GeoMarketing – Como construir uma análise perene

Transformação de dados em informação facilita operações de comércio e planejamento

O uso da informação espacial na tomada de decisão empresarial se intensificou nos últimos anos. A utilização de uma ferramenta conhecida como GeoMarketing veio, a partir do uso de mapeamentos temáticos, constituir um diferencial nas operações de comércio e planejamento. Esse diferencial tende a ampliação com o uso de mapeamento nas ações de controle, de modo que o GeoMKT entra na etapa de controle dos ciclos de metodologia de análise e soluções de problemas (MASP).

Construir uma análise demanda certa quantidade de tempo. É necessário prototipar a análise e definir a metodologia a ser empregada. Entre outras, podem ser citadas as seguintes atividades inerentes: definir glossário de variáveis, formulações estatísticas e matemáticas, verificação de mapeamento (granulometria, identificadores e formas).

Essa linha de ação permite elaborar análises garantindo a utilização imediata de ferramentas, dados e mapeamentos adquiridos. Em parte, isto acontece porque os fornecedores preocupam-se em ensinar como explorar de forma rápida os recursos dos softwares GIS. Existe foco sobre a exploração dos dados que, aliados à suposta boa qualidade de mapeamentos para pronta entrega, torna satisfeitas as condições para a confecção de um produto ou análise.

A dificuldade aflora quando torna-se necessário replicar um determinado modelo para medir um resultado tempos depois. O que acontece na prática é que o usuário deparar-se-á com dificuldades técnicas para replicar um projeto.

Não querendo esgotar o assunto de imediato ressalto três dessas dificuldades, que não acontecem nesta ordem, porém estão intrinsecamente ligadas. São elas:

Erros taxonômicos;
Manter a granulometria;
Manter a base de dados.

Erros taxonômicos.

É relativo ao erro de posição. Não é invisível, porém pode não ser notado por requerer do analista avaliar a qualidade do mapa, tanto com relação ao nível que contém a entidade para qual existe informação, quanto à entidade que irá agrupar essa informação em um nível mais alto.

Potencialmente se concentram em entidades limites: segmentos extremos de logradouro, divisas de bairro, divisas de município, etc.. É comum, em função de tal erro, associar-se a uma região, informações que não lhe pertencem. Como exemplo ver a figura a seguir.


Fig. 1 – Os vetores em azul pertencem ao Município "B". É possível notar que estão dentro do limite do município "A". Em uma "query" espacial as informações destes logradouros estariam sendo associadas ao município "A".

Este tipo de erro decorre do processo de formação do mapa. Pode estar associado:
ao método de aquisição (tomada de pontos, vetorização, escanerização, etc.);

– à qualidade da informação de referência (mapas desatualizados, escala incompatível ao uso, etc.);

– à característica do equipamento de produção (baixa quantidade de pixel,s na resolução, falta de aferição, etc.);

– à mão de obra não qualificada.

O principal ponto negativo é a necessidade de se realizar operações com tabelas off line, ou seja, realizar os cruzamentos de dados pela referência tabular ao invés de utilizar a pesquisa espacial ("contida em").

Manter a granulometria.

O termo manter tem grande importância para o geoprocessamento, pois engloba a atividade de editar mapas. Normalmente o termo tem o sentido de garantir o funcionamento de algo que já está em operação, porém manter uma aplicação, projeto ou mapeamento, requer edição de entidades que compõem a base, sejam gráficas ou tabulares. Isso significa incluir, retirar, mover, deslocar, unir e quebrar entidades observando as dificuldades citadas anteriormente (erros taxonômicos).

Para garantir a qualidade no material produzido é necessário que as informações contidas na base de dados (logradouros, "market share", cadastros, etc.) possam ser representadas nos mapas e, dessa forma, na união das bases, tabular e espacial, é necessário que exista alto "match" de resultado (espacialização). A não representação criará viés na análise em função da quantidade de dados que não participaram da amostra.


Fig. 2

Na figura 2 nota-se que o campo "Nome" está apresentando o valor "Sem Nome" como domínio. Em um processo de espacialização, os logradouros em Azul não teriam dados associados.

Uma boa medida para este "match" é a geocodificação. Uma boa geocodificação demonstra que as informações de localização (logradouros e endereços) estão representadas no mapeamento. Para as ausências é imperativo verificar, pois indicam desatualização do cadastro ou do mapa, ou de ambos.

Manter a base de dados.

O usuário deve ter atenção a dois pontos importantes na manutenção da base de dados: manutenção dos IDs e a garantia da fonte de dados.

Os IDs, ou identificadores, representam a chave primária mais comum para realizar a união entre as bases tabular e espacial. É necessário garantir que as operações de manutenção realizadas sobre uma dada feição espacial não comprometam a existência e a qualidade desse atributo.

É comum em operações de uniões de mapeamentos produzir-se automaticamente IDs para as novas entidades criadas; dessa forma, é necessário reproduzir na base tabular essa nova realidade para garantir a correta espacialização do dado. Atentar que na manutenção de uma feição, as entidades afetadas produzirão atualização de suas referências tal qual a operação que foi realizada. Ex: Na inserção de vetor, novo ID será produzido e, dessa forma, deverá ser incluído na base tabular. A recíproca não é verdadeira, pois uma nova referência na base de dados pode ser um erro. Ex: duplicação equivocada de um logradouro ou domicílio.

Para garantir a procedência e a periodicidade do dado e, conseqüentemente, a qualidade da análise, devem ser escolhidas fontes que representem o estado da arte do que se estuda. Deve-se sempre que possível evitar fontes paralelas, tais como planilhas pessoais, extrações de dados sem fonte ou referência de tempo; ou seja, qualquer base que não guarde a referência bibliográfica, o método de coleta e atualidade.

O objetivo final de uma análise de GeoMarketing relaciona-se com a necessidade de explorar os dados de bases tabulares (consumo, clientes, faturamento,etc.) e transformá-los em informação. No momento em que o GeoMKT passa também a ser utilizado como elemento de controle, torna-se obrigatória a possibilidade de recriar uma análise, a qualquer tempo, de forma que possa ser avaliado o planejamento realizado. Não observar essa particularidade frente às dificuldades expostas pode criar um viés no processo de tomada de decisão, inclusive com a perda de confiança na utilização do GeoMKT como elemento de suporte a esse processo.

Orientado pela relação custo x benefício, o usuário deve avaliar as questões apresentadas em função da importância da análise pelos seguintes prismas:

– Gerencial: uso da análise como informação de uso cotidiano, ou seja, não esporádico;

– Tempo: durante quanto tempo a análise norteará o processo de tomada de decisão;

– Repor os dados: qual a dificuldade para obtenção dos dados utilizados na análise.

A avaliação por esses três prismas permitirá ao usuário avaliar a criticidade na realização da análise, aumentando o nível de exigência sobre os itens necessários.

Não se quer dizer que, não guardadas essas diretrizes, as análises serão de baixa qualidade. Pelo contrário, ater-se sobre os problemas citados deve ser cotidianamente praticado pelo usuário. Porém, é possível – tendo uma criticidade – evitar o dissabor de, por exemplo, um "book" gerencial não ser entregue pela desatualização na granulometria ou não ser possível reconstruir as referências tabulares.

Jorge Henrique de Castro.
Mestrando em Engenharia da Computação com ênfase em Geomática pela UERJ
Administrador pleno – Planejamento Estratégico em Gás e Energia da Petrobrás
jorgecastro@petrobras.com.br