Mestre em Material Science & Engineering pela Universidade Federal de Zurique e MBA pela Universidade Southern California, Hans Hess está na Leica desde 1989. Dez anos depois, tornou-se presidente mundial da empresa. No ano passado, como reconhecimento ao seu trabalho e suporte aos estudos na área de Mensuração e suas realizações industriais para o avanço da Geomática, Hans Hess foi condecorado com o título de doutor honoris causa Business and Industry pela Ferris State University, Michigan, USA. O presidente mundial da Leica estará no GEOBrasil 2002, em São Paulo. Antes de desembarcar no país, ele falou com a Revista infoGEO e adiantou novidades sobre a empresa.

InfoGEO – O que o Sr. pode nos dizer sobre a marca Leica e Leica Geosystems? Como e quando elas foram criadas?

Hans Hess – O nome Leica, originalmente, vem da conjunção dos nomes Leitz Câmera, uma empresa criada em 1913 e que foi a criadora da primeira câmera fotográfica de 35 mm. A partir daí, o nome Leica foi adotado também para outros sistemas ótico-eletrônicos até que em 1990 a empresa suíça Wild Heerbrugg, a empresa alemã Leitz e o grupo anglo-americano Cambridge Instruments e todas as suas subsidiárias se juntaram para tornarem-se o grupo Leica. Com essa junção a Leica tornou-se um sinônimo de liderança e excelência em qualidade também nas áreas de microscopia e Geomática. Em 1996 o grupo Leica dividiu-se em três companhias individuais com o objetivo de atender os diferentes segmentos de mercado com maior eficiência. Desde então a Leica Geosystems vem se desenvolvendo para tornar-se o maior provedor de soluções inovadoras nas mais diversas áreas de aplicações da indústria da Geomática. Em julho de 2000 a Leica Geosystems tornou-se pública com ações na bolsa suíça. Por isso, Leica Geosystems é o nome da nossa empresa. As nossas raízes, de toda maneira, remontam as famosas empresas suíças Wild e Kern, conhecidas pela alta qualidade dos seus equipamentos de topografia e fotogrametria ótico-mecânicos. O nome da empresa mudou mas, na maioria dos países, os canais de distribuição mantiveram-se os mesmos. No Brasil, por exemplo, nós temos cinco representantes oficiais e vários sub-representantes. A maioria deles trabalhando com a Leica Geosystems há muito tempo. Alguns deles por mais de 40 anos, como é o caso da empresa Sinay Neves, de Recife.

InfoGEO – Onde a fábrica está instalada e qual o número de funcionários? É possível quantificar o número de engenheiros cartógrafos (ou similares) e geodesistas que trabalham no grupo Leica Geosystems atualmente?

Hans Hess – A nossa matriz está localizada em Heerbrugg, na Suíça, e possuímos várias filiais, unidades de vendas e representantes individuais em mais de 140 países. No total, a Leica Geosystems possui 2.900 empregados que ajudam os nossos clientes a capturarem, visualizarem e gerenciarem os seus dados espaciais no mundo todo. Desse total, cerca de 1.000 funcionários possuem formação em Topografia, Fotogrametria, Sensoriamento Remoto, GPS, GIS e outras disciplinas da Geomática.

InfoGEO – E a performance financeira da Leica Geosystems?

Hans Hess – A Leica Geosystems teve um bom crescimento durante os últimos cinco anos e, nesse tempo, praticamente dobrou o seu volume de vendas, fechando o ano fiscal de 2002 (que acabou em março/2002) com cerca de 800 milhões de Francos Suíços em vendas. A empresa também aumentou a sua participação no mercado em praticamente todas as linhas de produtos, sendo reconhecida atualmente como a empresa com a maior quantidade de soluções para a maioria das disciplinas da Geomática, passando pela topografia, pela fotogrametria, pelo sensoriamento remoto, pela medição industrial e várias outras aplicações. O lucro da empresa tem aumentado em quantidades ímpares, com exceção do último quarto do nosso ano fiscal. Esse crescimento nos tem permitido investir mais de 10% em desenvolvimentos de novas tecnologias, novos produtos e novas soluções para a indústria da Geomática.

