Os usuários de informações geográficas ainda têm muitas dúvidas sobre qual o referencial geodésico correto a ser utilizado tanto no território brasileiro como no restante da América Latina. Há alguns anos eram adotados diferentes sistemas de referência pelos países sul-americanos, como PSAD56, SAD69, Bogotá, Yacaré, Campo Inchauspe, etc.

Em 1993, foi definido que todos os países do continente americano devem utilizar o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS), que tem como objetivo compatibilizar os sistemas geodésicos dos países da América do Sul, promovendo assim a definição e o estabelecimento de um referencial único, com precisão compatível com a tecnologia atual de posicionamento.

Histórico

Considerando a proliferação do uso de equipamentos GPS em levantamentos topográficos e geodésicos, referir esses dados a uma estrutura geodésica antiga, implantada a partir de métodos clássicos como triangulação, poligonação e trilateração, implica em desperdício de recursos. A precisão obtida com estes métodos é muito menor do que a obtida pelas modernas técnicas de posicionamento por satélites.

Além disso, a multiplicidade de sistemas geodésicos clássicos adotados em países sul-americanos dificulta a resolução de problemas simples, como por exemplo a definição correta de fronteiras internacionais.

Com a adoção, pelo Sirgas, da rede internacional terrestre de referência (ITRF na sigla em inglês) como ponto de partida, além de garantir a homogeneização de resultados dentro do continente, torna possível também integrar as redes geodésicas dos demais continentes, contribuindo para o desenvolvimento da geodésia global.

Criado em uma reunião de pesquisadores no Paraguai, o Sirgas adotou como referências o ITRF realizado em 1993 e o elipsóide GRS-80. Foram organizados dois grupos de trabalho, responsáveis pela manutenção da rede de referência e pelo datum geocêntrico. Em 1997 foi criado o terceiro grupo de trabalho, responsável pelo datum vertical. A estrutura do projeto pode ser vizualizada na figura 1.


->Figura 1: Estrutura do projeto Sirgas

Sirgas 1995

Os primeiros resultados do projeto foram apresentados em uma reunião no Rio de Janeiro, em 1997, resultando em uma das redes continentais de referência mais precisas do mundo.

Essa primeira realização foi composta de 58 estações distribuídas pelo continente e observadas com GPS durante o ano de 1995. As coordenadas dessas observações são referidas ao ITRF94 época 1995,4, estabelecendo assim o Sirgas.

Sirgas 2000

No momento da realização 1995 foi criado o grupo de trabalho responsável pela componente altimétrica do sistema, para resolver o complexo problema da altimetria nas redes geodésicas. A realização contou com a presença de representantes da América do Norte, Central e Caribe.

Os sistemas de referência altimétricos são definidos classicamente através de estações maregráficas, geralmente uma para cada país, e materializados através de redes de nivelamento geométrico.

Com o Sirgas 2000, a intenção é que essas redes sejam acompanhadas por levantamentos GPS, e as observações referidas diretamente ao geóide, através do relacionamento das altitudes ortométricas e elipsoidais.

Além das estações maregráficas, também foram ocupados pontos altimétricos próximos às fronteiras dos países da América do Sul, além dos 58 pontos que participaram da campanha Sirgas 1995. No total foram 184 pontos em estudo, que podem ser visualizados na figura 2.


->Figura2: Estações da realização Sirgas 2000

Transição entre sistemas

A adoção do Sirgas foi recomendada na 7ª Conferência Cartográfica Regional das Nações Unidas para as Américas, realizada em Nova Iorque em 2001. A maioria dos países da América do Sul introduziu o Sirgas como sistema de referência nacional.

No Brasil, foi iniciado em outubro de 2000 um projeto para que o Sirgas seja adotado oficialmente na geodésia e na cartografia. Em fevereiro de 2005, com o término do ajustamento da rede planimétrica ao sistema Sirgas 2000 e a sua adoção oficial, o IBGE disponibilizou em seu site as seguintes informações:

• Coordenadas Sirgas 2000 das estações pertencentes à rede planimétrica do Sistema Geodésico Brasileiro;
• Modelo Geoidal – MAPGEO 2004;
• Parâmetros de transformação entre SAD69 e Sirgas 2000.

O sistema de referência mais utilizado até o momento no Brasil, ao qual a maioria dos mapas está referenciado, é o SAD 69. Os parâmetros de transformação entre o SAD 69 e o Sirgas 2000 são:

SAD 69 para Sirgas 2000

a1 = 6.378.160 m
f1 = 1/298,25
a2 = 6.378.137 m
f2 = 1/298,257222101
ΔX = – 67,35 m
ΔY = + 3,88 m
ΔZ = – 38,22 m

Sirgas 2000 para SAD 69

a1 = 6.378.137 m
f1 = 1/298,257222101
a2 = 6.378.160 m
f2 = 1/298,25
ΔX = + 67,35 m
ΔY = – 3,88 m
ΔZ = + 38,22 m

Onde:

• a1, f1 são parâmetros geométricos do elipsóide de origem;
• a2, f2 são parâmetros geométricos do elipsóide de destino;
• ΔX, ΔY, ΔZ são parâmetros de transformação entre os sistemas.

Atualização do Sirgas 2000

A adoção de um sistema geocêntrico baseado no ITRF garante que o sistema estará sempre atualizado, de acordo com as necessidades de posicionamento modernas.

Como atualmente o WGS 84, sistema de referência do GPS, pode ser considerado como coincidente com o Sirgas 2000, os resultados obtidos com GPS estão automaticamente referidos ao Sirgas, sem necessidades de conversões.

+Informações
IBGE – www.ibge.gov.br/sirgas
Página oficial – http://sirgas.igm.gov.ar

Eduardo Freitas Oliveira
Engenheiro cartógrafo
editorial@mundogeo.com