O aumento das aplicações das geotecnologias no mundo moderno é visível. Agora é o tradicional ramo da agricultura quem está de olho nas ricas informações que as ferramentas de GEO podem oferecer. Neste caso específico, as estrelas são o GPS, o GIS, e o Sensoriamento Remoto.
Por Deise Roza

Entre os significados dados à palavra precisão, no dicionário Michaellis, encontra-se este: Qualidade daquilo que é exato; exatidão. E é isso, a Agricultura de Precisão é uma filosofia de gerenciamento agrícola que parte de informações exatas, precisas, e se completa com decisões exatas.

A Agricultura de Precisão, também chamada de AP, é uma maneira de gerir um campo produtivo metro a metro, levando em conta o fato de que cada pedaço da fazenda tem propriedades diferentes. Hoje, na agricultura tradicional, a mesma quantidade de fertilizante, defensivo, água e outros insumos é utilizada para toda a área, atendendo às necessidades médias, não considerando as necessidades específicas de cada parte do campo. O resultado é que algumas áreas produzem mais e outras menos. O gasto é grande e a produtividade não é uniforme.

Para obter e processar informações precisas sobre cada pedaço da área produtiva as ferramentas são as geotecnologias. É a partir da disseminação dos Sistemas de Informação Geográfica, do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e das técnicas e usos do sensoriamento remoto, que se vislumbra a possibilidade de se mapear ponto a ponto as caraterísticas de um área de lavoura, e agir sobre esta da maneira mais adequada em cada ponto.

Os objetivos principais são a diminuição dos custos da produção, o aumento da lucratividade e produtividade, e a diminuição do impacto ambiental que a agricultura deflagra. Estes benefícios advêm da possibilidade de se fazer a aplicação localizada (ou variável) de insumos. A finalidade da aplicação localizada é "colocar sementes, fertilizantes, corretivos, defensivos agrícolas e outros insumos de forma variável em cada campo, nas razões mais adequadas para a produtividade do solo em cada ponto do mesmo e, portanto, reduzir os custos por unidade de produto produzida", afirma o professor Luiz Balastreire, da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (ESALQ/USP), em texto publicado no boletim informativo da Escola.

Para John Shueller, professor da Universidade da Flórida, que esteve no II Simpósio sobre Agricultura de Precisão da ESALQ/USP, em outubro de 99, além do controle tático, representado pelas aplicações variáveis de insumos, a AP também permite o controle estratégico da fazenda, como a decisão de drenar alguma área, modificar fronteiras do campo ou abandonar áreas precárias. Enfim, um gerenciamento localizado de toda a área. Além disso, a utilização dos conceitos da AP leva a formação de um rico banco de dados sobre a fazenda, com informações que certamente vão agregar valor à propriedade.

Mas, por que tudo isso? Por que não continuar com a velha agricultura tradicional? Provavelmente até o Jeca Tatu hoje saberia que a globalização trouxe muita concorrência para a agricultura brasileira, o que tem obrigado os produtores nacionais a diminuir seus preços e melhorar sua qualidade. Isso, se o objetivo do fazendeiro for o de ter algum lucro com sua produção. Os consultores agrícolas Luiz Vicente Gentil e Silvio M. Ferreira afirmam, num artigo escrito para a revista A Granja de outubro de 99: "precisamos tirar máxima vantagem de cada metro quadrado da fazenda, em cada pé de café, conhecendo a variabilidade de condições (informações que resultam em benefícios)".

As quatro etapas básicas do ciclo da Agricultura de Precisão.

O Ciclo da agricultura de precisão
De acordo com quem atua na área de Agricultura de Precisão o primeiro passo para começar-se a praticá-la é fazer o mapa de produtividade ou mapa da colheita, como também é conhecido. Este mapa é feito através dos dados coletados por colheitadeiras ligadas a um GPS com correção diferencial (DGPS, veja explicação no box, pág. 36), que vai marcando as posições da máquina, e os sensores, que medem a quantidade de grãos colhidos a cada posição. Assim, ela vai medindo a quantidade de produto colhida a cada ponto georreferenciado da lavoura, possibilitando determinar a variabilidade espacial da produção.

