Conferência Orbcomm Solutions 2000 mostra que as aplicações do sistema comercial de satélites de baixa órbita vão muito além do que se pensava.
Por Renato Essenfelder

Este evento marca o início de uma nova Orbcomm". Dessa maneira o vice-presidente executivo de marketing e vendas da Damos SudAmerica (representante da Orbcomm em sete países da América do Sul), Carlos Gastão Xavier Jr., definiu a primeira edição da conferência Orbcomm Solutions. O evento foi realizado no Rio de Janeiro, no período de 25 a 27 do último mês de outubro, e teve como objetivo fomentar o relacionamento entre os parceiros integradores da Damos e levar ao conhecimento do público final o que é e quais são as aplicações práticas do sistema Orbcomm. "O evento é um marco para a Damos no Brasil no sentido de consolidar junto ao nosso mercado outras aplicações dos satélites de baixa órbita que vão além do monitoramento de veículos", explica Xavier.

De fato, durante os três dias de evento no Rio de Janeiro o que se viu foram diversas aplicações variadas, inusitadas até, do sistema Orbcomm. A empresa paulista Planemp, por exemplo, apresentou um projeto piloto executado na cidade de Jacareí (SP) onde o nível de água do reservatório municipal é monitorado via satélite. "Instalamos sensores dentro do reservatório que são capazes de captar e transmitir dados relativos ao nível de água diretamente ao satélite Orbcomm. Quando o nível se torna muito baixo o sensor avisa o satélite, que alerta a central hidráulica via Internet da situação", conta Gilmar Jonas Deghi, gerente de negócios da Planemp.

Já a LEOCell, integradora Orbcomm na África do Sul, expôs seu método de monitoramento de gás propano. A empresa monitora hoje nada menos do que 450 mil pontos de gás propano na África. "O interessante do sistema Orbcomm é que existe um grande potencial de customização dos serviços. O cliente pode escolher, por exemplo, se será notificado via Homepage, Fax ou e-mail sobre as alterações na região monitorada. Além disso, define o intervalo de monitoração dos itens a serem analisados", afirma Osiris Ayala, da LEOCell.

Já na área de navegação satelital, o destaque foi a empresa Marine Systems, que dois anos após a implantação de um sistema via Orbcomm para monitorar a frota pesqueira do Mar Presencial do Chile conseguiu poupar gastos da ordem de U$ 450 mil por parte da frota. "A Orbcomm em 1,5 ano se desenvolveu mais em matéria de produtos e soluções variadas do que o INMARSAT ao longo de vinte anos", defende Pat Wagaman, da Marine Systems.

O Orbcomm Solutions 2000 reuniu, segundo dados oficiais, 76 pessoas no primeiro dia (dedicado apenas aos integradores da tecnologia Orbcomm via Damos no Brasil), outros 292 no dia dedicado ao rastreamento e 286 no último dia, sob o tópico "monitoramento". Na feira estiveram presentes 14 empresas.

De acordo com a gerente de marketing da Damos, Rosangela Nucara, a avaliação do encontro por parte do público e também dos executivos da Orbcomm que estiveram presentes no Rio foi bastante positiva. "Houve uma troca muito grande de informações e conhecimentos entre parceiros e os usuários finais. Algumas parcerias novas, inclusive, foram fechadas no decorrer do evento", conclui ela.

O Futuro "Máquina-Máquina"
A arquitetura do sistema Orbcomm é voltada à máxima automatização do processo de comunicação entre pontos distintos, filosofia que Paul Thomas, vice presidente de marketing da Orbcomm, chama de "comunicação máquina-máquina". "Hoje a maior parte dos processos de comunicação de dados do mundo ainda passa por mãos humanas, o que chamamos de "homem-máquina". Nossas projeções, no entanto, apontam que em 2005 o volume de dados trafegando de "máquina-máquina" no mundo será equivalente ao "homem-máquina", e em 2007 a expectativa é que os processos "máquina-máquina" sejam predominantes", explica Thomas. O executivo lembra ainda que a Orbcomm já investe nesse tipo de processo de automação (com sensores transmitindo informações para satélites que as retransmitem a centrais autônomas de controle na Terra) há dez anos.

O sistema Orbcomm funciona através do envio de dados (geralmente textos curtos) através da Internet. De acordo com Carlos Xavier, dessa forma a comunicação se torna mais barata e simples. A empresa nos Estados Unidos emprega cerca de 240 profissionais nas áreas técnica e comercial, e já investiu 800 milhões de dólares na estruturação do sistema desde sua fundação, em fevereiro de 1990. Hoje a empresa já vendeu aproximadamente 30 mil unidades de monitoração, e em 2001 a companhia espera elevar esse número para 150 mil unidades. Devido aos altos investimentos iniciais, a expectativa é de que a empresa comece a gerar lucro apenas em 2003. O sistema Orbcomm é composto por uma constelação de 30 satélites de baixa órbita (LEO, na sigla em inglês), cada qual com vida útil de aproximadamente oito anos.

O evento ORBCOMM SOLUTIONS 2000, no Rio de Janeiro, reuniu 654 participantes.

No Brasil
No Brasil a representante oficial da Orbcomm, a Damos SudAmerica, iniciou suas operações em novembro de 1997, com sede no Rio de Janeiro. Além do Brasil, a empresa comercializa os sinais Orbcomm também para a Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. Sendo majoritariamente uma empresa do grupo Telecom Italia, a Damos também fornece no Brasil serviços de telecomunicações.

Em 2001 a companhia latino-americana pretende investir R$ 20 milhões para expandir uma nova área de atuação, os serviços de comunicação satelital em banda larga (o sistema Orbcomm é de banda estreita). Para oferecer os serviços de banda larga, a Damos utilizará satélites de empresas em que o grupo Telecom Italia tem participação. A Damos não comercializa os sinais Orbcomm diretamente ao usuário final, mas o faz por intermédio de um de seus 50 integradores na América do Sul, que agregam tecnologia Orbcomm às suas soluções para então comercializá-las. A expectativa de faturamento da Damos para 2001 é de R$ 15 milhões.