Qual a distância que separa usuários das imagens de alta resolução?



Imagens de alta resolução feitas pela Space Imaging

Na revista infoGEO nº1 (maio de 1.998), tive a oportunidade de publicar o artigo Satélites Comerciais de Alta Resolução – Uma nova geração de imagens orbitais. Naquela ocasião, a situação era bastante diferente da atual. As informações contidas naquele artigo, principalmente as relativas a datas de lançamento, operação e comercialização de dados – muitas vezes obtidas dos próprios fabricantes dos satélites – são hoje incompatíveis com a realidade.

Um exemplo é a citação do discurso de Lawrence W. Fritz (Lookheed Martin Corporation) no XVIII congresso da ISPRS. Ele afirmava estarem programados cerca de 60 lançamentos de satélites de observação da Terra antes do final de 1.999. Lamentavelmente, contando desde 1.996 (ano em que proferiu sua palestra) provavelmente não poderemos contar com mais do que 10 lançamentos até o final do século XX.

Após perder contato com o satélite Early Bird 1, quando estava há apenas 4 dias em órbita, em dezembro de 1997, a empresa Earth Watch cancelou a fabricação do segundo satélite da série – Early Bird 2. Agora está concentrando seus esforços na missão do Quick Bird 1, que fornecerá imagens com 1 m de resolução, e que está programado para ser lançado no final deste ano. Mesmo recebendo US$ 29 milhões de seguro pela perda do Early Bird 1, a empresa Earth Watch sofreu um impacto negativo bastante significativo com o incidente, chegando a reduzir seu quadro de pessoal.

Outra novela são as imagens do satélite russo SPIN-2 (Aerial Images Inc. – USA e Sovinformsputnik – Rússia), que utiliza um sistema de câmeras para obter imagens com 2 e 10 m de resolução. Segundo os distribuidores americanos, a missão de fevereiro de 98 teria obtido imagens atuais de quase todo o território brasileiro, que estariam disponíveis aos usuários em junho deste ano. No início de 1.998 algumas empresas estrangeiras chegaram a oferecer imagens do SPIN-2 a preços tentadores. Mas a pergunta é: existem realmente estas imagens do Brasil? E ainda mais especificamente, da minha área de interesse?

Eu mesmo já tentei adquirir várias imagens para realizar serviços para meus clientes e nunca fui atendido. Qual seria o problema? Volume muito grande de dados, dificultando o processamento e manipulação digital das imagens pela Kodak Earth Imaging? Falta de agilidade comercial dos americanos? Ou a falta das próprias imagens?

Em novembro passado estive presente na reunião de treinamento dos distribuidores latino-americanos de imagens do IKONOS 1 (1 e 4 m de resolução) realizada no Rio de Janeiro pela Space Imaging, que é atualmente a maior provedora mundial de produtos e serviços de sensoriamento remoto orbital. A Space Imaging comercializa dados do Landsat-5, dos satélites indianos IRS-1C e 1D e, mais recentemente, através de acordo firmado nesta reunião com a Radarsat International, imagens do satélite canadense Radarsat-1. Com relação às imagens do Landsat-5 eles próprios reconhecem que não são competitivos no mercado brasileiro. Quanto às imagens do IRS-1C e 1D, com 5,8 metros de resolução, a novela continua. As imagens são ótimas, os preços acessíveis, mas existe uma única cena de uma área no Brasil. A Space Imaging está tentando um acordo com o INPE para poder receber os dados na estação de recepção em Cuiabá e levar essa informação aos EUA para depois comercializá-la. Da mesma forma está tentando utilizar a antena em operação em Córdoba, na Argentina, que supriria boa parte do território brasileiro. Mas até agora nada.

O IKONOS 1, que tinha lançamento anunciado para junho de 98 (depois adiado para novembro), agora ficou para junho de 99. Este atraso permitirá testes adicionais no satélite para que haja certeza de 100% de sucesso não só no lançamento mas em toda operacionalização do sistema. O IKONOS 2 está sendo construído para ser lançado em seguida. Na reunião da Space Imaging em novembro, as informações sobre características técnicas do satélite e das imagens foram bastante esclarecedoras. Realmente estaremos frente a um sistema extremamente competitivo e de altíssima qualidade. Porém, a expressão ver para crer foi bastante usada pelos distribuidores. Ainda não existe uma política bem definida de preços e de comercialização para as condições do mercado brasileiro.

Eu, como distribuidor, usuário e comerciante de produtos derivados desta matéria-prima chamada imagem, estou realmente decepcionado. Este tipo de divulgação, que não deixa de ser uma propaganda, por parte dos donos dos sistemas satélites ou grandes provedores de imagens a nível mundial preocupa muito. Uma grande expectativa é causada nos usuários que, pouco a pouco, vão se dando conta de que as datas marcadas ficaram para trás e as imagens não apareceram. A falta de crédito das empresas junto à comunidade torna-se natural.

Apesar de tudo, estou bastante otimista e ansioso para chegar ao final de 1.999 podendo trabalhar com imagens orbitais de 1 metro de resolução. Acredito que os próximos 2 a 3 anos serão decisivos para o mercado de imagens de sensoriamento remoto, principalmente as de alta resolução, e temos que estar preparados para absorver e utilizar esta tecnologia em nossos projetos.

Dirley Schmidlin é engenheiro agrônomo, mestre em Interpretação de Imagens e Cartografia de Solos pela UFPR, responsável pelo Sensoriamento Remoto Orbital na Engefoto Engenharia e Aerolevantamentos S.A. (PR). email:engefoto@sul.com.br