Estes dados são transferidos para softwares processadores, que fazem os mapas de quanto cada pedaço da fazenda produziu. Tal mapa é, então, analisado e interpretado. Com o diagnóstico correto das causas da baixa produtividade em algumas regiões do talhão, é que se pode partir para as providências de correção. Esse diagnóstico exige vários conhecimentos de agronomia, pois o mapa representa o efeito combinado de diversas fontes de variabilidade espacial e temporal, como concentração de nutrientes, umidade, doenças, e muitas outras possíveis.

A análise e interpretação dos mapas se torna mais eficiente com a utilização de um GIS, onde podem ser armazenadas e processadas todas as informações disponíveis sobre a fazenda. Os sistemas de informações geográficas fornecem mapas e análises dos vários aspectos da fazenda, do solo e das culturas, enriquecendo os processos de definição de estratégias, dos mapas de aplicação localizada de insumos, e o gerenciamento de forma localizada de toda a propriedade. Dirley Schmidlin, ex-colunista da infoGEO e responsável pelo Sensoriamento Remoto Orbital na Engefoto, escreveu em sua coluna da revista número sete que: "Bases digitais em sistemas de informações geográficas e sensoriamento remoto devem ser o ponto de partida e fazer parte integrante de todo programa de Agricultura de Precisão. Só assim a tecnologia poderá ser aplicada plenamente criando condições para a obtenção de resultados satisfatórios financeiramente".

Além de ser o primeiro passo, o mapa de produtividade é o passo cuja técnica está mais avançada até agora. Hoje, conforme o professor Balastreire afirma, no mesmo texto já citado acima, "o mapeamento da produtividade da cultura é uma das fases da Agricultura de Precisão que apresenta a maior facilidade de execução, devido ao número de pesquisas já realizadas nos países mais desenvolvidos e ao grande número de opções de equipamentos existentes para essa finalidade, principalmente para a cultura de cereais."

Mapa da produtividade do solo.

Outra das etapas da agricultura de precisão é o mapeamento da fertilidade dos solos. Através da coleta e análise de uma ou mais amostras (dependendo do método) de solo por hectare, georeferenciadas com o auxílio do GPS, é possível fazer um mapeamento por nutriente. O mapa indica o teor de cada nutriente no solo em cada ponto deste, permitindo verificar a possibilidade de problemas devido a carência de algum deles, e se é necessário fazer a correção. Uma das vantagens é que, tendo-se o mapa, a correção é feita apenas na quantidade e no local onde é necessária, evitando o desperdício de fertilizantes. A agricultura tradicional faz a análise do solo pela média, colhe um determinado número de amostras, mistura tudo e analisa essa mistura.

A partir da análise dos mapas de produtividade, com mapas de fertilidade (se tiverem sido feitos), mais todas as informações espaciais e temporais georreferenciadas disponíveis, se fazem os mapas de aplicação localizada de insumos. Tais mapas contêm a recomendação de qual insumo aplicar, quanto, e a posição onde fazê-lo. Essa recomendação vai armazenada num cartão magnético, que será lido pelas máquinas e equipamentos de aplicação localizada. Máquinas contam com controladores de aplicação "inteligentes", conectados ao DGPS (GPS com correção diferencial) e capazes de seguir as instruções estabelecidas pelo mapa de aplicação. É possível também fazer o mapa do que está sendo aplicado, para posterior avaliação do desempenho real da aplicação. É só ir registrando as quantidades aplicadas a cada ponto georeferenciado da operação. Os insumos podem ser sementes, pesticidas, fertilizantes (líquidos ou sólidos), corretivos, defensivos agrícolas, e outros. Suas aplicações são feitas com diversos tipos de máquinas diferentes e envolvem diferentes necessidades.