InfoGEO – Quais são os seus clientes internacionais e brasileiros mais importantes?

Hans Hess – Entre a enorme quantidade de clientes da Leica Geosystems, encontramos nomes importantes como a Pasco, no Japão, o Ordnance Survey, na Inglaterra, vários ministérios na China, muitos Departamentos de Transportes, nos EUA, e o Departamento de Topografia da Bavária, na Alemanha. Nós também somos gratos às milhares de companhias médias e pequenas de Mensuração e Construção que nos têm sido leais por muitas décadas. Um exemplo á a empresa PSN Survey, de Noth Sydney, na Austrália, que tem usado os nossos equipamentos para produzir uma das mais modernas aplicações dos Sistemas de Informações Geográficas cadastral. Um outro exemplo é a NASA, onde as estruturas de lançamento, em Cabo Canaveral, são verificadas com os nossos níveis digitais e onde os veículos de transporte da Estação Espacial Internacional são construídos sob o controle dos nossos equipamentos a laser. No Brasil nós somos também gratos por termos servidos empresas importantes tais como a Embraer, a Petrobras, a Itaipu Binacional, a Companhia Vale do Rio Doce, o INCRA, e centenas de outras empresas da área de topografia e mapeamento.

InfoGEO – Qual é a sua fatia de mercado no Brasil e no exterior em relação à concorrência?

Hans Hess – Em todas as nossas linhas de produtos, em todo o mundo, nós estamos em primeiro ou em segundo lugar. Como nós competimos com empresas de vários segmentos, não podemos identificar com facilidade a nossa fatia global de mercado em relação a todas as companhias em todos os segmentos. Mas nós sabemos, com base no nosso crescimento e no lucro dos últimos anos, que nós estamos ganhando cada vez mais mercado e mais clientes estão optando pelas soluções da Leica Geosystems.

InfoGEO – Na área de produtos, qual o diferencial de sua empresa em relação à concorrência?

Hans Hess – A Leica Geosystems é a empresa que oferece a maior quantidade de produtos para a maior quantidade de segmentos na indústria da Geomática. Nas áreas em que nós não desenvolvemos uma posição de liderança por nós mesmos, nos juntamos a pioneiros como a Cyra Technology, para os scanners a laser, a LH Systems, para a fotogrametria, a Erdas, para o sensoriamento remoto e imageamento, e a Laser Alignment, para o controle de máquinas e construção civil.

InfoGEO – Quais são os produtos que a Leica Geosystems oferece além dos GPS e das Estações Totais já conhecidos no Mercado Brasileiro?

