Nessas minhas andanças pelos rincões do país atuando como instrutor e consultor em geotecnologias e convivendo com os mais variados hábitos e costumes populares, venho parafrasear o célebre poeta e cantor Luís Gonzaga, na sua música “A Vida do Viajante”, onde ele traduz a alegria e o contentamento de suas viagens, em alguns trechos dos versos “Minha Vida é andar por este país pra ver se um dia descanso feliz…”, “Guardando a recordação das terras onde passei…”, “E dos amigos que lá deixei”, “Longe de casa sigo o roteiro mais uma estação e a alegria no coração”. Estes trechos expressam a satisfação melancólica do rei do baião, que embora com saudade da família e amigos, viaja pelo país trocando experiências e compartilhando informações.

GeoretóricaSaindo do campo das divagações e comparações musicais e partindo para nossa área de atuação profissional percebo que atualmente nas minhas viagens profissionais os clientes dos mais variados perfis, segmentos e regiões estão exigindo no processo de instrução técnica, informações com níveis de maturidade mais elevados com relação ao uso de metodologias e ferramentas espaciais. Participar de um treinamento técnico tradicional de software não atende mais simplesmente ao contexto de aplicação cotidiana do usuário. Há a necessidade de complementação de informações e uma contextualização do seu segmento no âmbito geográfico, que passa por questões de esclarecimento como: dados disponíveis no mercado, estruturação e padronização de bases de dados, preços e ferramentas adequadas a trabalhos específicos, metodologias apropriadas, análises e testes comparativos, experiências correlatas e, sobretudo como usar a instrução aprendida em uma situação real. Este tipo de amadurecimento ou esclarecimento por parte do cliente faz com que o professor ou instrutor, diante da sua imparcialidade, pratique um processo velado de consultoria, mostrando que o SIG não é um sistema centralizador ou isolador de informações geográficas, como pensava-se antigamente, mas sim uma possibilidade de integração de elementos espaciais aos mais diversos e complexos sistemas existentes, otimizando tarefas e facilitando a gestão e tomada de ações. 

GeoretóricaSe pudéssemos voltar no tempo, mais precisamente aos princípios da disseminação do SIG no Brasil, creio que nem mesmo as mentes mais vanguardistas poderiam prever a expansão e integração alcançada pelas tecnologias espaciais junto à diversidade de regiões, mercados e tecnologias existentes. Inicialmente prevíamos que o SIG seria uma maravilhosa ferramenta de mapeamento de dados, visualizando-a naquele momento como ponto de partida, mas na verdade, uma promessa para o futuro. Obviamente, temos que analisar o contexto da época, ou seja, no início da década de 80 tínhamos fortes restrições tecnológicas, estava nos sendo apresentada uma tecnologia nova, além do esforço de criação de uma cultura voltada ao mundo geográfico. Devido a esta subutilização do SIG, relegado a um mero, “pintor” de mapas, havia uma dificuldade até mesmo na explicação do trabalho realizado, relembrando uma velha piada, onde dizer que trabalhava com GIS era imediatamente associado a professor e GEO (gel) a cabelereiro.

Hoje em dia, os elementos espaciais e suas ferramentas de manipulação estão amplamente inseridos no nosso cotidiano, não sendo possível imaginar como seria viver sem tal tecnologia no trabalho, no lazer, na segurança, nos transportes, na saúde etc. Desta forma acompanhando estas transformações tecnológicas e de mentalidade ao longo do tempo, percebo que em minhas conversas e caminhadas pelo Brasil afora, ocorreu um amadurecimento e uma democratização regional da georetórica, que tomou corpo, deu vida e frutos a estudos variados neste vasto ambiente geográfico.

George Serra
Geógrafo, instrutor certificado ESRI, com especialização em cartografia aplicada ao SIG/SR e mestrado em engenharia/geoprocessamento pela EPUSP
Atua como consultor em geomarketing e instrutor em geotecnologias
gserra.geosert@gmail.com