A pulverização para o combate a pragas e doenças, por exemplo, requer formas bem específicas de ação. Segundo Luis Cesar Pio, da HerbiCat (empresa que vende pulverizadores), tende a evoluir muito a utilização de sensoriamento remoto, e de sensores eletrônicos que, acoplados no veículo aplicador de pesticidas, detectam a presença da doença ou erva daninha e fazem a aplicação localizada na hora, em tempo real. Pio afirma que o processo de fazer primeiro o mapeamento de ervas daninhas/doenças, fazer o mapa de aplicação e aplicar vai dar tempo demais para a doença ou erva daninha se alastrar. O que considera válido é fazer o mapa do que está sendo aplicado, para análise posterior.

O GPS também pode ser utilizado em pulverizadores de herbicidas e outros aplicadores para demarcar a faixa tratada e evitar falhas na aplicação ou sobreposição de produtos químicos. Com o auxílio de uma barra de luz o aparelho indica ao operador o trajeto a ser realizado. As principais vantagens são evitar o desperdício e a redução da produtividade, além de permitir a aplicação noturna. Segundo, Gustavo Streiff, Engenheiro Agrônomo da Santiago & Cintra, que tem muito contato com o pessoal de campo, a aplicação utilizando o GPS com barra de luzes traz uma economia de 7% a 10% dos produtos aplicados.

Sensoriamento remoto
O professor da ESALQ/USP, Luis Paulo Molin, explica que o sensoriamento remoto tem aplicação direta no auxílio à identificação da variabilidade espacial e de problemas que possam ser corrigidos ainda durante a safra. "O sensoriamento começa a ser explorado com fotos aéreas, videografia (filmagem aérea, com as cenas trabalhadas individualmente como fotografias) e imagens de satélite. É um campo que ainda vai evoluir muito", afirma. A obtenção de imagens aéreas ou orbitais da plantação permite o acompanhamento da evolução da cultura em tempo real e a correção dos fatores deficientes no instante em que são diagnosticados. Essa correção minimiza a queda da produtividade.

Segundo Jansle Vieira Rocha, coordenador do Grupo de Estudos de Geoprocessamento da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, o sensoriamento remoto por satélite fornece a visão sinóptica (ampla) de uma área e tem custo menor de aquisição dos dados, porém a periodicidade de obtenção das imagens e, o grande intervalo de tempo que ainda transcorre entre a aquisição e a interpretação geram certas dificuldades para o uso da tecnologia. Mas, a entrada no mercado de satélites comerciais de alta-resolução pode modificar isso. Para ele, o uso do sensoriamento remoto orbital é mais apropriado para o monitoramento de grandes áreas, para fins de estimativas e política agrícola.

Já para Agricultura de Precisão, o mais atraente, diz Jansle, pode ser utilizar fotos aéreas ou videografia, pela resolução espacial. "Nesse caso, é importante se obter fotos da faixa do infravermelho próximo", completa. O grupo coordenado por Jansle vem estudando a variabilidade espacial de culturas por meio de sensoriamento remoto não orbital (fotografias aéreas), visando sua aplicação em AP. Eles trabalham em conjunto com uma Universidade da Inglaterra.

Amadurecimento leva tempo
No Brasil, o estágio atual dessa nova filosofia de se fazer agricultura ainda é de muita pesquisa e desenvolvimento, principalmente para a tropicalização da tecnologia, que tem sido trazida em sua maior parte dos Estados Unidos. Há também a questão custo/benefício. A redução de insumos e o aumenta da produtividade e lucratividade precisam compensar os investimentos tecnológicos e os demais custos que acompanham sua implantação.

