A Tecnologia GIS dando suporte ao desenvolvimento da atividade de criação de camarão em cativeiro no Estado da Bahia

A carcinicultura, como é conhecida a atividade de criação de camarão em cativeiro, está em forte crescimento nos estados costeiros do Brasil, prevendo-se para os próximos anos movimento de recursos na ordem de US$ 500 milhões anuais. Em alguns países tais como Equador e Vietnam, problemas ambientais vêm ocorrendo principalmente pelo uso desordenado das áreas de mangues e pela alta concentração de projetos nestas áreas, superando a capacidade de carga destes ecossistemas de características extremamente frágeis.

O Estado da Bahia, através da BAHIAPESCA, empresa pertencente à Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária – SEAGRI, foi o primeiro a iniciar um programa de fomento à carcinicultura com enfoque baseado na sustentabilidade de seus ecossistemas costeiros, onde os manguesais foram definidos como áreas impróprias ao desenvolvimento de projetos.

O uso ou a conservação de qualquer recurso natural exige abordagens e estudos baseados num profundo conhecimento do território. Para atender a esta necessidade, foi desenvolvido um projeto com o objetivo de montar uma base de dados ambientais que facilitasse a gestão territorial ao longo da costa da Bahia, nas áreas propícias à implantação de fazendas de camarão. O projeto, desenvolvido pela GEOEXPLORE Consultoria e Serviços Ltda, empresa especializada em levantamento de recursos naturais e projetos GIS, focou dois aspectos básicos, ou seja, o mapeamento dos ecossistemas associados aos estuários e a montagem de um sistema de informações geográficas onde os dados ambientais possam ser integrados em um ambiente de fácil visualização com recursos avançados de análise.

Base Cartográfica e Mapeamento dos Ecossistemas


Tela do ArcView com alguns temas da base de dados do sistema

A área do projeto estende-se ao longo da costa do Estado da Bahia, principalmente no entorno dos estuários onde as regiões aplainadas ocorrem e o acesso a água salobra é facilitado. A escala definida para o mapeamento foi de 1:100.000. Utilizou-se uma base cartográfica já existente na SEAGRI. Também foram utilizadas bases do IBGE para atualização de informações e registro de imagens.

Ainda na fase de planejamento, alguns princípios básicos foram estabelecidos para o mapeamento e registro das informações, tais como:

 Mapear o território a partir de uma abordagem sistêmica, onde os ecossistemas são delineados, substituindo o enfoque tradicional de mapear os vários temas do território de forma desagregada: solo, vegetação, relevo, entre outros.

 Os mangues foram identificados e mapeados como áreas frágeis e com restrições à implantação de projetos de carcinicultura.

 Descrição das unidades de ecossistemas de forma objetiva, compatível com as estruturas de banco de dados e GIS. Elaborou-se indicadores que permitissem a classificação das unidades de ecossistemas levando-se em consideração a classe de vegetação, a fragilidade e grau de potencial que o ecossistema possui para a implantação de projetos.

Durante o mapeamento foram utilizadas imagens de satélite pré-interpretadas, equipamentos de GPS de navegação e diferencial, perfis ao longo das unidades no entorno dos estuários e sobre-vôo com helicóptero.


Tela do Atlas Digital em GIS com recursos de overview, consulta temática, navegação avançada e outras

Arquitetura do Sistema e Atlas Digital em GIS

A base de dados espacial foi toda estruturada e integrada no software ArcView®. Os dados descritivos foram armazenados em um banco de dados Access. Para facilitar o acesso aos dados em estrutura GIS entre as diversas instituições e a comunidade que lida com a gestão e o fomento da atividade de carcinicultura, foi desenvolvido um visualizador de dados em GIS, com recursos de edição de projetos para visualização de mapas, recursos avançados de navegação, consultas espaciais e do banco de dados, geração de mapas temáticos e impressão de mapas. Neste desenvolvimento foi usado a técnica POO (Programação Orientada a Objeto), juntamente com a biblioteca de objetos MapObjects LT®. O MapObjects LT® é um conjunto de componentes ActiveX com funcionalidades para manipulação de dados geográficos usado por desenvolvedores de aplicativos ESRI.

O GIS e as Mudanças

Hoje, através do sistema GIS, a BAHIAPESCA esta preparada para selecionar, avaliar e fomentar propostas de implantação de novos projetos de carcinicultura, visto que as áreas com potencial estão devidamente mapeadas, quantificadas, e facilmente acessíveis para avaliação no ambiente do GIS. A partir do uso de dados no ambiente do ArcView®, as áreas de projetos podem ser confrontadas com as unidades de conservação da região (APA´s e Parques) e áreas de preservação permanente. Após a análise das condições e restrições ambientais, é possível analisar as diversas regiões quanto aos aspectos de potencial, disponibilidade de infra-estrutura elétrica, proximidade de portos e disponibilidade de mão obra a partir dos dados socioeconômicos dos municípios.

Atualmente, a divulgação dos dados está sendo viabilizada pelo uso do ArcView pelos técnicos da organização e pela utilização do Atlas Digital em GIS das áreas potenciais para Carcinicultura. Desta forma, a partir de uma interface simples e amigável, parceiros e empresários podem acessar os dados georeferenciados da região costeira e fazer análises básicas dos dados. Estão em estudo a definição das próximas etapas de desenvolvimento do projeto, onde prevê-se o mapeamento em escala de detalhe de algumas subregiões, a incorporação de novas funcionalidades, a migração para um banco de dados corporativo e o compartilhamento do sistema através do software servidor de mapas ArcIMS®.


Tela do Atlas Digital em GIS com recursos de overview, consulta temática, navegação avançada e outras

O autor agradece a participação de Maurício Araújo e Gitonilson Tosta da BAHIAPESCA. Mais informações sobre o Projeto Sistema de Informações Georeferenciadas para Fomento a Carcinicultura do Estado da Bahia podem ser adquiridas na própria BAHIAPESCA, pelo tel: (71) 235-6122.

José Cândido Sales é sócio-gerente de GIS e Recursos Naturais da GEOEXPLORE Consultoria e Serviços Ltda. www.geoexplore.com.br