As ferramentas de geotecnologias são uma arma poderosa para o produtor rural conhecer melhor sua realidade e suas possibilidades.
Por José Luis Gaffrée Motta e Luciano Farinha Watzlawick

A agricultura teve seu surgimento há cerca de dez mil anos, quando o homem começou a trabalhar a terra, desenvolvendo ferramentas rústicas, feitas de pedra, madeira, ossos e conchas. O solo era preparado de uma maneira bem rudimentar, muito trabalhosa e demorada. Com o passar do tempo, a ciência evoluiu e começaram a se desenvolver ferramentas mais apropriadas, aumentando com isto a eficiência e a produtividade.

Nos dias atuais, estamos vivenciando a era do conhecimento, da modernidade, da tecnologia, falamos em agricultura de precisão, em geoprocessamento, em planejamento rural. Mas o que é geoprocessamento e qual sua ligação ao planejamento e a agricultura de precisão? Geoprocessamento é a tecnologia que abrange o conjunto de procedimentos de entrada, manipulação e análise de dados espacialmente referenciados.

Planejar adequadamente uma propriedade rural é uma tarefa imprescindível para quem quer usar a terra. Diversas soluções técnicas existem para que se possa conhecer a propriedade como um todo, a fim de não tomar decisões inadequadas. O geoprocessamento associado às técnicas atuais de mapeamento (topografia convencional, utilização de fotografias aéreas, imagens de satélite, GPS – Sistema de Posicionamento Global por Satélite – imagens de vídeo, bem como outras formas de aquisição de dados), torna possível a aquisição de mapas temáticos e a quantificação de áreas, como por exemplo: áreas de agricultura, pastagem, campo nativo, reflorestamentos/florestamentos, florestas nativas (consideradas de preservação permanente), fruticultura, afloramentos rochosos, banhados, áreas sujeitas a alagamento, açudes, barragens, áreas erodidas ou em processos, comprimento de estradas e cercas, áreas degradadas, bem como outras formas de utilização.

Além de ser necessário ter um conhecimento dos recursos naturais (solos, clima, vegetação, recursos hídricos…), da geografia da região (relevo, declividade …), conhecer as características sócio-econômicas também é necessário para que se tenha um embasamento para identificação e utilização sustentada, ou desenvolvimento de determinada atividade apropriada, apontando a área que deva ser trabalhada ou preservada.

Ao considerar todo este volume de dados, torna-se necessária a adoção de técnicas não convencionais para manipulação, planejamento e simulação dos dados, bem como para levantamentos. É neste contexto que o Geoprocessamento e as técnicas de Sensoriamento Remoto (tecnologia que permite a aquisição de informações sobre objetos sem contato físico com eles), apresentam grande potencial de aplicação.
A adoção de um sistema de Geoprocessamento é de suma importância, pois o agricultor poderá associar a seu mapa um banco de dados, sendo este implantado em função da atividade desenvolvida na propriedade, buscando um melhor planejamento para aumentar a produtividade sem aumentar a degradação ambiental. Através do Geoprocessamento pode-se avaliar o potencial de aptidão ou restrição das terras para a agricultura, definindo práticas adequadas de manejo e conservação do solo e da água, considerando e cruzando aspectos diversos sobre o meio ambiente (solos, clima, vegetação nativa e reflorestamentos, recursos hídricos, infra-estrutura).

Para realmente estabelecer aptidões agrícolas, é preciso ter o conhecimento da deficiência de fertilidade, água, oxigenação, impedimento à mecanização e suscetibilidade à erosão. A avaliação do potencial de aptidão das terras através de Geoprocessamento como ferramenta para a espacialização e cruzamento de dados pode ser aplicada ao cálculos de áreas, reduzindo a subjetividade sobre as informações, possuindo rapidez nas operações de cálculos, investimentos, obtenção de mapas atualizados, facilidade de atualização dos dados e diagnósticos realizados.

