Novos produtos, de hardware e software, desenvolvidos para o geoprocessamento, totalmente voltados para o uso de computadores de bolso

Vivemos uma mudança paradigmática na forma de se coletar dados no campo. Quando se menciona tecnologias como LBS (Location Based Service), Mobile GIS (GIS Móvel), GPS, imaginamos mobilidade e conectividade como requisitos fundamentais. São dois conceitos que embora não sejam novos, aparentemente só atingiram sua maturidade plena agora. Deve-se ter em mente que o computador é parte de sistemas mais complexos que envolvem integrações de tecnologias como: Comunicações com e sem fio, TI, SIG, GPS, entre diversas outras. A perfeita integração destas tecnologias é que ditará a forma de se trabalhar no campo e com geoprocessamento no novo milênio. Vamos nos ater neste texto aos novos e fantásticos recursos disponíveis nos atuais computadores de bolso, focando as aplicações de geoprocessamento.

Histórico

A plataforma PC (Personal Computer) comemorou em 2001 o seu 20º aniversário. Foi no dia 12 de agosto de 1981 que um grupo de executivos da IBM lançou, em uma coletiva de imprensa realizada em Nova Iorque, o IBM Personal Computer, ou PC, como ficou conhecido com o passar do tempo. Existiam outras plataformas de computadores na época, como a da Apple, da Commodore, o TRS-80, o Atari, a da Texas Instruments, entre muitas outros. Mas foi o PC, que por ter sido definido inicialmente pela IBM como uma plataforma aberta, e conseqüentemente fabricado por diversas fábricas, que sobreviveu como padrão nesses últimos vinte anos. A Apple, com seus computadores proprietários, mesmo sempre tendo desempenhado um papel inovador tecnologicamente, hoje possui algo como 5% do mercado de computadores. Estas duas plataformas de hardware, PC e Apple, determinaram um dos maiores debates na comunidade usuária de microinformática, acerca de qual seria a melhor solução. Voltaremos a este assunto mais adiante.

Desde o início da fabricação destes computadores, caracterizou-se a necessidade da conectividade, objetivando a troca de informações e compartilhamento de recursos entre os mesmos. Demostra-se a seguir tal afirmação. Em 1979 foi lançado o primeiro modem e em 1983 a Novell introduzia o sistema operacional de rede Netware. Assim como se desenvolviam novas tecnologias para conectar os computadores ente si, desejava-se torná-los portáteis, introduzindo o conceito de mobilidade. Quanto mais portátil fosse o computador, mais mobilidade o usuário desfrutaria. Logo, em 1981 é lançado o Osborne 1 (que não obteve grande projeção) e em 1983 a Compaq lança seu primeiro computador "portátil" (Compaq Portable), que pesava 12 quilos.

Muito se evoluiu nos últimos anos, principalmente no que diz respeito aos notebooks (também conhecidos por laptops). Hoje se trabalha com o fato de que todos os recursos de hardware e software disponíveis em um desktop estão disponíveis em um notebook com peso da ordem de dois quilos e capacidade de operação com baterias com duração de duas a quatro horas. Algumas empresas como Compaq, Toshiba, IBM, Apple, entre diversas outras se destacam desenvolvendo excelentes produtos nesse segmento. Mas para os trabalhos de campo que as aplicações de geotecnologias exigem, estes notebooks não atendem às necessidades dos operadores. Existem também outras aplicações onde estes computadores podem ser considerados inadequados. É muito peso e pouca autonomia, logo, pouca mobilidade. Até 1994, os equipamentos que dispunham de boa mobilidade não passavam de calculadoras ou agendas eletrônicas turbinadas, incorporando recursos de calendário, agenda, contatos, afazeres (to do), bloco de notas entre outras utilidades. Estes dispositivos eletrônicos ficam também conhecidos pelo nome de PIM (Personal Information Manager ou seja, Gerenciador de Informações Pessoais).

