Geoff Zeiss

Zeiss é diretor de tecnologia da Autodesk, com foco em soluções geoespaciais para grandes empresas. Tem 20 anos de experiência na indústria de softwares geoespaciais e há mais de dez trabalha com Tecnologia da Informação ao redor do mundo. Esteve presente no GEOBrasil Summit 2007, realizado em São Paulo, e recebeu a equipe da InfoGNSS para uma entrevista exclusiva.

InfoGNSS: Qual é a novidade das ferramentas de dados geoespaciais?
Geoff Zeiss: Eu diria que a coisa mais importante que está acontecendo na área geoespacial, não apenas nessa área, é o que chamamos de convergência. Estamos falando de convergir arquitetura, engenharia, dados geoespaciais e visualização em 3D, incluindo ambiente de jogos. Essa convergência é vista principalmente na indústria da construção.

IGNSS: Como deve ser o processo para que a convergência torne-se uma realidade?
GZ: Há alguns problemas nisso. Antes de tudo, a mudança global do meio ambiente vai alterar a forma como construímos as coisas. Os edifícios terão que ser ecologicamente corretos, consumir menos combustível e energia. Isso significa que muitos edifícios terão que ser substituídos, pois os atuais são muito caros. O segundo ponto importante é o fato de que a força de trabalho está envelhecendo. Em outras palavras, os funcionários de muitas empresas e órgãos de governo têm mais de 50 anos. Isso faz muita diferença, pois as empresas precisam substituir pessoal rapidamente, o que acarreta em fazer muito mais com menos.

IGNSS: Se esses problemas são inevitáveis, de que forma as empresas e órgãos podem contornar os obstáculos?
GZ: As pessoas estão procurando por novas formas de planejar edifícios e infra-estrutura. Um dos problemas que identificamos são as “ilhas de informação”. O arquiteto utiliza ferramentas de planejamento de arquitetura e armazena o projeto em arquivos de arquitetura. O mesmo acontece com engenheiros e geógrafos. Busca-se então uma forma de melhorar a integração de arquitetura, engenharia, dados geoespaciais e GIS. Uma das formas de fazer isso é através do ambiente de jogos, em que os dados são todos reunidos e visualizados ao mesmo tempo.

IGNSS: Qual é a vantagem disso?
GZ: Isso significa que as pessoas poderão experimentar um edifício ou estrutura antes de construí-la. Se você tiver que fazer alterações após a construção, o custo é muito alto. Então, ter a visão do projeto antes de ser realizado aumenta significativamente a produtividade. Um dos pontos chave que torna isso possível são os Building Information Models (BIM). Eles têm modelos de dados reais, que possibilitam ter todas as janelas, portas, pisos, tetos, etc.. Ou seja, eles têm mais conteúdo e são muito mais ágeis que os modelos tradicionais de CAD.

IGNSS: Os BIMs podem ser utilizados para diversas aplicações. Mas qual é o setor que se beneficia diretamente disso?
GZ: Acredito que a área que tem o maior impacto é a de emergência. Normalmente as equipes de polícia ou de bombeiros vão a edifícios que nunca estiveram antes, ou seja, vão sem informação, porque simplesmente ela está inacessível. Porém, essa informação existe e está disponível, mas está armazenada em papel, em arquivos DWG, de desenhos, objetos, etc.. As equipes de emergência não têm como carregar aplicações de GIS, de arquitetura e engenharia civil. Eles não fazem isso porque, obviamente, não têm tempo.

IGNSS: A parceria da Autodesk com a Oracle é uma forma de tornar esse processo mais ágil e eficiente?
GZ: Todos os projetistas usam as próprias ferramentas de produção e a informação trafega em pedaços de papel. Então, a maneira mais simples de resolver esse problema é usar ferramentas 3D para inserir os dados em um banco Oracle e utilizar a mesma ferramenta na gravação e documentação. As aplicações de GIS têm suporte para Oracle Spatial e é possível compartilhar informação espacial entre ferramentas da Esri, Autodesk, MapInfo, Intergraph. Por isso acredito que a relação da Autodesk com a Oracle é fundamental para melhorar o tráfego de informação.

IGNSS: A Web 2.0 pode ser uma tecnologia fundamental para auxiliar no tráfego de informações?
GZ: Isso nos leva ao que chamamos de “as built”, que vai para o pessoal de gravação que normalmente digitaliza a informação em GIS. E a informação vai para o pessoal em campo. Um dos maiores problemas é que as pessoas que fazem essa operação de “as built” estão envelhecendo e se aposentarão em breve. Então, as pessoas no campo, a maioria, não são incentivadas a atualizar e repassar a informação para o pessoal de documentação. E eles não têm uma maneira eficiente de enviar essa informação para as pessoas que precisam dela na base de dados. É nesse ponto que a Web 2.0 entra e torna isso possível. A tecnologia da Web 2.0 dá suporte para o pessoal em campo, atualizando a base de dados central. E se houver cobertura de rede sem-fio – que está ficando cada vez melhor – significa que o pessoal em campo pode utilizar a tecnologia do MapGuide, por exemplo, para atualizar diretamente a base de dados central. Isso realmente ajuda a resolver o problema.

IGNSS: No Brasil, existe alguma empresa que já organiza o trabalho dessa forma?
GZ: A Telefônica resolveu esse tipo de problema utilizando as tecnologias conjuntas da Autodesk e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações e Tecnologia da Informação (CPqD). Eles resolveram os problemas do “as built” e da atualização a partir do campo. A infra-estrutura de base de dados da Telefônica é a melhor que eu já vi em qualquer companhia de telefonia. Isso significa que quando forem contratados novos funcionários, eles já terão dados acurados na base de dados central.

IGNSS: Esse é um exemplo de que o mercado brasileiro está em desenvolvimento e é importante para a Autodesk?
GZ: Com certeza. Ao redor do mundo, acho, temos 15 milhões de usuários. Temos oito milhões de usuários registrados, e muitos desses estão no Brasil. A realidade é que a maioria dos dados de edifícios, infra-estrutura e estradas são criados em ferramentas de CAD. E a Autodesk é uma personagem importante no mercado de CAD, além de que a empresa está liderando o caminho para os BIMs e às novas tecnologias, especialmente a convergência.