Luis Vicente e Silvio Marcos, no artigo para a revista A Granja, afirmam que estamos na alvorada de uma grande revolução da agropecuária brasileira. Mas, falam também em 15 a 20 anos como período de maturação completa da tecnologia da Agricultura de Precisão. "Grandes inventos demoram para virar coisas práticas", dizem no texto. Para eles, dentro de três anos, as coisas começarão a amadurecer. O professor Nelson Luis Capelli, da Unicamp, afirma que a pesquisa ainda precisa dar muitas respostas em Agricultura de Precisão. "A tecnologia já existente é grande, mas o ciclo ainda não está completo". Ele, que trabalha no desenvolvimento de máquinas para aplicação variável, diz que não existem ainda todas as máquinas necessárias para se aplicar de maneira variável todos os tipos de insumos, em todas as principais culturas.

O mapa de produtividade também ainda não pode ser feito em todas as culturas. Segundo o professor Luis Paulo Molin, da ESALQ/USP, num sistema de produção de grãos, algodão, ou tubérculos, a tecnologia de confecção do mapa está disponível mas, em outras, como a cana, ainda está em desenvolvimento. E existem também outras dificuldades para a adoção da Agricultura de Precisão no Brasil. Uma delas, como lembra Molin, é o custo dos equipamentos, todos importados, a diversidade de sistemas, com pouca compatibilidade, e a falta de conhecimento conceitual e preparação técnica em todos os níveis da cadeia produtiva. Outra questão é a grande disparidade existente entre as regiões do Brasil. Conforme o Núcleo de Gestão Tecnológica em Agricultura de Precisão, da Embrapa, escreveu para a Folha da Embrapra: "a produtividade em determinadas áreas é acima das melhores médias mundiais, enquanto em outras os produtores sequer conseguem garantir a própria sobrevivência".

DGPS: GPS com correção diferencial
Como o Sistema de Posicionamento Global (GPS) pode ter um erro de até 100 metros na localização geográfica de um ponto, ele precisa ser "corrigido" para ser utilizado em Agricultura de Precisão. A correção diferencial é feita através da medição de pontos já conhecidos utilizando-se um segundo GPS, verificação da diferença apresentada entre a posição real e a medição e subtração dessa diferença do ponto que se está trabalhando. Na Agricultura de Precisão essa correção precisa ser feita em tempo real. Por isso, os sinais informando a diferença de medição são enviados via satélite. Um sistema de GPS com correção diferencial chama-se DGPS.

GPS para direcionamento do trajeto da pulverização.

Equipada com GPS e sensores de peso e umidade de grãos, colheitadeira mede instantâneamente o volume da produção e a posição da máquina durante a colheita.

Panorama do Mercado

As mais conhecidas fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas estão voltadas para a pesquisa e o desenvolvimento da Agricultura de Precisão. Na área de geotecnologias, as fabricantes e fornecedoras de GPS também estão apostando fichas no crescimento deste mercado.

No Brasil, a New Holland, trabalha com a Agricultura de Precisão de maneira experimental. A empresa está investindo em pesquisa para, segundo Davi Lunardi, do setor de Promoção e Desenvolvimento de Vendas, "tropicalizar a tecnologia, conhecer a variabilidade do solo e das culturas brasileiras". Selou parcerias com a ESALQ e a Fundação ABC (no Paraná). No mercado mundial, a empresa tem seu sistema de Agricultura de Precisão a venda. Inclusive, comprou recentemente a Flex Coil (do Canadá), fabricante de pulverizadores e plantadeiras com tecnologia de aplicação variável.

Outra empresa que está pesquisando o funcionamento da Agricultura de Precisão na realidade brasileira é a SLC-John Deere, fabricante de colheitadeiras, plantadeiras e tratores. Ela tem parceria de pesquisa com a Fundação ABC (Paraná) e sementes Selecta (Goiás). Nos EUA, comercializa um sistema de mapeamento da produtividade desde 96, o Green Star. A Deere tem projetos de fazer também sistema para plantio a taxa variável (Seed Star) e pulverizador a taxa variável (Spray Star).

Pulverizador com GPS para demarcar a faixa tratada, da Jacto.

