenômenos localizados espacialmente na superfície da terra. Possuem três características fundamentais: espaciais, que informam a posição geográfica do fenômeno e sua geometria; não-espaciais atributos que descrevem o fenômeno; e temporais que informam o tempo de validade dos dados geográficos e suas variações sobre o tempo (BORGES, 1997).

A distinção básica entre dado geográfico e informação geográfica, reside na capacidade de transformação. O primeiro é puramente sintático e o segundo contém necessariamente semântica, ou seja, o acréscimo de significado e contexto para um dado geográfico, através do processamento e análise deste dado, gera informação geográfica ou geoinformação, que comunicada, interpretada e aplicada para uma determinada finalidade, resulta na construção de conhecimento geográfico. O planejamento e controle de todo esse processo de transformação do dado geográfico em informação geográfica, e da utilização desta informação para um determinado fim, envolve o que é chamado de Gestão da Geoinformação, conceito derivado da Gestão da Informação.

Para Barros (2004, p. 22) o termo Gestão da Informação “significa o planejamento, a construção, a organização, a direção, o treinamento e o controle associados com a informação de qualquer natureza”. A expressão surgiu da crescente necessidade de administrar os aspectos humanos (pessoas, recursos financeiros, etc.) e tecnológicos (equipamentos, softwares, etc.) relacionados à informação. Segundo o autor o conteúdo teórico e operacional da gestão da informação é atualmente imprescindível para qualquer empresa ou organização que necessite produzir, localizar, coletar, testar, armazenar, distribuir e estimular o uso da informação.

O conceito de gestão da informação aplicável ao contexto da Geoinformação é entendido como o conjunto dos diversos meios e atividades de coleta, organização, processamento, administração e publicação de dados e informações geográficas duma empresa, organização ou instituição, que as usam para aperfeiçoar seus negócios, para tomada de decisão ou para estimular o uso da geoinformação. Assim, gerir geoinformação envolve gerenciar não somente informações geográficas, mas também os dados geográficos e os meios tecnológicos de organização, processamento e distribuição dos dados, que geram e disseminam a geoinformação.

O objetivo básico da gestão geoinformacional é fazer com que dados e informações geográficas de qualidade, cheguem às pessoas que necessitam delas para tomar decisões, no momento certo e com qualidade e facilidade de acesso. Ou seja, a eficiência da gestão da geoinformação está intimamente relacionada à administração comportamental dos seus usuários e as ferramentas que se adaptam as suas necessidades, pois os usuários têm papel central na criação, obtenção, compreensão, utilização, transformação, distribuição e troca de geoinformação.

Qualidade da Geoinformação

Dentro do processo de gerenciamento da geoinformação, o quesito qualidade tem grande importância. Conforme, Faïz e Boursier (1996 apud Vianna e Menezes, 2007) a eficiência da tomada de decisão está intimamente ligada à qualidade do dado utilizado para gerar a geoinformação. Conseqüentemente, para se tomar a decisão mais adequada, é preciso avaliar a qualidade da informação geográfica antes do seu uso.

Para que efetivamente se aproveitem as potencialidades dos sistemas digitais, no incremento de produtividade e no atendimento prestativo às demandas dos usuários é fundamental a aplicação de parâmetros e mecanismos de controle de qualidade dos dados geográficos no processo de gestão da geoinformação.

A excelência de um sistema digital como o SIG por exemplo, depende principalmente da consideração de parâmetros da qualidade dos dados geométricos e descritivos utilizados, refletindo-se na confiabilidade das análises e decisões tomadas a partir desses sistemas de informação. Também dependem da qualidade do dado, os cruzamentos de informações entre os diversos usuários do SIG, questão muito relevante quando se trata da funcionalidade de um Cadastro Técnico Multifinalitário – CTM ou de um Sistema de Informação Territorial – SIT (BURITY, BRITO, e PHILIPS, 2005).

A norma internacional ISO 8402 define qualidade como a totalidade de feições e características de um produto ou serviço que tem em sua competência satisfazer necessidades declaradas ou implícitas (PORNON, 1993 apud BURITY, BRITO, e PHILIPS, 2005). Segundo o mesmo autor, esta definição pode ser adaptada para os dados geográficos, através da definição de especificações das necessidades de qualidade exigidas pelos usuários.

