Conheça o projeto vencedor da primeira edição do Prêmio AmbienteGIS

As tartarugas marinhas são estudadas e protegidas há 26 anos no Brasil pelo Projeto Tamar/Ibama, co-administrado pela Fundação Pró-Tamar e Ibama/Ministério do Meio Ambiente, com patrocínio nacional da Petrobras.

Cinco espécies de tartarugas marinhas são encontradas ao longo da costa brasileira: couro (Dermochelys coriacea), cabeçuda(Caretta caretta), verde(Chelonia mydas), oliva (Lepidochelys olivacea) e de pente(Eretmochelys imbricata).

Atualmente, um dos problemas de mais difícil solução para a proteção e recuperação das populações de tartarugas marinhas é a mortalidade causada pela captura incidental em atividades pesqueiras, tanto costeiras quanto oceânicas. Em 1990, a captura incidental nas diversas artes de pesca já era considerada a maior causa antrópica de mortes de tartarugas marinhas (National Research Council, 1990).

Esta interação provoca a mortalidade de um número considerável de tartarugas e prejuízos para a pesca, em função da queda da produtividade em relação às espécies-alvo e avarias nos petrechos afetados.

No final de 2001, foi iniciado o Programa Nacional para a Redução da Captura Incidental de Tartarugas Marinhas pela Atividade Pesqueira – Tamar/Pesca.

Para iniciar o monitoramento, o Projeto Tamar/Ibama elegeu como prioritárias algumas pescarias que potencialmente capturam tartarugas marinhas. Dentre elas destacam-se o espinhel pelágico de superfície e a rede de emalhe de deriva, como as pescarias oceânicas (realizadas em alto mar) que mais capturam tartarugas marinhas.


Fig. 1 – Representação dos lançamentos de espinhel pelágico e rede de emalhe de deriva através de pontos.

O geoposicionamento das informações coletadas pelo Tamar sempre teve extrema importância para o estudo e conservação das espécies de tartarugas marinhas, uma vez que se trata de um animal altamente migratório.

Os dados provenientes das áreas de reprodução estão sempre que possível relacionados a uma praia e local específico, que são visitados e caracterizados pelas equipes do Projeto que atuam no local.

Porém, os dados provenientes dos cruzeiros de pesca oceânica – especificamente a pesca comercial com espinhel pelágico ou rede de emalhe de deriva, são georreferenciados através de pares de coordenadas geográficas, que identificam os pontos de início e fim de cada um dos lançamentos e recolhimentos das pescarias.

De posse desses dados, o Tamar/Ibama identificou a necessidade de visualizar espacialmente a localização das informações, a fim de caracterizar as áreas para um melhor entendimento dessa interação pesca/tartarugas marinhas e a posterior tomada de decisões. Por serem áreas de difícil acesso, mesmo que se esteja no local, as altas profundidades não permitem a sua caracterização visual.

Dessa forma, o cruzamento dessas informações com bases cartográficas da região foi extremamente necessário para o mapeamento das áreas de interação das tartarugas marinhas com a pesca comercial ao longo da costa brasileira.

No início das atividades do Programa Tamar/Pesca foi feito um levantamento de possíveis parceiros para a coleta de dados referentes às pescarias oceânicas. A partir das planilhas de bordo (formulários em papel utilizados por observadores de bordo para coleta de informações) utilizadas pelas instituições parceiras, foram elaboradas planilhas para amostragem dos dados biológicos e abióticos a bordo dos cruzeiros de pesca oceânica.

A partir dessas planilhas foi desenvolvido um banco de dados utilizando o Microsoft Access, onde estão sendo armazenados os dados coletados.

Normalmente esses cruzeiros cruzam boa parte do Atlântico Sul, realizando vários lances em diferentes regiões. Depois de lançado ao mar, o petrecho de pesca fica em média 12 horas à deriva, até ser recolhido, normalmente em um ponto bem distinto de onde foi lançado.

Por isso, é fundamental o preenchimento do campo referente ao par de coordenadas geográficas para início e fim do lance e do recolhimento. Isso é facilitado pelo fato das embarcações serem todas equipadas com sistema GPS.


Fig. 2 – Representação dos lançamentos e recolhimentos de espinhel pelágico e rede de emalhe de deriva através de linhas.

Foram formados grupos de observadores de bordo que receberam treinamento específico para o preenchimento das planilhas elaboradas pelo Tamar. Em 2003, foi adquirida uma licença do software ArcView da ESRI, específico para trabalhos com sistemas de informação geográfica. Utilizando o ArcView, foi possível plotagem dos pontos coletados em campo, cruzando com a base cartográfica do oceano Atlântico Sul. Foi utilizado um Personal Geodatabase modelado a partir do Access.