Sempre existiu, portanto, demanda por microcomputadores menores, com maior capacidade de processamento, mais ergonômicos, mais leves, conectados entre si, e com maior autonomia quando em uso com baterias. Seria o computador ideal. Uma das empresas líder no mercado de modems, a USRobotics, detecta esse nicho de mercado e em 1992 funda uma subsidiária de nome Palm Computing, com o objetivo de lançar um produto que atendesse às características descritas acima. O primeiro produto só fica pronto em 1996 com o nome Pilot 5000. Foi o início de uma série de produtos que evoluíram até os dias de hoje com o nome Palm. Deve-se ressaltar que em maio de 1997 a 3Com compra a USRobotics e conseqüentemente a Palm. A Apple foi outra pioneira neste mercado, lançando em 1994 o Newton, produto considerado à frente do seu tempo, e que, por mais que a Apple insistisse em melhorá-lo, acabou por ser descontinuado.

Em 1997 a Microsoft tenta entrar neste mercado, vendendo sistema operacional para microcomputadores portáteis, lançando uma versão reduzida do Windows que denominou de Windows CE. Até esta investida da Microsoft, os produtos existentes utilizavam sistemas operacionais proprietários. Embora possa-se dizer que o Windows, em todos os seus modelos, é um sistema proprietário, é indiscutível que o mesmo também é um padrão de mercado, possuindo historicamente uma parceria de sucesso com o PC e a linha de microprocessadores Intel. Alguns fabricantes de computadores como a HP, a Philips, a Psion, entre outras, resolvem investir na plataforma Windows CE. Surgem os HandheldPC (HPC), também conhecidos como PDA (Personal Digital Assistant). Embora menores que os notebooks, os mesmos ainda não possuem a flexibilidade desejada para trabalhos de campo e acabam tendo aplicação restrita nestas atividades. A Microsoft, vendo que os produtos existentes não estavam competindo em igualdade com a família Palm, reformulou seu projeto de sistema operacional e em conjunto com os fabricantes de hardware Compaq (produtos iPAQ e Aero), HP (produto Jornada 454) e Casio (produtos Casiopéia E125 e EM500), lançam em Nova Iorque, no Grand Central Station, simultaneamente, em abril de 2000, a versão 3.0 do Windows CE, mas chamada pela Microsoft de Windows for Pocket PC. Logo, denominaram esses produtos de PocketPC (PPC). Ver figura 1.


Figura 1 – PPC iPAQ da Compaq

Tem-se agora, duas plataformas competitivas, os Palms (http://www.palm.com ) e os PocketPCs (http://www.microsoft.com/mobile/pocketpc). Os mesmos pesam em torno de 200 gramas, possuem processadores de diversas velocidades (de 20 MHz a plataforma RISC com clocks de até 206 MHz), boa e diversificada capacidade de memória (de 2MB a 600 MB), autonomia de no mínimo oito horas até alguns dias funcionando com baterias (e recarga das mesmas de aproximadamente duas horas), telas coloridas ou monocromáticas sensível ao toque, ergonômicos, e acessórios de fax/modem, placas de rede a cabo ou wireless, acesso à internet, recursos de navegação web e email. Enfim, parece que o objetivo de se ter um computador com alto grau de mobilidade e conectividade foi atingido com os Palms e os PPCs. Agora qual escolher? Veja o próximo tópico.

Palm vs. PocketPC

Nessa comparação, Palm X PocketPC, serão esquecidos os HPC, os PIMs, e os celulares atuais que estão incorporando recursos PIM em suas funções ( inclusive com alguns produtos licenciando a tecnologia Palm ou PPC ). Será feita uma abordagem focada nos produtos da Palm e nos PPCs.

Acredito que ao se discutir a comparação Palm X PPC, se está diante de uma situação semelhante à que se viveu nas últimas duas décadas onde produtos de hardware e software se confrontaram, gerando em determinados casos situações que transcendiam à técnica e recai-se no campo do gosto pessoal. Exemplos não faltam: computadores PC ou Apple, planilhas eletrônicas Lotus 123 ou Excel, processadores RISC ou CISC, sistema operacional DOS ou Windows ou OS/2 ou Unix ou MacOS ou outro qualquer? Enfim, PC de mão Palm ou PPC? Ou quem sabe ainda uma nova plataforma Linux ou QNX? A discussão promete. Nos moldes das citadas. Bem acaloradas e tendenciosas. Serão formados grupos (de fato já existem) que se articularão para defender o seu escolhido, como melhor produto. Aqui, vamos nos ater aos fatos técnicos.