Segundo Devillers et al. (2007 apud Salehi et al.) na comunidade de geomática a qualidade do dado geográfico envolve qualidade interna e externa. A qualidade externa está relacionada ao que é conhecido como "fitness for use of the data”, ou seja, a condição do dado para uso. Esta condição pode ser conhecida desde que o dado geográfico seja acompanhado por seus metadados. Conforme FGDC (1998) os metadados descrevem o conteúdo, qualidade, condição e outras características do dado. O objetivo da documentação de metadados de dados geográficos é fornecer informações descritivas referentes aos dados, que permitem o usuário avaliar se o dado serve ou não para o uso que ele pretende fazer, como a localização, abrangência geográfica, qualidade, limitações de uso, histórico de processamento e aplicação, meios de acessá-lo e usá-lo, entre outras informações.

A qualidade interna do dado geográfico pode ser dividida em qualidade quantitativa e qualitativa. Dentre os principais parâmetros de qualidade quantitativa estão a acurácia posicional ou geométrica, acurácia temática ou de atributos (valores contínuos), acurácia temporal, completude ou completeza e consistência lógica. A qualidade qualitativa se refere à acurácia temática ou de atributos para valores discretos. A  resumidamente apresenta e relacionada os diversos componentes e parâmetros envolvidos com a qualidade de dados geográficos.

A acurácia posicional ou geométrica é um parâmetro de qualidade indicador do afastamento esperado de um objeto em relação à sua posição real no terreno (ÖSTMAN, 1997 e ARONOFF, 1995 apud BURITY, BRITO, e PHILIPS, 2005). Trata das coordenadas (latitude e longitude) num determinado referencial, incluindo medidas de acurácia horizontal e vertical de feições no conjunto de dados (CHAVES e SEGANTINE, 2005).

A acurácia temática ou de atributos está relacionada com a precisão do valor dos atributos que descrevem qualitativa (valores discretos) e quantitativamente (valores contínuos) os objetos geográficos (BURITY, BRITO e PHILIPS, 2005).

Figura 1
Figura 1. Componentes e parâmetros de qualidade de dados geográficos

Sob a ótica da qualidade de dados, em geral o tempo reporta-se à data em que foram colhidos os materiais que deram origem aos dados, como vôo fotogramétrico, reambulação, restituição, atualização, dentre outros. Assim, acurácia temporal descreve a correção do tempo e a atualização de dados medidas com base na última atualização, taxas de variação de entidades no tempo, valor inicial, lapso temporal ou validade temporal (CHAVES e SEGANTINE, 2005). De acordo com Burity, Brito e Philips (2005) o tempo pode ser considerado como um atributo em um SIG, facilitando análises de expansão urbana (lotes, vias, etc.), de variação no nível de rios, entre outras.

Segundo Morrison (1988 apud Chaves e Segantine, 2005) a componente de qualidade de dados geográficos que descreve a relação entre os objetos representados em um conjunto de dados e o universo abstrato de tais objetos geográficos denomina-se completeza.

Por consistência lógica Burity, Brito e Philips (2005) entendem ser o tipo de relacionamento existente entre duas feições geográficas representadas do terreno, ou seja, qual a melhor lógica de representação entre elementos em que exista algum tipo de relacionamento.

No contexto da gestão da geoinformação a acessibilidade é outro parâmetro importante de qualidade do dado geográfico e consequentemente da geoinformação. A acessibilidade é entendida por Burity, Brito e Philips (2005) como a disponibilidade do dado e/ou informação geográfica para o usuário. Quando se trata de acessibilidade de dados geográficos e de geoinformação deve-se considerar o intercâmbio de dados entre usuários e a interoperabilidade entre SIGs. O intercâmbio de dados é a capacidade de compartilhar e trocar dados, informações e processos entre diferentes usuários de geoinformação. Para Casanova et al. (2005) o grande desafio do intercâmbio de dados é enfrentar a diversidade de modelos conceituais dos SIGs disponíveis no mercado.

A acessibilidade está intimamente relacionada à qualidade externa dos dados geográficos, pois os metadados são essenciais para o acesso e a troca de dados e geoinformação entre os usuários. Nesse contexto, as tecnologias da geoinformação são fundamentais para garantir acessibilidade aos dados geográficos.

Tecnologias da Geoinformação

É indiscutível o papel principal do ser humano na gestão da geoinformação, pois a informação é uma criação essencialmente humana. No entanto, não se pode negar a importância que as geotecnologias ou tecnologias da geoinformação têm na geração e comunicação da geoinformação. A constante evolução tecnológica, principalmente dos SIGs e da plataforma internet favorecem o processo de gestão geoinformacional, principalmente devido à capacidade de se adaptarem as mais diversas necessidades dos usuários em inúmeras aplicações. Constantemente são criados, aprimorados e moldados aplicativos geotecnológicos para explorar novas formas de atenção aos usuários incrementando produtividade e estimulando o uso da geoinformação.

