Editorial
Edição nº26 – 17/12/2002
A nossa esperança com Lula
"Cauteloso, Lula avisa que não fará milagres". Esta é a manchete da Gazeta Mercantil de 29 de outubro de 2002, dia seguinte ao primeiro discurso oficial de Lula após o resultado das eleições. "O povo sabe que aquilo que se desfez ou se deixou de fazer na última década não pode ser resolvido num passe de mágica", afirmou nosso presidente eleito. Apesar de pessoalmente não concordar que o governo FHC foi tão inoperante assim, com certeza a área de mapeamento esteve esquecida.
Estamos muito mal neste quesito, pois não temos uma política cartográfica definida, não temos na prática uma coordenação no processo de retomada de investimentos no setor e, o pior de tudo, não temos nem a quem reclamar. Nossa defasagem cadastral também é enorme, principalmente na área rural, região foco de dois dos maiores desafios que o novo governo terá que superar: ampliação da fronteira agrícola e diminuição dos conflitos sociais no campo.
Lula quer manter a estabilidade econômica e criar muito mais empregos para reduzir a pobreza. Uma boa iniciativa seria voltar seus olhos para tecnologias que possam lhe ajudar a planejar. O que um governo inteligente deve fazer é conhecer o território que vai administrar para decidir como e onde investir.
Lula tem um mandato de 4 anos, com a proposta de mudar a cara do Brasil. Há mais de 30 anos não se investe no país em mapeamento sistemático nas escalas 1:25.000 e 1:50.000. Para mudar a cara, primeiro deve-se conhecer melhor este país. Ouvi do presidente, em sua campanha, duas referências a mapas que me deixaram animado. Quando ele respondeu a uma pergunta sobre como seria sua postura ao discutir com o MST a questão das invasões, ele respondeu: "Quero discutir esta questão com uma mapa na mão direita e na outra a legislação". Na campanha para o segundo turno, ele afirmou que usaria o mapa do resultado das eleições do primeiro turno para orientar sua equipe a concentrar seus esforços e melhorar ainda mais seu desempenho nas urnas.
Em 2002, completei 21 anos de atuação neste mercado. Sei que esta falta de investimentos do governo é antiga. Neste tempo muitos planos foram traçados, mas na prática nada aconteceu. Na verdade temos que começar cobrando da iniciativa privada que faça sua parte e apresente ao novo governo um projeto viável para resolver esta questão.
Estou com esperanças, sim, com o novo governo. Mas assim como Lula acredito que milagres só acontecem não por obra dos poderes da pedra filosofal, mas fruto de um grande esforço maduro e coordenado dos interessados.
Emerson Zanon é engenheiro cartógrafo e editor da infoGEO. emerson@mundogeo.com.br