Por Luis Guilherme P. Buone

Iremos resumir brevemente aos leitores as impressões e experiências adquiridas no conhecimento e utilização desta nova tecnologia que se apresenta à agricultura brasileira, e também como estamos conseguindo transmitir aos nossos clientes, especificamente do setor rural, o quebra-cabeça tecnológico deste novo formato de gestão agrícola.

A diferença básica da "agricultura de precisão" em relação aos procedimentos atuais, reside no fato de que atualmente todos os cálculos de uso e dosagem de insumos, mecanização da terra, manejo pós-plantio e colheita, resultam de informações baseadas em médias produtivas dos talhões de plantio (no caso a célula mínima de controle e de manejo produtivo) e, em muitos casos, em médias calculadas a partir de projetos de plantio (vários grupos de talhões). Ou seja, certamente há super e sub dosagens.

Não havia formas de trabalho pontuais e precisas com custo/benefício favorável, até o momento em que misturou-se no caldeirão geotecnológico a rede de Satélites Geoestacionários, os aparelhos DGPS, as Imagens de Satélites, os softwares de Geoprocessamento e os sensores e computadores acoplados à equipamentos agrícolas, para a criação do conceito "Agricultura de Precisão".

Já estávamos desenvolvendo produtos e serviços apoiados em geoprocessamento, para o produtor rural, quando conhecemos esta nova tecnologia de trabalho. Mas também para nós parecia difícil entender o começo, meio e fim da "agricultura de precisão". Como começar, o que vender, qual o perfil profissional necessário, que atividade agrícola seria o foco,… enfim, muitas dúvidas. O fator determinante na criação de um conceito de trabalho foi compreender a "agricultura de precisão" como uma nova forma de gestão agrícola. E tratamos de chamá-la de "Agricultura e Administração de Precisão".

A seguir buscamos identificar práticas de difusão de seu uso nas condições brasileiras de produção, onde os profissionais do agronegócio, estão há alguns anos, extremamente pressionados pelos baixos resultados financeiros da atividade. Isso sem falar da crônica falta de política agrícola estável, fator limitante à adoção de novas tecnologias produtivas, tendo em vista o alto risco e o longo prazo de maturação de investimentos na atividade rural.

Identificamos os benefícios e desdobramentos que a adoção de diferentes dosagens de insumos e práticas de manejo, em um único talhão produtivo, acarretaria na gerência agrícola. A partir disso, sub-dividimos em quatro etapas de trabalho as necessidades intrínsecas à implantação de uma gestão agrícola de "precisão":

Cartografia Digital
Banco de Dados
Criação de Sistema Geográfico de Informações
Automatização do processo de coleta de dados do campo

Invariavelmente, tanto na mídia especializada como nos eventos do setor, as atenções da pesquisa e dos investimentos das grandes empresas de mecanização agrícola estão voltados para o que consideramos a última etapa de trabalho de implantação da gestão de "precisão", que é a automação da coleta de dados no campo, e geração de mapas de produtividade de talhões de plantio.

O desenvolvimento dos procedimentos de coleta de dados de forma automatizada é absolutamente necessário ao processo, mas da forma como tem sido apresentado a seus futuros usuários, está gerando muitas dúvidas quanto a viabilidade econômica, pois trata-se da etapa mais onerosa de toda a tecnologia. No campo, temos falado que isto é colocar o carro na frente dos bois. Ao contrário de países mais adiantados nesta nova tecnologia, no Brasil, são raras as propriedades rurais e empreendimentos agrícolas, com mapas digitais. Além disso, ainda temos as dificuldades geradas por diferentes metodologias e equipamentos utilizados nas medições das áreas.

Quanto à gerência informatizada de dados e resultados produtivos, de onde extraímos as informações para a tomada de decisões, temos acompanhado a dificuldade dos profissionais em manter rotinas de treinamento e difusão de softwares e sistemas capazes de facilitar o dia-a-dia no campo. Afinal, diferente do que acontece na empresa "urbana", os cronogramas são mudados em função do humor de "São Pedro" e de situações imprevistas, normais à atividade.

Também é importante lembrar que a agricultura exige a presença física no campo e conseqüentemente maior gasto de tempo e desgaste dos profissionais responsáveis na vistoria de stands de plantio. Atualmente é difícil, tendo em vista as dificuldades financeiras da atividade e a distância dos centros difusores de tecnologia, manter profissionais constantemente atualizados e treinados, sem falar dos custos de upgrades de software e hardware. Há dois meses, em um dos mais importantes grupos sucroalcooleiros do país, tivemos que "quebrar" a base cartográfica digital da área de atuação da usina em cinco partes, devido a hardware insuficiente.

Garantida uma boa e padronizada base cartográfica digital, e implantado um bom sistema de fluxo e controle de informações produtivas, nos deparamos com a necessidade da criação do Sistema Geográfico de Informações – GIS, verdadeiro coração da "agricultura e administração de precisão" e verdadeiro sonho de 10 entre 10 profissionais que já conheceram suas potencialidades.

Sou sincero em dizer que a RuralSat ainda não conseguiu implantar plenamente todas as etapas de trabalho da forma como as identificamos. Mas, temos certeza de que a "precisão" será, à longo prazo, utilizada em larga escala e estamos nos preparando para difundi-la da forma como nós a compreendemos, combinando visão setorial, experiência de gestão da empresa agrícola, os recursos da informática e o avanço das geotecnologias.

Luis Guilherme P. Buone é diretor da RuralSat -Mapeamento, Consultoria e Sistemas. Fones: (11) 816-3257 ou (11) 815-5530. E-mail: ruralsat@zaz.com.br