Congresso reuniu em outubro a comunidade brasileira de agrimensura e cartografia em Porto Alegre

Por Marjorie Xavier

O Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, recebeu os participantes do XX Congresso Brasileiro de Cartografia, IX Congresso Nacional de Engenharia de Agrimensura, VIII Conferência Íbero-Americana de SIG e Seminário Internacional de Educação, Treinamento, Cooperação Internacional e Transferência de Tecnologia da ISPRS (International Society for Photogrammentry and Remote Sensing). Sob o tema "O Espaço sem Fronteiras", foram seis dias, de 7 a 12 de outubro, em que alguns dos mais expressivos nomes da cartografia nacional – e por que não dizer, internacional – discutiram a importância da informação geográfica nos dias atuais e suas futuras perspectivas.

Um dos assuntos mais discutidos nos corredores do Congresso foram as atribuições profissionais de cartógrafos e agrimensores, principalmente em razão da nova lei 10.267, que trata do registro público de terras. Ficou claro para profissionais das áreas de Engenharia de Agrimensura e Engenharia Cartográfica que deveriam ser eles os responsáveis por esse trabalho. Reivindicam, para tanto, a regulamentação da lei exigindo que o georreferenciamento das terras seja feito por profissional habilitado.

Outra polêmica do Congresso foi justamente a possibilidade da unificação dos currículos de Engenharia Cartográfica e Engenharia de Agrimensura. Com a coordenação do professor doutor Jürgen Philips, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma mesa redonda levantou as conseqüências de uma iniciativa desta natureza. Para uns, as profissões são distintas. Outros, entretanto, só enxergam similaridades no que diz respeito à formação e atribuições profissionais. O problema seria como proceder, no caso da unificação. Ficaria criada uma renovada categoria de profissionais, quem sabe chamados genericamente de engenheiros geógrafos? "Talvez a própria divisão seja um dos motivos para a invasão de profissionais de outras áreas", levantou o professor Philips. O caso dos profissionais formados em Geografia também foi debatido nesta ocasião, não deixando de lado a preocupação com a grade curricular desta ciência. "O ideal seria um só curso, em que nos últimos períodos o aluno pudesse se especializar em uma área", ponderou a professora doutora Ruth Emilia Nogueira Loch, que atua na área de Cadastro Técnico Multifinalitário e Gestão Territorial do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil na UFSC. Outra questão diz respeito à qualidade de ensino nas instituições que hoje oferecem a Engenharia de Agrimensura e Cartográfica. Isto porque alguns profissionais, e em especial os estudantes, temem que os currículos estejam defasados, confrontados com as atuais geotecnologias, que ano a ano se aprimoram e ganham sofisticação. Outra mesa, esta com o tema "As diretrizes curriculares e os novos paradigmas: perspectivas para no ensino da Ciências Cartográficas", abordou justamente a preocupação com a formação dos futuros profissionais. "É preciso critério para colocar em prática um currículo pragmático", resumiu o professor Marcelo Santos, colunista da infoGEO que atualmente reside no Canadá.


Júlio Cézar (FENEA), professora Dariane Rossi, Francisco Bragança e Camilo Martins Gomes

União – No evento, o presidente da Sociedade Brasileira de Cartografia, Camilo José Martins Gomes, enfatizou a importância da união entre os profissionais da área. "Sempre insisti na união entre os nossos diversos segmentos, desde a minha primeira gestão até os dias atuais. A materialização desse Congresso com os agrimensores, com os colegas ibero-americanos, com os nossos colegas da ISPRS, aqui no Brasil, também representado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foi uma materialização concreta daquelas ações que nós havíamos pregado e continuamos pregando. Mas é preciso que todos estejamos unidos, gerando trabalho para os nossos alunos e futuros dirigentes", discursou. A mesma opinião tem Júlio César Martins de Resende, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros Agrimensores (FENEA). "Foi um dos maiores eventos já realizados no país sobre a unificação da Agrimensura e da Cartografia. O sucesso deste acontecimento se deve à coragem, bravura e o desafio da FENEA, SBC e UFRGS, coordenado pelo ilustre professor Francisco Bragança e sua equipe", disse Júlio Cezar, que destaca algumas entre as palestras, cursos, debates e sessões técnicas. "Foram muitos os pontos positivos, mas faço questão de citar a palestra sobre legislação e fiscalização do exercício profissional proferida pelo presidente do CONFEA Wilson Lang; a palestra sobre a valorização da agrimensura nas avaliações e perícias técnicas de engenharia, conduzida pelo deputado federal e engenheiro civil Ronaldo Vasconcelos; e também a mesa sobre registro público de terras coordenada pelo também deputado federal e engenheiro agrimensor Sérgio Barros".


Vencedores do concurso de cartografia para crianças

Participação – Um dos maiores destaques do Congresso de Porto Alegre foi o Concurso de Cartografia para Crianças, que teve mais de seis mil trabalhos inscritos. Buscar "incentivar a expressão criativa e crítica dos alunos a partir da sua percepção sobre o seu país", era um dos objetivos, segundo sua coordenadora, a professora de Geografia Dariane Raifur Rossi. O professor Francisco Carlos Bragança de Souza, da Comissão Organizadora, enfatizou o sucesso do evento, apesar de algumas dificuldades. "Mais de 32 países participaram. A ressaltar que, depois do atentado de 11 de setembro, 135 profissionais do exterior cancelaram as viagens, com medo de viajar. E aproximadamente 350 professores universitários do Brasil não vieram por causa da greve das universidades. E, mesmo assim, foi o maior de todos os congressos. No último congresso tinham 350 inscritos e neste foram 1.380 inscritos. E, ainda, mais de 500 desistências", explicou. Outro destaque do evento de Porto Alegre foi a Feira de Geotecnologias, reunindo estandes de produtos e serviços de suporte ao trabalho de cartografia.

Durante a solenidade de encerramento, foi entregue o Prêmio Ricardo Franco uma medalha de ouro e diploma ao professor Douraci Soares (post-mortem), e para o professor Antonio Maria Tommaselli.

No último dia, ainda aconteceu a Assembléia Plenária da VIII CONFIBSIG e Assembléia Geral da Sociedade Brasileira de Cartografia. Os associados da SBC escolheram Belo Horizonte, em Minas Gerais, como a sede do XXI Congresso Brasileiro de Cartografia e X Congresso Nacional de Engenharia de Agrimensura CONEA, que se realizará em 2003.

Falta de mapeamento
afeta o país
A coordenadora das atividades de treinamento e difusão de conhecimento em tecnologia espacial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Tânia Saussen, comentou a importância do XX Congresso Brasileiro de Cartografia. "O Brasil tem um vazio cartográfico enorme, e o brasileiro não tem o hábito de ler mapas ou placas, que são uma forma de cartografia", lamentou. Para ela, os congressos, além de permitirem a atualização da área científica, são também uma boa oportunidade de mostrar ao público em geral a importância da cartografia em uma sociedade. "Dificilmente vemos um brasileiro, antes de sair de viagem, pegar um mapa e olhar para onde vai", lembrou.

Sobre a Amazônia, Tânia comentou que é um local difícil de ser mapeado, mas ressaltou que os novos satélites e sensores de radar facilitam o trabalho em áreas de grande densidade florestal. "País que não é mapeado não é dono de seu próprio território. Os europeus e os americanos já aprenderam isso e está na hora de aprendermos também", cutucou. Tânia destacou a necessidade de mapeamento constante porque o país não é estático. "As pessoas ocupam territórios e o Brasil muda".