A AGCO-Massey Fergusson iniciou a comercialização do Field Star – seu sistema de Agricultura de Precisão – no Brasil, em abril de 99. Trabalha com o produto, a nível mundial, desde 91. Os softwares de processamento de dados do Field Star, além dos mapas de produtividade e de aplicação, possibilitam fazer também um mapa de lucratividade, bastando adicionar dados relativos a preços e custos. Segundo Werner Santos, gerente de Desenvolvimento de Produto, a Massey já tem colheitadeiras vendidas e operando em fazendas de clientes. Tem também, no Brasil, um projeto experimental de aplicação variável.

Quem também está atuando neste setor é a americana CASE Brasil, fabricante de máquinas para agricultura e construção. Seu sistema chama-se AFS e já está sendo usado, segundo Alexandre Elias, Engenheiro de Aplicação do Produto, por cerca de 12 clientes brasileiros, que fazem com ele o mapeamento da colheita. A CASE está fazendo ainda a demonstração de máquinas para aplicação variável: aplicadores de fertilizantes e pulverizadores controlados por um computador de bordo chamado AIM-Navigation. Em teste no País está um amostrador de solo que, acoplado a um trator e conectado ao GPS, mecaniza a coleta de amostras para o mapa de fertilidade do solo.

A Teejet, fabricante de pulverizadores representada no Brasil pela Herbicat, produz controladores de pulverização para Agricultura de Precisão. Eles podem ser ligados a sensores de fluxo, pressão e velocidade, receptores GPS, computador de bordo (para seguir ou fazer o mapa da aplicação) e até impressora.

A Jacto Máquinas Agrícolas está em fase de teste de um sistema de pulverização para AP. A máquina pode ser ligado a um GPS e aplicar diferentes produtos químicos em diferentes dosagens, seguindo informações de um mapa de aplicação. A "Injeção Direta de Defensivos" permite a injeção direta de agroquímicos líquidos, através de dosadores de altíssima precisão, o que torna desnecessária sua mistura no tanque de água do pulverizador.

A Jacto também utiliza GPS em pulverizadores para a demarcação da faixa tratada. O equipamento, acoplado a uma barra de luz, indica ao operador o trajeto a ser realizado, orientando-o a caminhar paralelamente ao caminho já feito. Além disso, a empresa está fazendo, a nível experimental, o mapeamento da fertilidade do solo. O estudo é feito pela Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, que é parceira da empresa. Segundo Fábio P. Torres, do departamento de Marketing, o objetivo é aprender a lidar com o equipamento e verificar se há mercado para a tecnologia.

Outro fornecedor de equipamentos para AP é a Agrosystem. Vende monitores para plantadeiras (Seed Manager) da Dickey-John que são compatíveis com sistemas GPS, podendo fazer aplicação localizada, ou variável, de sementes. Outro produto de precisão da Agrosystem é o Land Manager, monitor e controlador para pulverizadores, também compatível com GPS para aplicações a taxa variável. A Agrosystem é representante no Brasil da Almaco, que também fabrica máquinas agrícolas para Agricultura de Precisão.

A AP também atrai a atenção dos fabricantes de GPS. A Trimble está fabricando o receptor específico para agricultura, Ag 132, o emissor de barra de luz, Light Bar, e o Trimble AgGPS 170 Field Computer, computador de campo para mapeamento, coleta de pontos, navegação e aplicação variável de produtos. Há também os monitores de produtividade AgLeader YM 2000 e o PF 3000, utilizados para informar os dados relativos à colheita, como produtividade, umidade e peso dos grãos, área colhida, distância percorrida etc.

O perfil do agricultor e a consultoria

Amilcar Centeno, da área de Planejamento de Produto da John Deere, afirma que o fazendeiro que quer fazer Agricultura de Precisão precisa atender a alguns pré-requisitos de gerenciamento. Segundo ele, os itens principais são: gerenciar a fazenda por talhões (unidades menores em que uma fazenda é dividida), conhecer variabilidade da produção e das características entre um canto e outro, ter domínio das técnicas de produção (solos, agronomia, plantas,fertilizantes, pesticidas), ter domínio da informação, ter intimidade com a informática. Outra coisa importante é ter objetivos claros.