A aplicação do Geoprocessamento na agricultura vai além da aptidão agrícola. Como exemplo podemos citar Fertilidade de Solos, Mecanização, Potencial para Produtividade, bem como outras aplicações em função da diversidade de temas que abrangem a agricultura.

Com relação à fertilidade dos solos, é possível questionar-se sobre a quantidade de fertilizantes e/ou calcário necessário para a correção, manipulando modelos numéricos de terreno (MNTs – representação digital de um modelo numérico da superfície da terra, obtido a partir de um conjunto de coordenadas (x, y, z) de pontos distribuídos no terreno), conjuntamente com dados de perfis do solo, elaborar mapas de isovalores de pH, teores de nutrientes (N, P, K, …), gerando mapas que ao serem cruzados com mapas de ocupação da terra, apresentarão a distribuição espacial das regiões que necessitam tal correção, bem como da quantidade necessária. A precisão destes resultados depende da base de dados utilizada, bem como de sua confiabilidade.

A utilização inadequada das máquinas agrícolas para a execução de determinados trabalhos, bem como um mau dimensionamento levam o agricultor a subutilizar o maquinário. Na verdade, as ferramentas deveriam ser usadas em função das características do terreno, tais como: tamanho da área, declividade, tipo de relevo, características de solo e a precipitação. Os dados de precipitação são importantes em vários casos. Por exemplo, quando estivermos relacionando o número de dias secos ou chuvosos, onde a precipitação média é inferior a um determinado valor, este valor pode ser espacializado por intermédio de MNTs e organizados e classificados em isolinhas (linha que, num mapa une pontos de igual valor para a representação do atributo estudado). O cruzamento destes planos de informação (planos de solos, relevo, área a ser cultivada e mapas de precipitação), trará informações que definirão o tamanho da máquina em termos de potência, dimensionamento dos implementos agrícolas a serem utilizados e disponibilidade de dias prováveis para realizar determinados trabalhos, sendo estes resultados materializados e espacializados em forma de mapas.

Conhecer a propriedade é fundamental para um melhor aproveitamento da terra.

Para medirmos a produtividade agrícola utilizamos a área plantada versus a produção alcançada. Sabemos que a produção é dependente de fatores de fertilidade, genéticos, de pragas, condições climáticas e doenças. A espacialização destas informações em forma de mapas é muito importante para avaliar temporalmente e espacialmente a produtividade e adaptação de determinada culturas, déficits hídricos em culturas. A partir destes dados podem ser gerados os modelos agroclimáticos, sendo estudadas as variações de temperatura, radiação solar, precipitação, velocidade de ventos, umidade relativa do ar – fatores que podem ser levados em conta para simular a produtividade. Os resultados indicarão quais as regiões mais propícias para o desenvolvimento de determinada cultura, informações estas que irão subsidiar o planejamento agrícola.

As aplicações futuras das técnicas de Geoprocessamento estão ligadas à Agricultura de Precisão, aumentando a eficiência na utilização de insumos e a lucratividade da cultura, auxiliando o produtor na tomada de decisões, diminuindo o impacto ambiental da atividade agrícola, aplicando nas áreas de manejo e conservação do solo; controle e acompanhamento no manejo de pastagens e solos, reflorestamentos; monitoramento de áreas irrigadas, pragas e doenças.

A conclusão de tudo isso é que a implantação de um sistema de Geoprocessamento, associado a um banco de dados que complementa as informações espaciais e tornando os resultados mais precisos (resultando em uma otimização de recursos), torna-se imprescindível para realizar um planejamento adequado.

José Luis Gaffrée Motta e Luciano Farinha Watzlawick são mestrandos em Sensoriamento Remoto Aplicado a Agricultura e Meio Ambiente na UFRGS, e sócios na empresa GEOTEC, que trabalha com geoprocessamento voltado para propriedades rurais.
Contatos: (51) 224-3120, (51) 9956-6066, com José Motta e (55) 226-1307, (55) 971-4735, com Luciano Watzlawick.
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