Hans Hess – Nós continuamos com a nossa tradição de sermos os pioneiros na transferência da mais moderna tecnologia na área de Mensuração. Nós inventamos o primeiro teodolito ótico-mecânico mundial (Wild T2), em 1923, o primeiro taqueômetro infravermelho (Wild DI10), em 1968, a primeira Estação Total com gravação automática de dados (Wild TC1), em 1978, o primeiro GPS geodésico (WM101), em 1987, e o primeiro nível digital (NA2000) em 1990, para mencionar apenas alguns dos equipamentos de Mensuração mais importantes. O nosso objetivo sempre foi a integração de tecnologias para a eficiência do cliente. Neste início de século, as tecnologias mais promissoras são os scanners a laser 3D, as imagens aéreas digitais, os programas de criação de modelos 3D, o GIS, os sistemas de análises de imagens e os sistemas para o monitoramento de máquinas e de infra-estrutura. Com a aquisição da empresa Cyra Technologies, no ano passado, a Leica Geosystems passou a oferecer também os produtos de varredura 3D a laser associada ao programa de processamento de dados Cyclone. A nossa divisão de GIS & Mapping lançou o primeiro sensor aéreo digital (ADS40), combinado com a mais moderna tecnologia de laser aerotransportado LIDAR (ALS40) e com posicionamento por GPS. Nenhuma outra empresa no mundo tem mais experiência na análise dos dados gerados por esses equipamentos do que a ERDAS ImagineT, através dos programas de processamento de imagens 2D e 3D, bem como pelo programa de fotogrametria SoceSet da LH-Systems. Para a captura de dados GIS, a nossa divisão de GIS & Mapping oferece equipamentos GPS especiais, tais como o GS50 e o GS5+. Conjuntamente com a empresa ESRI e com outros parceiros estratégicos, como a Swedish Lantmäteriet e a AED Graphics and Novalis, nós estamos desenvolvendo recursos para o intercâmbio de dados no campo e a construção de documentos cadastrais. Para os clientes de GIS, nós oferecemos uma gama de equipamentos de coleta de dados GIS-GPS. Além disso tudo, não devemos esquecer também os nossos recursos para o controle de máquinas na construção de estradas, na mineração e na agricultura, através dos programas desenvolvidos pela nossa divisão de Surveying & Engineering. Eu gostaria de mencionar também que nós temos tido grande sucesso com o nosso equipamento para a medição de distâncias a laser (DISTO), desenvolvido e construído para o mercado da construção civil. Como última informação quero enfatizar também a quantidade de produtos inovadores lançados pela Leica Geosystems para os clientes que necessitam medir grandes estruturas, tais como aeronaves, carros e navios, bem como os produtos especiais para o mercado de segurança, tais como os equipamentos de observação para os serviços de inteligência para a polícia e outras aplicações militares.

InfoGEO – Quais são os planos futuros de avanço da Leica Geosystems na área de Mapping e GIS?

Hans Hess – A nossa preocupação tem sido focada na simplificação da aquisição de dados e na tecnologia de edição e visualização em todos os segmentos da Geomática. Nós acreditamos que o mapa do futuro será uma imagem 3D inteligente. Isto já pode ser oferecido atualmente com a nossa gama de produtos para Mapeamento e GIS. Nós estamos focados na integração de todas as tecnologias de maneira que o cliente estará no centro do espaço relacionado com os negócios de tratamento de dados. Como as nossas alianças estratégicas com a Ordnance Survey e com a Pasco mostram, nós estamos desenvolvendo não somente equipamentos e softwares do estado da arte, mas também criando para os nossos clientes e juntamente com eles uma cadeia de valores e soluções. Estes nossos grandes clientes estão surpresos com o ganho de produtividade significativo que eles podem ter com as soluções integradas dos produtos da Leica Geosystems com outros produtos GIS, tal como o ArcInfo.

InfoGEO – De todos os produtos oferecidos pela Leica Geosystems, qual deles é o campeão de vendas?

Hans Hess – Em termos de lucros em dólares, provavelmente são as nossas Estações Totais com capacidade para medições com e sem prisma, seguidas pelo nosso GPS da série System 500.

InfoGEO – A Leica Geosystems prevê algum lançamento para este ano de algum produto e/ou serviço?

Hans Hess – Sim, claro! Nós temos um linha completa de novos equipamentos chegando ao mercado este ano. Mas por motivos estratégicos alguns deles preferimos ainda manter em segredo. Dos produtos que lançaremos este ano posso citar uma nova linha completa de equipamentos a laser para a construção civil, que inclui o laser rotativo Rugby100. Como inovação em termos de níveis digitais, estamos lançando este ano os níveis DNA03 e DNA10, que possuem capacidade para aumentar a velocidade dos trabalhos de campo em cerca de 50%, quando comparados aos níveis mecânicos tradicionais. Os profissionais que trabalham com o monitoramento de estruturas, tais como pontes, taludes de minas e barragens terão a possibilidade de fazê-lo periodicamente e automaticamente usando a nossa versão avançada do sistema de monitoramento GeoMoS. Na área de captura de dados 3D estaremos lançando o software Cyrax Cyclone 3.1 & CloudeWorx, que permite o processamento de grandes quantidades de pontos diretamente no AutoCAD e no MicroStation. Um solução interessante para o armazenamento e o gerenciamento de imagens é a nossa versão do programa GeoVault Data Manager. Os clientes que trabalham com sensoriamento remoto apreciarão a nossa última versão do programa ERDAS Imagine 2-D and 3-D. Na área de medições industriais estamos lançando o Track Laser Leica LR200, que combina as tecnologias laser e radar. No último ano a Leica Geosystems recebeu, juntamente com outras 5 empresas, de um total de 150 empresas, um prêmio da Tectem Benchmark Center pelas suas inovações no processo de gerenciamento. Esse nosso processo de gerenciamento nos tem auxiliado no lançamento de novos produtos e na criação de soluções integradas para os nossos clientes.