Karnaukhova (2003) chama atenção para o fato de que quanto mais eficiente é a organização dos dados geográficos e mais aperfeiçoada é a metodologia de interpretação e os meios tecnológicos de processamento, mais confiável, produtiva e eficiente será a geoinformação gerada. E neste processo de gestão de dados geográficos, os SIGs apresentam um excelente desempenho, pois oferecem: ferramentas de organização e estruturação de dados e metadados; mecanismos de controle de qualidade de dados; meios de aplicação de restrições de integridade de dados; interfaces inteligentes; ambiente confiável de processamento e interpretação de dados; formas eficientes e criativas de publicação de dados e metadados; entre outras possibilidades.

Tecnologia SIG ou Tecnologia GIG

A evolução dos SIGs tem fortemente aprimorado os processos de geração e gestão da informação geográfica. De acordo com Klimesova (2004) a tecnologia SIG está mudando para a tecnologia GIG, ou seja, para a tecnologia da Gestão da Informação Geográfica.

O SIG é considerado como umas das mais poderosas tecnologias da informação, porque é focada na integração de conhecimento de múltiplas fontes, gerando um ambiente propício para colaboração na tomada de decisão, para solucionar problemas, gerenciar recursos e bens, aumentar a eficiência dos trabalhos, promover a acessibilidade à informação e geralmente oferecer redução de custos para pequenas e grandes organizações.

De acordo com Inspire (2002 apud Júnior e Alves, 2006, pg. 65) os SIGs “deixaram de ser apenas ferramentas ligadas a projetos para se tornarem gerenciadores de recursos informacionais corporativos”. Dessa forma, os SIGs estão se tornando o centro de ambientes computacionais que abarcam grandes quantidades de usuários, distribuídos em várias localidades, e acessando grandes volumes de dados. Estes sistemas de informação são chamados de SIGs Corporativos ou SIGs Distribuídos.

Os SIGs têm reunido amplamente as necessidades corporativas, suportando arquiteturas robustas associadas a outras infra-estruturas e outros softwares corporativos. Estes sistemas, associados aos recursos da internet, têm fornecido bases para construir sistemas integrados multi-departamentais que permitem colaboração para coletar, organizar, analisar, visualizar, gerenciar e disseminar informações geográficas. Estas soluções SIG estão intencionadas a atender as necessidades coletivas e individuais de uma organização, e a fazer com que informações geográficas sejam disponíveis para profissionais e não profissionais de SIG.

A incorporação da internet nas soluções SIG beneficiou a gestão geoinformacional, principalmente por consentir a edição de dados por multiusuários através da internet. Segundo Dangermond (2005) a integração entre SIG e Web permite replicar um banco de dados geográfico e sincronizar atualizações por meio da internet, permitindo diferentes organizações com diferentes localizações geográficas compartilhar e atualizar o mesmo banco de dados virtual, através de múltiplas cópias dos dados distribuídas. As atualizações podem ser automáticas ou definidas pelos usuários e o SIG mantém as replicas do banco de dados atualizadas sincronicamente. Este recurso SIG é fundamental para o sucesso de muitos ambientes informacionais corporativos ou distribuídos, pois possibilita não apenas colaboração, mas também co-produção e a noção de base de dados repositória central, com um número de participantes distribuídos regionalmente. O que evita maiores custos decorrentes de várias versões de um mesmo dado espalhado por vários setor
es, departamentos ou organizações, e facilita o acesso ao dado sempre atualizado para tomada de decisão.

Geoinformação para Todos

Conforme Dangermond (2005) a atual tecnologia da informação geográfica está totalmente voltada para conectar e integrar todos os esforços individuais de SIG, no intuito de fornecer uma base SIG global e beneficiar toda a sociedade com suas potencialidades. Vislumbra-se esta base SIG como uma ampla rede de distribuição de serviços SIG na internet, que abarcaria a descrição e modelagem de todo o conhecimento que se tem sobre o planeta Terra. Suportando mapas, publicação de dados, catalogação de metadados e pesquisa de serviços geográficos para uso em uma série de aplicações regionais, nacionais e globais.