A Palm saiu na frente cronologicamente, mas com uma visão diferenciada à dada aos PPCs. Um Palm, até há mais de um ano, era um produto que estava mais para um PIM (e ainda os fabrica como o modelo m100) do que um PC de mão. Com o lançamento do PPC, a mesma mudou sua política vertiginosamente. Esta afirmação pode ser comprovada num documento que a Palm divulgava na internet intitulado Comparison: Palm Haldhelds vs. Windows CE 3.0. O mesmo não possui data de publicação, mas fica claro que é de antes da data do lançamento do PPC. Nesse documento, a Palm deixa claro que acredita que os usuários desejam um PIM eficiente e faz pouco caso afirmando que "… a Microsoft diz que colocar um PC no seu bolso é uma boa idéia". Diz que o Windows CE é lento, consome muita memória, é complicado e tem um passado de insucesso. Alega ainda que os PPCs são caros e o usuário não está disposto a pagar mais por tela colorida e processador mais veloz, reduzindo a autonomia dos produtos e os tornando mais pesados. Após o lançamento do PPC, a Palm teve que rever seus conceitos, parafraseando uma propaganda atual de automóvel. O PPC não é lento, não é difícil de usar, não é mais caro quando comparados a produtos com os mesmos recursos. O usuário quer sim uma tela colorida (tanto que a Palm lançou recentemente uma versão colorida do seu produto clássico Palm III); a autonomia não prejudica o produto e é compatível com a de um celular digital, por exemplo; O PPC não é pesado (em torno de 200 gramas). Enfim, é um produto competitivo, tanto que imediatamente a Palm lançou o Palm VII, com maior capacidade de processamento, mais memória, enfim, tudo que a mesma criticava no PPC.


Palm V com GPS Magellan Companion

O tempo já nos mostrou que o consumidor sabe escolher o que é melhor para si. Não hesito em afirmar que o usuário deseja sim ter um PC de bolso, com um sistema operacional que ele domine, e com aplicativos que atendam às suas necessidades. O PC de bolso que apresentar o conjunto de aplicações mais consistente sairá vencedor dessa disputa.

A consultoria de tecnologia IDC anunciou em dezembro de 1999 que a Palm detinha 75% do mercado desses dispositivos. Hoje estima-se que o PPC detenha 16,5% do mercado americano (IDC) e 31% do mercado europeu (Context). Ainda não existem estimativas concretas sobre esse mercado no Brasil. Em 22 de maio de 2001 a Microsoft anunciou a marca de 1 milhão de PPCs comercializados. Novamente o IDC estima que em 2004 a tecnologia PPC deterá 40% do mercado mundial. O iPAQ da Compaq, após seu lançamento, entrou para o Guinnes Book como o computador com a melhor relação tamanho, peso e capacidade de processamento. O presidente da Compaq, que detém aproximadamente 25% do mercado de PCs do mundo, anunciou que seu PPC já representa 11% das vendas mundiais da empresa e a estimativa de venda para o ano de 2001 é de US$1 bilhão.


PPC com GPS e Roteamento Urbano

Ressalta-se a seguir alguns pontos técnicos importantes sobre estas plataformas.
Tanto a Palm quanto os PPC possuem sistemas operacionais proprietários, respectivamente o PalmOS (Versão 4.0) produzido pela própria Palm, e o Windows CE (Versão 3.0 e mas recente o Pocket 2002) da Microsoft. Acredito que a Microsoft tenha colocado uma vantagem neste ponto, pois desenvolveu um SDK (Kit de Desenvolvimento de Software) que permite a programação do PPC em Visual C++ e Visual Basic, linguagens consagradas, ambos em versão exclusiva para Windows CE, mas com a mesma interface de programação e boa parte dos recursos disponíveis nessas linguagens para PCs convencionais. O site da Palm não traz nenhuma informação técnica sobre a programação para o PalmOS, e isso é no mínimo estranho. A Palm apenas afirma que existem mais de 55.000 desenvolvedores de aplicativos para sua plataforma, utilizando ou Basic ou C fornecidos pela própria ou por terceiros. Fazendo um exercício de especulação nessa questão, acredito que em breve ouviremos algo como um Delphi para Windows CE e para PalmOS já que a Borland tem demonstrado interesse em expandir as plataformas suportadas por essa linguagem quando lançou o Delphi para Linux.

Continua