Fig. 3 – Esquema da pescaria do espinhel pelágico

Foram adotadas duas formas de representação geográfica dos dados de lançamento e recolhimento: uma através de pontos, onde eram representados apenas o início do lançamento (fig. 1); e outra através de linhas (fig. 2), representando início e fim do lance e do recolhimento em linhas distintas.

Por se tratarem de artes de pesca de grande extensão e derivação entre o ponto de lançamento e o final do recolhimento, a representação em forma de linhas é bem interessante.

Em um único lance de espinhel pelágico podem ser utilizados 60 km de linha principal, com 1.200 anzóis distribuídos em sua extensão (fig. 3 – esquema do espinhel).

Depois de representados os lançamentos e recolhimentos no ArcView, foram adicionados outros layers, representando o grid de latitude e longitude divididos em 5 x 5 graus, batimetria do Atlântico Sul, continente, zona exclusiva das 12 milhas náuticas, zona econômica exclusiva (200 milhas), plataforma continental, ilhas oceânicas, áreas de monitoramento de cada Regional do Tamar, dentre outros layers que se fizeram necessários ao longo das análises, formando assim a Base Cartográfica do Sistema de Informação Geográfica do Programa Tamar/Pesca (fig. 4).


Fig. 4 – Elaboração de mapa base para área de interação de tartarugas marinhas com atividade pesqueira.

Após a elaboração do mapa base e a disposição dos dados coletados nos cruzeiros de pesca, tornou-se possível a realização de diversas análises espaciais, além da confecção de mapas ilustrativos (fig.5).

Dentre as análises, destacam-se: a quantidade de pontos de lançamentos de espinhel e rede de deriva em cada quadrante de 5 graus de longitude por 5 graus de latitude; o esforço de pesca, mensurado através do número de anzóis lançados ao mar, por quadrante de 5 graus; e o número de captura incidental de tartarugas marinhas por quadrante de 5 graus.


Fig. 5 – Mapa de interação das tartarugas marinhas com a pescaria do espinhel pelágico.

A partir dessas análises foram criados novos layers em formato shapefile, para representar, através de polígonos, algumas áreas prioritárias para a conservação das tartarugas marinhas.

Com isso, o Programa Tamar/Pesca vem intensificando os esforços no monitoramento de cruzeiros de pesca que atuam nas áreas mapeadas.Foram identificadas importantes áreas de concentração de captura incidental de tartarugas marinhas pelas pescarias do espinhel pelágico e da rede de emalhe de deriva, que puderam ser caracterizadas através das cartas náuticas e dos shapes de batimetria.

A utilização da ferramenta de GIS possibilitou uma melhor caracterização e conhecimento das áreas de estudo, facilitando as tomadas de decisão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Marcovaldi, M.A., and dei Marcovaldi, G.G. 1999. Marine turtles of Brazil: the history and structure of Projeto Tamar-Ibama. Biological Conservation 91, 35-41.

MARCOVALDI, M. A., J. C. THOMÉ, G. SALES, A. C. COELHO, B. GALLO, AND C. BELLINI. 2002. Brazilian plan for reduction of incidental sea turtle capture in fisheries. Marine Turtle Newsletter 96: 24-25.

SALES, G; GIFFONI, B.B; MAURUTTO, G 2003. Captura incidental de tartarugas marinhas pela frota de rede de emalhe de deriva, sediada em Ubatuba – SP – Brazil. Libro de resúmenes de la II Jornada de Conservación e uso sustentable de la fauna marina / I Reunión sobre la investigación y conservación de las tortugas marinas del Atlántico Sur Occidental. p. 65. Montevideo, Uruguay 1 al 3 de octubre de 2003.

BARATA, P. C. R., B. M. G. GALLO, S. DOS SANTOS, V. G. AZEVEDO, AND J. E. KOTAS. 1998. Captura acidental da tartaruga marinha Caretta caretta (Linnaeus, 1758) na pesca de espinhel de superfície na ZEE brasileira e em águas internacionais. In Resumos Expandidos da XI Semana Nacional de Oceanografia, Rio Grande, RS, outubro de 1998, p. 579-581. Editora Universitária – UFPel, Pelotas, RS, Brazil.

ESRI – ArcGIS Desktop Tutorial Data.

ESRI – ArcGIS Desktop Help.

Bruno Giffoni
bruno@tamar.org.br
Biólogo

Gilberto Sales
gilsales@tamar.org.br
Oceanógrafo

Guilherme Maurutto
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Analista de sistemas

Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas – Projeto Tamar/Ibama