O acesso global à informação geográfica está condicionado à padronização de dados e metadados e ao uso de recursos geotecnológicos que permitem um gerenciamento multiusuário e multifinalitário da geoinformação. A necessidade da criação de padrões é largamente justificada quando se objetiva a redução de custos, a interoperabilidade, a integração com outras bases de dados e a produção específica dos mesmos. A criação de padrões comuns e mecanismos eficientes para o desenvolvimento e a disponibilização de dados geográficos digitais, podem ser alcançados por meio de ações coordenadas entre as nações, organizações e usuários que promovem conhecimento geográfico.

A padronização implica que, os dados geográficos em questão, devem manter o mesmo significado e características, quando da sua migração e uso em sistemas distintos. A existência de normas que regule esse processo é fundamental, pois irá viabilizar o intercâmbio e uso dos dados geográficos. Questões como formulação, estrutura, semântica, consistência e atributos serão guiados por regras que objetivam manter a integridade do dado espacial, em todas as suas instâncias (BURITY e SÁ, 2003).

Entre as organizações internacionais que se ocupam de trabalhar com padronização de dados referentes ao espaço geográfico, têm papéis destacados o Open Geospatial Consortium – OGC e a International Organization for Standardization – ISO. Existe uma cooperação mútua entre as organizações OGC e o ISO, que buscam a implementação de padrões globais em dados geográficos.

O OGC é uma organização sem fins lucrativos composta por mais de 250 companhias, agências governamentais e universidades, criada para desenvolver especificações de interfaces e padrões que permitam a interoperabilidade entre sistemas que trabalham com informação geográfica. As interfaces abertas e os protocolos desenvolvidos pela OGC almejam a integração completa de dados geográficos e seus recursos de processamento, e apóiam soluções que permitem interação via Web (DAVIS JÚNIOR et. al., 2005 e ERBA, 2005). Assim, conforme Araújo, Carneiro e Sá (2002) os sistemas de geoinformação construídos com base nas especificações do OGC serão capazes de realizar a interoperação entre aplicações em uma rede local, navegar sobre um ambiente heterogêneo e distribuído como a Internet, e acessar dados geográficos e recursos dos SIGs

A ISO é uma organização não governamental composta por uma estrutura de institutos nacionais de padronização de 147 países, que unificam padrões para a indústria. Os padrões ISO são desenvolvidos por comitês técnicos, em 1994 foi criado o Comitê Técnico 211 – Informação Geográfica/Geomática, com o objetivo de estabelecer um conjunto estruturado de padrões para informações a respeito de objetos ou fenômenos, que estão direta ou indiretamente associados com a sua localização relativa à Terra. Esses padrões podem especificar para informações geográficas, métodos, ferramentas e serviços para administrar dados e metadados, incluindo definição e descrição, aquisição, processamento, análise, acessibilidade, apresentação e transferência na forma eletrônico/digital, entre diferentes usuários, sistemas e localizações (BURITY e SÁ, 2003).

A Global Spatial Data Infrastructure Association – GSDI é outra organização internacional importante que trabalha no propósito de geoinformação para todos. A GSDI é uma associação de organizações, agências, empresas e indivíduos que tem como propósito promover cooperação e colaboração internacional para desenvolvimento de Spatial Data Infrastrucutre – SDI ou Infraestruturas de Dados Espaciais – IDE, a nível local, nacional, regional e transnacional. Segundo Parma (2006) o termo "Infraestrutura de Dados Espaciais" designa a acumulação de tecnologias, normas e planos institucionais, que promove a disponibilidade e o acesso padronizado à dados geoespaciais. Conforme Júnior e Alves (2006) a IDE deve ser distribuída, suportar múltiplas aplicações, clientes de diversos tipos, inúmeras fontes de dados, múltiplos grupos para manutenção e atualização, todos formando um ambiente computacional heterogêneo e colaborativo, que administra, compartilha e contribui com informação e conhecimento geográfico.

No Brasil existem algumas iniciativas de padronização de dados geográficos, mas em geral está focada em atender a demanda particular dos seus desenvolvedores, como as iniciativas da PRODABEL, INPE, VALE, entre outros (BURITY e SÁ, 2003; INPE, 2000 e CREM, 2007). Em termos de uma padronização de dados geográficos a nível nacional a Comissão Nacional de Cartografia – CONCAR apresenta, em seus Comitês Especializados e na sua proposta de modernização, a importante iniciativa de liderar o processo de IDE no Brasil (CAMBOIM, 2008). A primeira intenção formada de se iniciar o processo de implementação de uma Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE) para o país se deu através do Comitê de Estruturação da Mapoteca Nacional Digital, com a criação e definição de uma estrutura e organização dos dados da Mapoteca Nacional Digital, de acordo com as diretrizes de uma IDE.