InfoGEO – Sabemos que o mercado brasileiro é tímido quando comparado ao dos países europeus e o americano. Na sua opinião, o que falta ao Brasil para que a área de geodésia e agrimensura dê um salto para o futuro?

Hans Hess – A quantidade expressiva de talentos brasileiros certamente saberão responder essa questão melhor do que eu. Mas se olharmos os clientes importantes que temos no Brasil do porte da Embraer e da Petrobras, no campo industrial, do porte da Esteio e da Base Aerofotogrametria e vários outros, na área de mapeamento, bem como do porte da Queiroz Galvão e da Camargo Correa, nas áreas de Mensuração e engenharia, ou da Imagem, na área de projetos cadastrais e GIS, nós podemos concluir que elas estão no nível das mais avançadas empresas internacionais. Os economistas nos dizem sempre que o registro imobiliário com os seus relacionamentos espaciais é um dos pré-requisitos para o desenvolvimento do Brasil, devido ao seu imenso território e as suas fontes de recursos naturais. Por isso, certamente, o Brasil será um dos países que tirará proveito dos novos desenvolvimentos nas soluções GIS. Além disso, devemos também reconhecer, particularmente, o tremendo progresso, nos últimos anos, da educação na área da Geomática e do reconhecimento internacional dos programas de ensino brasileiro, que estão preparando os profissionais para o futuro.

InfoGEO – Na sua avaliação, qual será o futuro do mercado de geoinformação?

Hans Hess – Eu acredito que essa indústria está em franco desenvolvimento. Existe ainda um enorme potencial para a Leica Geosystems aumentar a eficiência dos seus clientes no seu dia a dia. O valor da informação do tempo, da informação do espaço e da localização são os condutores da economia do futuro. Os profissionais da Mensuração estão em excelente posição para tornarem-se os jogadores mais importantes dessa evolução, tanto pela sua capacidade de definir, manter e qualificar os dados, como pela capacidade de torná-los disponíveis, em diferentes formas, para vários outros setores da sociedade. A nossa aliança estratégica com a ESRI nos tem dado o embasamento para enfrentar o futuro com segurança em todas as áreas do nosso campo de atuação. Dependerá da criatividade de cada um a exploração desse potencial crescente.

InfoGEO – Qual o fator mais importante que lhe trouxe ao Brasil, além do GEOBrasil 2002?

Hans Hess – Muitas das nossas idéias e soluções vêm de estudos dos problemas de nossos usuários e de oportunidades potenciais. Sendo um suíço, eu sempre fui impressionado pelas dimensões do seu país e pela criatividade do seu povo. Assim, discutindo com os nossos clientes no Brasil, certamente nos enriquecemos com a combinação de novas idéias e melhorias. Não existe melhor maneira para fazer isso do que encontrá-los pessoalmente, sentar numa mesa de discussão e trocar idéias. Isso não será somente o caso desta conferência, mas também das visitas que farei durante a minha estada no Brasil. A Leica Geosystems está sempre preocupada com os seus clientes brasileiros em todas as áreas de aplicações. As minhas visitas ao Brasil são esporádicas, mesmo porque temos um gerenciamento competente que nos mantém informados sobre todos os acontecimentos importantes do país. Mesmo assim, com a nossa crescente participação no mercado brasileiro espero poder visitar mais vezes o seu belo país.