Monitoramento de veículos, transmissão de dados GPS, correção diferencial de posicionamento. Todas estas são tarefas que imediatamente associamos à geoinformação. Agora, no entanto, é um novo sistema de satélites para telecomunicações que promete revolucionar todas estas atividades.


Amyr Klink: aventura monitorada por satélites Orbcomm (LEO)

Desde 1.995, a empresa norte-americana Orbcomm está trabalhando no lançamento de uma constelação de pequenos satélites (aproximadamente 40 kg cada) para transmissão de dados alfanuméricos com cobertura global. O objetivo principal é tornar operacional um novo sistema de envio e recepção de informações digitais a baixo custo para o usuário. Atualmente, 28 satélites já estão em órbita. Até julho, quando o sistema estará completo, serão 36.

A característica mais importante da nova constelação é a altitude a que os satélites orbitam. Ao contrário dos satélites geoestacionários atualmente disponíveis, que ficam em média a 36 mil quilômetros da superfície terrestre, os satélites da Orbcomm (conhecidos como LEO – Low Earth Orbit) orbitam a 825 quilômetros de altitude. Além de tornar o lançamento dos satélites (que é feito a partir de um avião) mais barato, isso diminui custos de operação e manutenção em relação aos sistemas usados até hoje.

Outro fator que reduz custos é que para alcançar os satélites não são necessários equipamentos caros e potentes. Um comunicador padrão Orbcomm custa entre US$ 500 e 1.000 no Brasil. Atualmente há 5 marcas destes comunicadores no mundo (Panasonic, Magellan, Scientific Atlanta, Stellar e Quake). Um terceiro fator redutor de preços é o fato de os dados serem transmitidos em VHF.

Com tudo isso, de acordo com Sérgio Marques, gerente de marketing e vendas da Orbcomm Brasil, empresa responsável pela comercialização dos serviços no país, o uso dos satélites LEO tem investimento inicial 3 vezes menor do que as soluções atualmente existentes. A Orbcomm Brasil é uma joint venture de Inepar e Telespazio e está sediada em Curitiba.

O sistema deve estar totalmente operacional ainda este ano. E, no Brasil, os usuários já poderão contar com um serviço bastante eficiente desde o começo. Com a inauguração do primeiro gateway (conjunto de antenas retransmissoras do sinal) brasileiro, no Rio de Janeiro, o tempo para transmissão de uma mensagem, desde seu envio até o seu destino, será em média de 1 minuto.

Para facilitar a distribuição dos serviços Orbcomm no país, estão sendo escolhidas empresas que vão vender toda a solução necessária para os usuários finais. As vars (value adding resellers), como são conhecidas, vão ser responsáveis pela venda dos equipamentos, pela integração dos comunicadores aos sistemas que deverão ser monitorados e pelo desenvolvimento de software e hardware customizados para o cliente. No Brasil, serão cerca de 20 empresas. É difícil prever todas as implicações que um sistema como este poderá ter para usuários de geoinformação. No entanto, por algumas aplicações que já se podem antecipar, é possível ver que o LEO vai ser bastante útil para técnicos de várias áreas das geotecnologias.

A aplicação que deve ter uma evolução mais visível no primeiro momento é o monitoramento de veículos. O sinal de um GPS instalado a bordo de qualquer veículo pode ser transmitido para uma central de controle através dos satélites LEO. Em função da diferença de custo para os sistemas tradicionais, técnicos da Orbcomm acreditam que este segmento de monitoramento pode ser revolucionado pelos satéites de baixa órbita.


Monitoramento de veículos

O envio de dados sobre posicionamento via LEO traz várias vantagens sobre o método tradicional de monitoramento. Sérgio Marques explica que a segurança oferecida ao usuário do veículo monitorado, por exemplo, é maior. Primeiro, pelo fato de a antena ser menor e poder ser instalada em lugares pouco visíveis. Assim, pode-se evitar que os ladrões da carga percebam onde está a antena e a inutilizem.

Outra vantagem: como o consumo de energia do sistema é muito menor, é possível usar o comunicador desconectado da bateria do veículo. Isso permite que sejam colocadas antenas de monitoramento não só no cavalo de um caminhão (parte responsável pela tração) como também nos containers de carga. "O sistema possibilita uma viagem de até trinta dias sem recarregamento de bateria. Isso torna o monitoramento de uma viagem de sul a norte do país viável, por exemplo", explica Marques.

