Frederico Fonseca apresenta uma idéia que está em alta no mundo dos sistemas de informação: para se comunicar é preciso falar a mesma língua

Hoje, vamos falar aqui sobre serviços de localização e a estrutura de informações que está por trás desse tipo de serviço. Esses serviços estão começando a se tornar cada vez mais populares com o aumento do uso de aparelhos portáteis como celulares e poderosas agendas e computadores de mão.
Imagine que você está tentando localizar algum serviço através de seu telefone celular conectado à Internet. Você está com pressa, trabalhando com uma tela muito pequena, e não tem um teclado à sua disposição. Então você precisa de informações bem organizadas e não tem tempo e nem interesse em ficar digitando ou folheando muitos níveis de informação até chegar onde você quer. Uma das soluções para isso é personalizar o seu acesso a estes provedores de serviço de localização. Para isso o provedor precisa falar a mesma língua que você, ou seja, vocês dois precisam compartilhar o mesmo vocabulário. Isso nos leva a uma palavra pouco usada no nosso vocabulário do dia a dia, embora ela certamente esteja presente em nossa mente: a ontologia.

Ontologias estão em alta no mundo dos sistemas de informação atualmente e também em aplicações relacionadas a Internet. Mas o que significa essa palavra complicada? Segundo o Aurélio, ontologia é a ciência que trata do ser enquanto ser, a ciência do que existe. Mas esse é o sentido filosófico da palavra. Essa palavra foi apropriada pela comunidade de Inteligência Artificial com um sentido um pouco diferente. Neste novo sentido, que vem sendo usado na área de sistemas de informação, ontologia representa a visão de mundo de uma determinada comunidade, contém todos os conceitos e significados que servem para descrever o mundo, ou parte dele, visto pelos olhos dessa comunidade. Sendo assim, para os filósofos existe apenas uma ontologia enquanto para os engenheiros de software existem tantas quantas são as diversas comunidades. Nesta coluna trataremos apenas das ontologias segundo o ponto de vista dos engenheiros de software.

A necessidade de se usar ontologias se deu quando do desenvolvimento de programinhas que deveriam interligar duas ou mais aplicações diferentes. Um dos primeiros problemas que surgiram foi a necessidade de se estabelecer um vocabulário comum entre essas aplicações, através do qual esses programinhas poderiam se comunicar. Dessa forma as primeiras ontologias nasceram com o objetivo de criar um gigantesco dicionário onde haveriam as definições de todos os termos mais comuns no mundo. Nessa linha podemos citar a conhecida coletânea Cyc (www.cyc.com) com 40.000 termos. Depois disso, começaram a se desenvolver ontologias mais sofisticadas com o objetivo de descrever as visões de mundo de certas comunidades.

Um dos principais objetivos desses tipos de ontologia é armazenar o conhecimento dessas comunidades. Já que essas ontologias são estruturas sofisticadas, elas contêm não só descrições mas também operações que podem ser aplicadas a essas entidades e também relações entre as diversas entidades componentes das ontologias.

Com relação aos serviços de localização, as ontologias vão funcionar como estruturas integradoras de informações. Esse papel é duplo: primeiro as ontologias vão concatenar as informações que vêm de diversas fontes. Depois esse papel integrador vai funcionar na outra direção na hora de distribuir as informações aos usuários. No primeiro caso, os conceitos bem definidos presentes nas ontologias vão servir para generalizar informações que podem às vezes ser precisas demais para o interesse do usuário. Imagine que você esteja procurando um restaurante, ou melhor, você está procurando um lugar para comer. O papel integrador da ontologia é este, o de integrar em um só lugar todos as informações referentes, em nosso caso, a lanchonetes, cafés, bares e restaurantes, por exemplo.

É interessante que uma das definições do que é uma comunidade de Geoinformação é um grupo de usuários que compartilha a mesma ontologia. Esses grupos de usuários podem ser agrupados em grupos maiores, mais genéricos, que vão ver o mundo através de ontologias mais gerais. Um lugar para comer corresponde a esse nível bem geral enquanto um restaurante de comida japonesa corresponde a um nível mais específico.

Não falamos ainda como essas ontologias podem ser construídas. A idéia é que elas sejam especificadas por especialistas em cada área. Diversas ferramentas para esse desenvolvimento têm sido pesquisadas ultimamente. Uma vez construídas as ontologias, é a vez de grupos de usuários ou prestadores de serviços aderirem a elas. Através dessa adesão voluntária é que a integração de informações pode ser feita. Paralelamente a essa adesão voluntária, uma ação mais dinâmica pode ser feita pelos prestadores de serviços através do uso de ferramentas para associar usuários e fontes de informações a ontologias.

Em resumo, as ontologias, essas estruturas que tentam representar o conhecimento humano, as visões de mundo das diversas comunidades, são um mecanismo fundamental para a integração de informações na Internet. O uso de ontologias vai permitir um acesso mais fácil a informações por parte do usuário e um poder maior de integração por parte dos provedores de informação.

Frederico Fonseca
é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente cursa doutorado na Universidade do Maine. email: fred@spatial.maine.edu