Conforme Lunardi e Augusto (2006) nos trabalhos do Comitê de Estruturação da Mapoteca Nacional Digital da CONCAR estão sendo previstos os padrões de intercâmbio de dados da OGC. A preocupação em manter o relacionamento com o padrão OPEN GIS decorre de uma visão mais ampla que contempla a possibilidade de integração das bases cartográficas brasileiras com a Cartografia Mundial.

Nesse contexto, a tecnologia SIG além de proporcionar mecanismos eficientes para o desenvolvimento de dados e metadados padronizados, oferece uma nova dimensão para divulgar e disponibilizar dados geográficos digitais, reduzindo a distância entre os geradores de geoinformação e os usuários em potencial. Associada aos recursos de multimídia (som, imagem e escrita) esta divulgação se torna ainda mais eficiente, pois possibilita uma interação dinâmica do usuário com a geoinformação.

As principais soluções SIG que permitem qualidade de acesso e de comunicação de dados geográficos e geoinformação através da internet são conhecidas como Webmapping e GIS Portals.

A aplicação Webmapping, também conhecida como “SIG-Web” ou “Web-GIS” é uma ferramenta de análise visual e de interação com dados e informações geográficas na internet (Figura 2), reúne a facilidade de uso de uma interface Web à facilidade de interpretação da representação de dados visuais (mapas e imagens). Segundo Marisco (2004) os processos de revolução tecnológica levaram a cartografia buscar novos meios de comunicação dos produtos cartográficos, a qual destaca-se a World Wide Web, por isso Webmapping pode ser compreendido como sinônimo de cartografia interativa. Conforme Parma (2006), a finalidade básica do Webmapping é permitir a recuperação de informação espacial rápida e simples para um grande número de usuários. Esta aplicação SIG tem demonstrado que o ambiente Web é um meio ideal para implementar serviços de distribuição automatizada de produtos cartográficos digitais e de atualização de bases de dados geográficos.

Figura 2
Figura 2. Aplicativo Webmapping do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral – DNPM
Fonte: http://sigmine.dnpm.gov.br/

Os GIS Portals chamados também de “Portal SIG”, “Portal Web” ou “Geoportais” são componentes essenciais de uma IDE, constituem o ponto de entrada para conteúdo geográfico disponível na Web (). Esta aplicação SIG consiste em um Web site, através do qual outros sites que compartilham geoinformações e serviços geográficos, podem ser alcançados (Júnior e Alves, 2006). A organização e busca da geoinformação ou geo-serviço se dá através de um repositório ou catálogo de metadados do site. Os GIS Portals usam os metadados para gestão da geoinformação, porque estes incluem informações suficientes para permitir a localização, interpretação, uso e a aplicação apropriada e correta dos dados. De acordo com Casanova et. al. (2005) os metadados tratam a interoperabilidade em nível de gerenciamento da informação, facilitando a recuperação e o uso de um dado ou informação contida um ambiente computacional.

Figura 3
Figura 3. GIS Portal do Canadá – GeoConnections Discovery Portal)
Fonte: www.geodiscover.cgdi.ca

Considerações Finais

O gerenciamento da geoinformação, apoiado pelas tecnologias da informação geográfica como as aplicações SIG são fundamentais para a disseminação de geoinformação de qualidade para uso multifinalitário. As IDEs e seus GeoPortais são algumas das iniciativas de integração e acesso global à geoinformação.

Em ambiente informacional corporativo e colaborativo a eficiência da gestão da geoinformação está condicionada à administração do comportamento e da interação dos usuários com a geoinformação, seja na produção, transformação ou distribuição; á disponibilidade de ferramentas que se adaptam às necessidades dos usuários, principalmente, quanto à qualidade e facilidade de acesso à geoinformação; à exploração de novas formas de atenção aos usuários; e à incitação do uso multifinalitário da geoinformação.

Os dados geográficos são muitas vezes a base de estruturação de um sistema corporativo público ou privado, que sustenta a tomada de decisão frente a uma temática específica (fiscal, econômica, ambiental, planejamento, etc.). Assim, ter o processo de gestão do dado, da informação e da tecnologia sedimentado em um ambiente de divulgação e de facilitação de acesso aos multiusuários é primiordial.

Geógrafa Mestranda Cleice Edinara Hübner
hcleice@hotmail.com
Prof. Dr. Francisco Henrique de Oliveira
chicoliver@yahoo.com.br
UFSC – Cadastro Técnico Multifinalitário

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