Técnicos da Orbcomm acreditam que este sistema permitirá no futuro que até mesmo carros de passeio sejam monitorados por satélite. Na verdade, isso já vem sendo feito na Europa. Através de um programa chamado Viasat, o dono de um carro pode fazer com que o posicionamento de seu veículo seja conhecido 24 horas por dia. Além da segurança, o usuário do sistema ainda tem lucro: as seguradoras de automóveis já estão oferecendo descontos para quem for usuário Viasat.

O monitoramento via Orbcomm pôde ser visto em ação na mais recente viagem do navegador brasileiro Amyr Klinl. Durante toda a sua aventura de circunavegação pelo continente Antártico, Klink carregou a bordo do seu barco, o Paratii, um comunicador Orbcomm que informava para a sua equipe em terra sua posição em tempo real. Além disso, os dados eram logo em seguida colocados à disposição do público na Internet.

Possibilidades

A possibilidade de transmissão de dados GPS está fazendo com que boa parte dos comunicadores que darão acesso ao sistema estejam sendo fabricados já com um receptor de posicionamento embutido. A Magellan, por exemplo, já está lançando o primeiro receptor GPS especificamente desenvolvido para utilizar o sistema Orbcomm. (ver box).

Outro uso possível na área de geodésia é a transmissão de sinais de correção diferencial via satélite. Comenta-se no mercado, embora não haja confirmação oficial, que uma empresa norte-americana de sistemas deste tipo pretende lançar até o final do ano o primeiro sistema DGPS em tempo real (RTK) via satélite. A opção mais barata (e portanto mais provável) para a transmissão dos sinais, já é o uso dos LEO.

Algumas outras possibilidades de integração entre os LEO e as geotecnologias também podem ser vislumbradas. Muitos dos dados de sistemas monitorados remotamente através do sistema Orbcomm, por exemplo, poderão alimentar com muito maior rapidez um Sistema de Informações Geográficas. É o caso de um óleoduto/gasoduto da Petrobrás, por exemplo. Informações sobre pressão, temperatura e velocidade do gás e óleo conduzido pelos tubos, entre outras, serão monitoradas a distância por técnicos da Petrobrás. O GIS que gerencia este duto terá informações muito mais oprecisas e rápidas com o uso do LEO.

Em uma outra aplicação prevista pela Orbcomm, a segurança patrimonial, a aplicação do GIS também é essencial. Caso uma instalação esteja correndo risco de assalto, por exemplo, será um mapa digital que permitirá a visualização e facilitará a chegada até o local.

Vale ainda lembrar que a Orbcomm, apesar de ser a primeira a disponibilizar serviços deste tipo, não será a única companhia a comercializar sinais de satélites de baixa órbita. Já há outras empresas lançando satélites deste tipo, e dentro de 3 anos um segundo sistema deve estar operacional.

É fácil perceber que uma nova ferramenta de grande utilidade está surgindo com os LEO. Como diz o texto de apresentação do sistema Orbcomm na Internet, "este é um tempo muito excitante para a área de telecomunicações globais sem fio e, em particular, no mercado de LEO. Os vencedores serão aqueles que puderem oferecer alto nível de serviços, maior competitividade, assistência técnica e rapidez no atendimento com soluções definitivas ao consumidor final."

Contato Orbcomm Brasil:
Sergio Marques – Tel. (041) 341-1206 – e-mail:smarques@inepar.com.br

A Trimbase, uma das primeiras empresas no Brasil a acreditar no potencial do sistema Orbcomm, está trazendo para o Brasil o primeiro receptor GPS no mundo para envio e recebepção de e-mails via satélite. O GSC-100, da Magellan, transmite informações alfa-numéricas em VHF sem nenhuma necessidade de conexão a telefones ou cabos. As informações de coordenadas fornecidas pelo receptor GPS acoplado também podem ser transmitidas pelo sistema. O posicionamento obtido tem precisão de 50 m no modo autônomo e de 1 a 5 m se for usada a correção diferencial do rádio-farol da marinha. O equipamento, que é a prova d’água e portátil, pode salvar mais de 100 mensagens e 150 endereços e armazena até 200 waypoints.
Trimbase: (021) 509-6500 – e-mail:info@trimbase.com.br


GSC-100, da Magellan