"O foco está em reduzir custos e aumentar a lucratividade. Se quiser ter aumento da produtividade pode fazer isso sem AP mas, se quiser ter esse aumento com menos custo e mais lucro, aí precisa da AP", explicou Centeno em sua apresentação no II Simpósio sobre Agricultura de Precisão, na ESALQ, entre 27 e 29 de outubro de 99. Astor Killp, Supervisor de Marketing da AGCO – Massey Fergusson, afirma que a fazenda tem que estar preparada para usar a tecnologia envolvida. O que inclui qualificar a mão-de-obra. Isso porque, para usar os equipamentos envolvidos na Agricultura de Precisão o operador tem que, no mínimo, saber ler, coisa que muitos peões de muitas fazendas brasileiras não sabem.

Um exemplo de fazenda com administração empresarial que está adotando a Agricultura de Precisão é a Fazenda Campo Bom, que fica em Chapadão do Sul (MS). A empresa Reichert Agropecuária é proprietária da Fazenda e comprou este ano cinco colheitadeiras Massey Fergusson com o sistema Field Star instalado e cinco pulverizadores da marca Spray Coupe. Segundo Cacildo Zott, gerente Comercial Administrativo, as colheitadeiras já estão produzindo alguns mapas de produtividade e as aplicadoras vão começar a fazer os testes de aplicação variável ano que vem.

A Campo Bom tem 43 mil hectares (143.000 Km2), 150 funcionários e planta soja, milho, girassol e arroz. Zott conta que a Reichert vem buscando informações sobre AP há dois anos e que todo o planejamento, o fluxograma de trabalho da fazenda foi feito tendo como meta o "refino da operação" através da adoção da tecnologia e a qualificação dos operadores.

O não comprometimento do produtor em se adequar à tecnologia pode resultar num mau aproveitamento do seu potencial. Segundo Luis Cezar Pio, da HerbiCat, que vende pulverizadores, às vezes, há uma grande diferença entre o potencial da tecnologia desenvolvida e o que está sendo realmente utilizado do equipamento. Ele vendeu máquinas que têm controle do fluxo e da pressão da aplicação, e são compatíveis com GPS e computador de bordo (para seguir o mapa de recomendação ou fazer o mapa da aplicação), mas muitos dos que compraram usam seu equipamento para aplicar o herbicida de maneira homogênea, do mesmo jeito que se faz com uma máquina que não tem nenhuma das capacidades citadas.
Como a Agricultura de Precisão requer conhecimentos de agronomia, informática, Geotecnologias e administração ela torna muitas vezes necessário ao fazendeiro contratar uma assessoria, ou consultoria na área. Segundo o Professor da Esalq, José Paulo Molin, os serviços de consultoria são um mercado emergente nos próximos anos, no Brasil. "Precisaremos de profissionais com formação e conhecimentos específicos na área de Agricultura de Precisão".

A operação do equipamento é simplificada, mas requer um mínimo de treinamento da mão-de-obra.

Tudo a pesquisar
Estão atuando no País vários núcleos de pesquisa em Agricultura de Precisão, empresas, consultorias e profissionais da área de GEO ou agricultura. No site da Embrapa Soja (www.cnpso.embrapa.br ) há um levantamento sobre a infra-estrutura da AP no Brasil feito pelo pesquisador da entidade, Cezar de Mello Mesquita. Segundo ele, o documento cobre cerca de 80% de quem está atuando no setor. A Embrapa criou inclusive o Núcleo Estratégico de Agricultura de Precisão (NGT-AP), para promover a pesquisa e a transferência de tecnologia em AP.

Outro centro que está desenvolvendo pesquisa na área é a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz. Ela lançou em 1997 o Projeto AP, que tem várias atividades e projetos de pesquisa com o objetivo maior de avaliar a adaptação da tecnologia às condições brasileiras. A pesquisa vai desde a elaboração e interpretação dos mapas de produtividade e fertilidade, quanto ao desenvolvimento de máquinas para Agricultura de Precisão a baixo custo. O professor da ESALQ, Luiz Balastreire, criou um site na Internet com informações sobre as atividades da Escola na área
de AP. O endereço é:
www.geocities.com/CollegePark/Lounge/6789/LEIA.HTM
O governo definiu em seu Plano Plurianual um programa chamado Agricultura de Precisão. Os objetivos são promover a geração e adaptação de conhecimentos e tecnologias para o desenvolvimento sustentável do agronegócio. O gerente do programa é Evandro Chartuni Mantovani, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. Ele já passou por um período de treinamento em Brasília e afirma que a equipe coordenadora e os projetos a serem apoiados estão sendo definidos neste início de ano.

"Já temos um mapa de quem faz o quê na área, vamos analisar o que já foi desenvolvido e o que ainda falta", disse Mantovani. Segundo ele, o programa pretender unir a pesquisa acadêmica, o setor industrial e o agricultor no desenvolvimento da tecnologia e sua adaptação à realidade brasileira.

Quando tudo estiver mais definido, diz Evandro, faremos a divulgação dos nomes dos responsáveis pelas equipes de coordenação para que recebam a apresentação de projetos. "Todo ano julgaremos e selecionaremos novas propostas de trabalho", garante.

Serviço: Dados de quem contribuiu para a matéria

Prof. Luiz Balastreire/ESALQ – USP
Fone: (19) ii
E-mail: labalast@carpa.ciagri.usp.br

Prof. José Paulo Molin/ESALQ – USP
Fone: (19) 429-4165
Email: jpmolin@carpa.ciagri.usp.br

Luis César Pio/Herbi Cat
Fone: (17) 522-8436
E-mail: herbicat@herbicat.com.br

Davi Lunardi/New Holland
Fone: (41) 341-7235
e-mail: dlunard@newholland.com

Embrapa Soja
Fone: (43) 371-6000
Site: www.cnpso.embrapa.br

Evandro Chartuni Mantovani/Embrapa Milho e Sorgo
Fone: (31) 779-1105
E-mail: evandro@cnpms.embrapa.br

Amilcar Centeno/ SLC-John Deere
Fone: (55) 537-1322
E-mail: CentenoAmilcar@brazil.deere.com

Alexandre Ismael Elias/CASE Brasil
Fone: (15) 982-3178
E-mail: aelias@casecorp.com

Astor Ricardo Kilpp/AGCO-Massey Fergusson
Fone: (51) 462-8321
E-mail:akilpp@agco
Fabio Torres/Jacto
Fone: (14) 452-1811
E-mail: jacto@jacto.com.br

Agrosystem
Fone: (16) 627-5300
Site: http://www.agrosystem.com.br

Luiz V. Gil/Colab. Revista A Granja
Fone: (61) 923-3092
E-mail: gentil@unb.br

Silvio M.Ferraz/ Colab. Revista A Granja
Fone: (62) 987-1038
E-mail: silvio@dgmnet.com.br

Gustavo Streiff/Santiago & Cintra
Fone: (11 543-3433
E-mail: gustavo_streiff@santiagoecintra.com.br

Jansle Vieira Rocha/Unicamp
Fone: (19) 788-1060
E-mail: jansle@agr.unicamp.br

Nelson Luis Capelli/Unicamp
Fone: (19) 788-1052.
E-mail: capelli@agr.unicamp.br

John Shueller/Universidade da Flórida
Fone: 352-392-0828
E-mail: schejk@ufl.edu

Dirley Schmidlin/Engefoto
Fone: (41) 266-7444
E-mail: engefoto@sul.com.br