Camillo José Martins Gomes é engenheiro cartógrafo e presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto).

O Brasil ocupa o quinto lugar entre os maiores países do mundo em extensão territorial, após a Rússia, o Canadá, os EUA e a China. Corresponde a 47,3% da América Latina. Ao mesmo tempo é um país marítimo em virtude de sua extensa costa atlântica. É possuidor da maior floresta do planeta.

Temos grandes contrastes demográficos, do vazio amazônico às enormes concentrações urbanas onde vivem 75% de nossa população. Defendemos a tese de que precisa haver uma enorme vontade política para revertermos o quadro atual de total desatualização cartográfica, na esmagadora maioria de nossos 5.507 municípios.

A grande maioria dos brasileiros desconhece as potencialidades e necessidades desta ciência – a cartografia – fundamental para o desenvolvimento das nações. Não existe um só país do Primeiro Mundo que não possua uma cartografia desenvolvida, atuante, moderna e que funciona como fator imprescindível de planejamento. Só para citar como exemplo, Tio Sam está mapeando todo seu fantástico país na escala de 1:10.000 (1 cm na carta corresponde a cem metros no terreno), de forma digital.

Muito breve, qualquer americano poderá comprar na banca de jornal da esquina do seu bairro um CD de qualquer parte do país e navegar em tempo real no seu computador pessoal ou a bordo do seu carro. A anteriormente chamada Alemanha Ocidental possui todo o seu território mapeado na escala de 1:5.000, fato inimaginável para nós. Vejamos o que ocorre hoje com a cartografia brasileira. Existia um órgão governamental denominado Cocar (Comissão de Cartografia) e que foi extinto no início da década de 1.990, no governo Collor, sem que houvesse uma única razão plausível para isso. Ingentes esforços foram feitos pelos dirigentes cartográficos no sentido de sua reativação, porém, como tudo neste país, somente quatro anos depois foi criada a Concar (Comissão Nacional de Cartografia).

Nesse ínterim, o mapeamento sistemático brasileiro não recebeu recursos para sua continuidade, e as dotações orçamentárias deixaram de ser contempladas no orçamento da União. Em total desrespeito às Constituições vigentes, assistiu-se à quase extinção da cartografia nacional. Os mapas tornaram-se obsoletos e o processo de atualização foi maquiavelicamente descontinuado. Nas escalas cadastrais (normalmente 1:10.000 e 1:2.000) qualquer planejador moderno sabe que os dados representam um aspecto crucial.

A realidade brasileira, hoje, não é retratada de forma fidedigna. A primeira etapa de qualquer projeto cartográfico começa com o vôo aerofotogramétrico, e, pasmem, aquele que abrange a maior parte do território nacional foi realizado na década de 1.960. Adivinhem por quem? Pela Força Aérea Americana.

É estarrecedor constatar, quando iremos completar 500 anos de nosso descobrimento, que possuímos apenas 1% deste imenso território mapeado na escala de 1:25.000. O que dizer então das escalas maiores? Há muito a realizar. O Brasil não pode esperar mais.

A Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (SBC), uma entidade civil, não governamental, tem, ao longo dos anos, promovido seminários, debates sobre a política cartográfica nacional, legislação cartográfica, e ensino e formação profissional, além de diversos cursos específicos da área.

Urge, sem quaisquer outras considerações, que a Concar – Comissão Nacional de Cartografia – seja revitalizada em termos político-econômicos, para que se possa estabelecer um novo plano de dinamização da cartografia.

Adaptado de artigo publicado originalmente em O Globo
Participe do XIX Congresso Brasileiro de Cartografia em Recife dos dias 3 a 8 de outubro.
Informações pelo telefone: (21) 240-6901
E-mail: sbc@rio.com.br

Camillo José Martins Gomes é engenheiro cartógrafo e presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto)